Amor é o tema principal da maioria dos livros, músicas e filmes. É complicado, estranho, divertido e horrível, então é uma boa inspiração mesmo. Por isso não é surpresa quando um novo talento acaba topando com o amor quando está buscando novas histórias. É o caso do jovem cineasta Michael Lukk Litwak, que assumiu a difícil tarefa de destilar todo o absurdo e paixão do amor em dez minutos, em seu filme-tese de graduação para a NYU.
E como Litwak faz isso? Se eu disser que é com ajuda de tubarões gigantes pré-históricos, submarinos-espaçonaves e tiranossauros com lasers faria sentido? Provavelmente não. Mas o amor também não faz. O filme de Litwak é deliciosamente teatral e ganha pontos pelo figurino exagerado, adereços de cena fantásticos, uma trilha sonora operística e diálogos propositalmente inexpressivos. O filme é imperfeito, como o primeiro amor – mas como o seu primeiro amor, você vai lembrar dele com carinho.
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Abaixo do filme, leia minha entrevista com Litwak. Recomendo visitar o site do Michael e assistir as cenas dos bastidores também. Mais de 100 estudantes trabalharam no curta. Uma loucura.
VICE: Oi, Michael. Você é um romântico?
Michael Lukk Litwak: Sim, é uma benção e uma maldição.
Seu filme causa o mesmo tipo de assombro que o coletivo Court 13 conjura nos trabalhos deles. Os filmes deles, como Death to the Tinman e Indomável Sonhadora foram influências para você?
Lembro de ter assistido Death to the Tinman quando era calouro na NYU e ficar impressionado com a energia e a vibração do filme. Mas logo vi muita gente tentando imitar isso. Fiz um esforço consciente para que meu filme fosse diferente, mas essa impressão, que é inerente a todos os meus filmes favoritos, ainda aparece. Acho que esses dois filmes são inspiradores porque contam ótimas histórias, e fazem isso de maneira simples e com um baixo orçamento, que é o que todo cineasta quer.
Você pode falar um pouco sobre seu processo?
É algo que está constantemente evoluindo, mas geralmente começo com uma experiência emocional e depois me faço uma série de perguntas: “Que tipo de experiência quero compartilhar com o público? Que justaposições e contradições estou tentando explorar? Como digo o que quero dizer sem ser didático ou simplista? Quais são os diferentes ângulos temáticos que precisam estar lá para representar plenamente a experiência emocional?” Começo num nível emocional, mas também tento manter sempre em mente: “Tenho acesso a quais recursos? O que sei que posso fazer com o dinheiro e as outras limitações que tenho?”
Para esse filme, eu sabia que queria a dualidade do amor e dos relacionamentos longos, como eles podem ser emocionantes e divertidos, mas também chatos e frustrantes. Ao mesmo tempo, eu sabia que tinha acesso ao estúdio da NYU, e eu já tinha construído alguns cenários de papelão antes, então pensei: Usando o que tenho, como contar a história que quero contar? E deixei isso rolando na minha mente a partir daí. Muita escrita e reescrita, teste de diferentes elementos e adaptação das circunstâncias para conseguir o melhor material dos meus colaboradores.
A trilha de Dan Romer para Indomável Sonhadora é absolutamente inebriante – cheio de crescendos, palmas e instrumentos de sopro. Como você conseguiu que ele trabalhasse no seu filme?
Na noite antes do meu aniversário, meu amigo que era o compositor teve que largar o projeto por obrigações anteriores. Pensei em quem tinha feito minhas trilhas sonoras favoritas, pensei “foda-se” e mandei um e-mail para o empresário do Dan. Eu não disse que era estudante. Literalmente 15 minutos depois, Dan me ligou e disse: “Quem é você? Adorei o seu filme!” Foi surreal.
Expliquei minha visão do projeto, ele ficou empolgado e eventualmente concordou em fazer a trilha. Dan é uma das pessoas mais talentosas que já conheci – ele é despretensioso, gentil, generoso e se tornou um amigo próximo. Ele podia muito bem ter me ignorado, mas em vez disso escolheu acreditar em mim. Sempre serei grato por isso. Acho que ele viu uma tela onde poderia fazer o que quisesse. Ele quis fazer uma trilha que parecesse uma combinação de Velho Oeste e música folk do Leste Europeu, mas com um fundo de música clássica minimalista, e trabalhamos juntos por duas semanas para chegar a algo de que nos orgulhamos.
Qual foi a parte mais difícil de fazer The Life and Death of Tommy Chaos and Stacey Danger? Vocês tiveram algum grande problema?
Foi um processo enorme, mas fizemos isso passo a passo. Descobrir como fazer os dinossauros e os modelos foi difícil, eu nunca tinha feito isso antes, mas quando encontramos as pessoas certas, tudo se encaixou. O maior problema que tivemos foi uma trincheira de isopor e gesso que construímos no meu quintal e planejávamos levar para o estúdio da NYU, mas chegando lá, o estúdio disse que aquilo faria muita sujeira para entrar. Todo o plano de construção dos cenários estava baseado na ideia de que poderíamos trazer a trincheira no primeiro dia, depois passar os outros três dias em estúdio construindo a espaçonave e o submarino. No final do primeiro dia, não tínhamos a trincheira e não tínhamos feito nenhum progresso em nenhum dos cenários.
Lembro de estar sentado na escadaria com meu designer de produção enquanto 20 pessoas esperavam por ordens do que fazer. A equipe começou a ir embora e parecia que tudo estava desmoronando. Mas nos reunimos, jogamos fora os planos dos cenários e o storyboard, e fizemos uma nova trincheira da noite para o dia de madeira, cobertores espaciais e lona. Quando a equipe viu como conseguimos contornar a morte certa, acho que eles ficaram inspirados. Depois disso foi uma jornada suave.
Seus professores da NYU chegaram a dizer que você devia diminuir um pouco suas expectativas, que isso estava ficando muito épico, que o tamanho do projeto era loucura?
Um professor me deu muito apoio, Pete Chatmon, ele nunca censurou minha visão para esse projeto e me apoiou o caminho todo. Acho que todo mundo na classe pensou: “OK… O quê?” Mas quando expliquei como a estética não devia ser “realista”, todo mundo pareceu entender melhor a ideia. As pessoas se empolgaram – afinal de contas, ninguém estava fazendo um filme com dinossauros com lasers.
Ouvi dizer que você está trabalhando numa versão longa dessa história. Como isso está se desenrolando?
Estamos! Foi uma história difícil de adaptar já que tudo acontece muito rápido, mas pensei muito e imaginei um jeito de expandir isso num universo que pode viver dentro de um filme de 90 minutos. Tenho outro filme, menor que esse, que quero fazer antes. Espero poder filmar no outono. Também estou lançando minha web série, EAVESDROPPING, nas próximas semanas. Você pode se inscrever na lista de e-mail do meu site e receber todas as atualizações dos projetos, além de conteúdo inédito dos bastidores de The Life and Death of Tommy Chaos and Stacey Danger que você recebe quando assina a lista!
Jeffrey Bowers é um cara alto e bigodudo de Ohio que vê muitos filmes estranhos. Atualmente ele mora no Brooklyn e trabalha como curador de filmes. Ele é o curador sênior da plataforma On Demand do Vimeo. Ele também já trabalhou no Tribeca Film Festival, na Rooftop Films e no Hamptons International Film Festival.
Tradução: Marina Schnoor