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‘Street Fighter II’ hoje, reimaginando os guerreiros em 2016

Esta matéria foi originalmente publicada no Waypoint.

Em fevereiro de 1991, os videogames de luta mudaram para sempre. Street Fighter II da Capcom devastou os fliperamas na época, no Japão e exterior, mas foi quando o jogo passou para console (e computadores, mas quanto menos falarmos dessas versões melhor) sua lenda foi garantida.

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Pode falar com qualquer pessoa que jogava videogame no começo dos anos 90, ela com certeza vai ter uma história sobre como cruzou com Street Fighter II pela primeira vez. Provavelmente ela vai dizer que jogou como o Ryu ou o Ken, o Guile ou o Dhalsim no Super Nintendo de 1992; o jogo vendeu quase seis milhões de cópias pelo mundo e era o item mais vendido da Capcom até ser ultrapassado por Resident Evil 5 em 2013.

Bom, minha experiência foi essa — sentado no carpete na frente de uma tela de 14 polegadas na casa do meu amigo, maravilhado com o jogo e chocado com o preço. No lançamento no Reino Unido, você tinha sorte de encontrar Street Fighter II para Super Nintendo por menos de £60 [quase R$ 300]. Eu tinha visto o jogo no fliperama e era de cair o queixo, e aquela versão era a mais próxima daquilo num console. Ele com certeza chutava a bunda da versão para Amiga. Seja lá quem pensou que um jogo que precisava de seis botões poderia ser jogado com um joystick simples, deus te abençoe, seu louco.

Mas minha versão de console favorita era o Street Fighter II para Mega Drive, o Super Street Fighter II, que saiu em 1994 num cartucho “pesado” de 40 megabits. Sabe, aquele onde o Ryu cabreiro forma um hadouken e solta em direção à tela antes do primeiro menu. Radical.

Nele você podia não só jogar com os quatro “chefes” — Balrog, M. Bison, Vega e Sagat — mas o jogo vinha com quatro adições. Fei Long e Cammy eu curti; Dee Jay e T. Hawk nem tanto. Ainda tenho o jogo juntando poeira em algum lugar. O encarte eu perdi anos atrás, e o cartucho faz um barulho de chocalho, mas quando coloco no meu segundo modelo de Mega Drive, ele funciona igualzinho há 20 anos. (Mas não vá me jogar com um controle padrão de três botões, só se for muito masoquista.)

Não que eu tenha ficado com alguns dos novos personagens do Super — sempre fui kenzeiro. Eu sei, tédio. Mas o personagem com que você jogava Street Fighter II provavelmente é o mesmo que você selecionou jogando Street Fighter V de 2016. Esse jogo, seja lutando contra a máquina ou do lado de um amigo que logo mandaria o golpe dos cem tapinhas do Honda, roubou o coração de milhões de pessoas.

Para marcar o aniversário de 25 anos de Street Fighter II em 2016, o colaborador da VICE Stephen Maurice Graham (re)imaginou como os oito personagens originais do jogo estariam hoje, baseado na idade que eles tinham quando o jogo foi lançado. Abaixo, ele explica sua direção para cada ilustração, e você também lê mais memórias de Street Fighter II dos jornalistas da VICE e fãs de jogos de luta Andi Hamilton e Dave Cook.

– Mike Diver

O Ken já viu dias melhores. O Guile prefere esquecer totalmente o passado.

Quando joguei Street Fighter II pela primeira vez, eu estava na casa do meu amigo Keith. Ele tinha um Super Nintendo, um Mega Drive e uma caralhada de jogos. Aquele cara sabia convencer a mãe dele a comprar o que ele pedia. Ele até tinha um Amstrad, que juntava poeira junto com o Super Mario World e Earthworm Jim.

O Keith era ótimo de Street Fighter e eu era péssimo. Ele geralmente escolhia o Ryu e eu o Ken — então desde aquela época eu já pensava no norte-americano como o personagem menor. Não sei se você achava isso também, mas o Ken sempre foi uma cópia escrota, né? Só um parasita de cor trocada?

Bom, aqui o pobre Ken (nascido no Dia dos Namorados de 1965) foi desenhado com uma bengala, a perna quebrada e um bigodão. Ele está acabado — não por causa da luta, mas por perceber que sempre foi meio tosco. Ele luta contra o Guile (23 de dezembro de 1960), que acabou ganhando uns quilos depois de uma crise TEPT. Não dá pra culpar o cara, né, pelo menos ele ainda tem cabelo.

A Chun Li (1º de março de 1968) deu tantos chutes de helicóptero que as pernas dela ficaram destruídas, então agora ela usa só vestido longo e sapatos ortopédicos que ajudam a correr um pouco mais rápido contra o oponente. O dito oponente é o Blanka (12 de fevereiro de 1966), um experimento biológico que nem deveria estar vivo. Inicialmente eu ia desenhá-lo como uma massaroca derretida, mas achei que talvez ele se deteriorasse mais lentamente, a osteoporose atacando, o cabelo caindo, as faculdades mentais desaparecendo até ele virar um velhinho daqueles que babam. Desculpa, essa foi meio triste.

Dhalsim (22 de novembro de 1952) e o Ryu (1º de julho de 1964) se deram melhor, fugindo juntos para a fase bônus e abrindo uma empresa de desmonte de carro ecológico. Sempre amei essa fase de bônus — os gráficos do carro amassando eram incríveis, e eu sempre queria passar mais tempo lá, achando que tinha mais coisas para descobrir.

Finalmente, E. Honda (3 de novembro de 1960) e Zangief (1º de junho de 1956) viraram dois ursões velhos tomando um banho gostoso juntos.

– Stephen Maurice Graham

Blanka quase foi desenhado como uma massaroca de gosma. O que talvez fosse um destino mais favorável que o da Chun-Li.

Leia também: “Porque é tão difícil fazer um videogame”


Joguei a versão do Super Nintendo de Street Fighter II pela primeira vez na casa do meu primo, e fiquei bobo com os gráficos, que na época, na minha cabeça infantil, pareciam um fliperama perfeito, mesmo não sendo. Eu amava o Blanka, principalmente porque ele era muito animado e seu ataque elétrico era muito divertido de executar. Também era muito prazeroso conseguir mandar um shoryuken na hora certa.

Mas acima de tudo, eu não conseguia terminar o jogo. Claro, Sagat levou umas boas 20 ou 30 tentativas, mas com o Bison não tinha jeito. Street Fighter II foi uma das primeiras fontes de frustração em videogame para mim, mas é uma época de que tenho saudade. Ainda tenho o cartucho do meu Super Nintendo e às vezes dou uma jogada.

– Dave Cook

Insira sua própria piada sobre dois hippies velhos arrebentando um “carango”.

Eu morava numa cidade pequena que tinha uma feira especial uma vez por ano. Geralmente o evento era uma merda, mas tinha um fliperama com uma cópia de Street Fighter II. Os botões não funcionavam direito e a máquina estava toda queimada de cigarro, mas ouvir aquela música e assistir a intro — aquele cara arrebentando o outro e a câmera parando para mostrar o logo do Street Fighter — era a coisa mais incrível que eu já tinha visto nos meus nove anos de vida. Eu nem tinha chance; só ficava assistindo o modo de demonstração e pensando o quanto aquilo era bonito.

Aí ganhei um Super Nintendo, e um verão inteiro indo para a casa dos amigos com um controle e meu cartucho de SFII (ninguém tinha dois controles em casa na época, né), começou uma vida inteira trocando socos e chutes em jogos de luta.

– Andi Hamilton

As idades dos personagens foram tiradas da Street Fighter Wiki.

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Tradução: Marina Schnoor

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