Tecnología

“Silent Hills” É a Prova de que Japoneses Não Ligam Mais Para Games Ambiciosos

Na semana passada, a Konami confirmou que Silent Hills, um de seus jogos mais ambiciosos dos últimos anos, foi cancelado. Até mesmo PT, seu aclamado teaser jogável, está sendo retirado das lojas digitais. A empresa afirmou estar comprometida com o desenvolvimento de novos títulos da série Silent Hill, mas o anúncio veio depois de uma série de revelações baixo astral, incluindo aí o fato da Konami ter se retirado da Bolsa de Valores de Nova York.

Não é exagero dizer que a Konami perdeu o interesse por franquias caras, gigantescas e com décadas de história como Metal Gear, Silent Hill e Castlevania.

Videos by VICE

O mês passado contou com outro capítulo dessa queda dos games ostentação: os fãs de Hideo Kojima, criador da série Metal Gear Solid e a maior estrela da Konami, ficaram preocupados se o ídolo continuaria na empresa depois da conclusão de Metal Gear Solid V: The Phantom Pain. A polêmica começou quando seu nome foi removido dos materiais promocionais do game e aparentemente da lista de executivos da Konami também.

Diversas declarações da Konami não esclareceram o ocorrido. A companhia afirmou que Kojima terminaria seu trabalho em The Phantom Pain e que estava em busca de profissionais para futuros jogos da série Metal Gear, mas não confirmou sua saída. Alguns fanáticos por Metal Gear consideravam a suposta expulsão de Kojima como parte do bizarro marketing da série, porém alguns destes fãs também acreditavam que o cirurgião responsável pelo primeiro transplante de cabeça da história estava envolvido com a promoção do game, então, amigo, tire suas conclusões.

Kojima também estava envolvido na criação de Silent Hills ao lado do diretor de cinema Guillermo del Toro e do ator de The Walking Dead Norman Reedus, o arqueiro do cabelo impecável durante confrontos sangrentos com zumbis. Sim, seria uma baita produção. Mas não mais.

A crise pode ser mais funda do que parece. Até mesmo a versão anual de Pro Evolution Soccer da Konami não foi confirmada ainda para este ano, tornando The Phantom Pain seu único lançamento para consoles até o momento. São desdobramentos que revelam mudanças gigantescas na indústria e público de games no Japão.

Games não são o único investimento da Konami. A empresa também tem academias de ginástica e fabrica pachinkos (uma mistura de pinball com jogo de azar). Ainda assim, os games são a maior aposta da companhia – e também a mais arriscada. Os relatórios financeiros recentes da empresa nipônica mostram que seus games, embora tenham crescido no setor mobile, perderam boa parte do mercado enquanto o lucro com pachinko quase dobrou.

É revelador que a Konami tenha, segundo seus relatórios financeiros, obtido mais grana com jogos para dispositivos móveis do que os títulos para PCs e consoles.

Muitos dos problemas no Japão não são exclusividade da indústria de games. A população japonesa declina com algumas estimativas de que o país pode diminuir em um quarto já nesta geração. Um país com o dobro de pessoas com 65 anos ou mais em relação à crianças abaixo dos 15 é algo que pesa para muitos setores econômicos e, claro, é especialmente ruim para os games. (Não vemos muito vovôs entusiastas por caçar monstros virtuais, convenhamos.)

A base doméstica ao longo da história apoiou games japoneses de vanguarda, que levam sua mitologia para o estrangeiro ou alcançam status de cult, como no caso de Dark Souls ou Persona. Hoje temos games que ainda vendem bem no Japão, mas são poucos: Pokémon, Monster Hunter, Yokai Watch e Puzzle & Dragons. Todos são focados em colecionar ou forçar monstros a lutarem uns contra os outros, disponíveis em plataformas portáteis e com apelo para os mais jovens. Os gamers japoneses são conhecidos por seu nível de exigência, mas não tanto quanto hoje. As vendas de consoles e jogos para estes tem caído cada vez mais.

Isso que estamos vendo agora pode ser a primeira empresa de games deixando de investir em jogos AAA (caríssimos, com promessa de abalar o mercado) para buscar mercados mais estáveis como os jogos mobile, academias e pachinko. Até mesmo a Nintendo passou a fazer jogos para celular com o encolhimento dos games para consoles.

Fãs mais velhos podem achar que o cancelamento de Silent Hills e a possível partida de Kojima são uma tragédia, mas, para a Konami, demitir um designer lendário que sonha com jogos para consoles enormes, ambiciosos e arriscados, pode ser uma boa decisão de negócios.

Tradução: Thiago “Índio” Silva

Thank for your puchase!
You have successfully purchased.