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Sonda solar da NASA encontrou coisas perto do Sol que não podemos explicar

Il Sole. Immagine: NASA/SDO

O objeto mais rápido já criado por humanos descobriu ondas intensamente energéticas dentro do nosso Sol, e detectou velocidades de ondas solares além do que qualquer modelo tinha previsto. Nenhuma dessas descobertas era esperada, ou pode ser facilmente explicada, sugerindo que há vácuos significativos no nosso entendimento do Sol.

O Sonda Solar Parker da NASA, lançada em 2018, viajou mais perto do sol que qualquer outra missão anterior por vários dias em novembro passado e abril de 2019. Cientistas revelaram as incríveis descobertas desse primeiros encontros da espaçonave em quatro artigos publicados na Nature na quarta-feira passada.

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Apesar de o Sol ser o centro do nosso sistema solar e sua radiação alimentar a vida na Terra, ele é um dos objetos mais inexplorados do espaço por causa de seu calor e radiação intensos.

“É muito emocionante”, disse Justin Kasper, autor líder de um dos estudos e professor de ciências espaciais da Universidade do Michigan, por telefone. “É uma exploração de ponta.”

Durante os dois encontros, a Parker viajou dentro de 24 milhões de quilômetros da superfície do Sol, superando em muito o recorde de 40 milhões estabelecido pela missão Helios 2 da NASA de 1976. A Parker também tomou o título de objeto feito por humanos mais rápido da história da Helios 2, surfando perto do Sol a 246 mil quilômetros por hora.

Numa descoberta surpreendente, a Parker detectou novos fenômenos dentro de um quarto de uma unidade astronômica (AU), a distância entre a Terra e o Sol, da superfície solar. Nessa distância, a sonda registrou que o vento solar, que é um fluxo de partículas carregadas emitidas pelo Sol, estava rotacionando ao redor da estrela em velocidades muito maiores do que modelos tinham estimado.

“Para nossa grande surpresa”, disse Kasper, “quando chegamos na nossa abordagem mais próxima, [o vento solar] estava fluindo entre 25 e 50 quilômetros por segundo ao redor do Sol. Isso é tipo 15 a 25 vezes mais rápido dos que os modelos padrão previam, então estamos perdendo algo fundamental em nossos modelos padrão do Sol – como ele rotaciona e como os ventos escapam – o que é realmente interessante”.

A Parker também foi atingida por uma série de “ondas Alfven” extraordinariamente intensas no vento solar. Missões interplanetárias já tinha observado ondas Alfven menos energéticas, que são ondulações que fluem através de plasma magnetizados do Sol. Mas a Parker foi a primeira a detectar as “ondas gigantes insanas” perto da nossa estrela.

“Às vezes, repentinamente em segundos, a velocidade do vento solar pulava para cerca de 483 mil quilômetros por hora”, explicou Kasper. “Aí, por segundos ou centenas de segundos, a espaçonave era lavada por esses picos na velocidade do vento, e depois os picos acabavam tão repentinamente quanto começaram.”

Esses picos são tão violentos que distorcem o campo magnético quando passam por ele. “Isso te dá uma noção de quanta energia há nessas ondas insanas comparado com ondas Alfven regulares que vimos antes”, disse Kasper.

Apesar de o mecanismo por trás dessas ondas ainda ser desconhecido, a simples força deles pode ajudar a responder dois dos mistérios mais persistentes sobre o Sol: Por que a corona solar, ou atmosfera do Sol, é cerca de mil vezes mais quentes que sua superfície? E por que esses ventos solares de repente aceleram para velocidades supersônicas a uma certa distância do Sol?

Cientistas suspeitam que um processo enigmático joga calor e energia na corona solar. As ondas insanas recém-detectadas podem ser uma parte dessa dinâmica.

“Estávamos procurando por baldes de energia quando chegamos perto do Sol, e estamos vendo alguns baldes muito grandes passando, então isso é bom”, disse Kasper. “Em nossas análises iniciais, elas definitivamente estão carregando muita energia, então são muito promissoras como fonte de energia.”

“Não estou dizendo que resolvemos o mistério, mas temos alguns resultados muito surpreendentes para abrir caminho para fechar essa questão”, ele acrescentou.

Os novos dados da Parker desafiam suposições antigas sobre o Sol, o que vai levar a modelos melhores de tempestades solares que podem afetar a Terra, além da evolução de estrelas pelo universo. Além disso, a missão só está começando.

“Estamos ficando sem território inexplorado agora”, disse Kasper.

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