Tire um fio de espaguete da panela com água fervente e o jogue na porta da sua geladeira. Se o macarrão grudar, o espaguete está no ponto. Pegue um ovo que está na sua geladeira há dias — ou até semanas — e o coloque num copo de água. Se ele afundar, o ovo pode ser consumido. Pela próxima semana, dê uma olhada embaixo do seu edredom logo depois do seu despertador tocar. Sua primeira visão do dia é, normalmente, um pênis ereto? Se sim, Michael Reitano, um internista aposentado de Nova York, afirma que você provavelmente não sofre de doenças cardiovasculares, diabetes, hipertensão, distúrbios hormonais ou do sistema nervoso. Além disso, é provável que você não esteja deprimido, obeso, dormindo mal, estressado, fumando demais ou bebendo além da conta.
Por outro lado, Reitano diz que um pênis que continua dormindo mesmo depois de seu dono acordar pode indicar algum problema de saúde. Essa teoria é corroborada por pesquisas que mostram uma correlação entre disfunção erétil e uma série de outros problemas de saúde, entre eles doenças cardiovasculares. Macarrão que não gruda na parede — ruim. Ovo que flutua — ruim. Acordar todo dia com um pênis flácido — um sinal que talvez mereça ser investigado. É aí que entra o Morning Glory: o app, criado pela startup de saúde masculina Roman, permite que você registra a rotina do seu pênis.
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A Roman oferece uma plataforma na qual usuários podem receber um diagnóstico e — caso necessário — um remédio para impotência de forma discreta. Michael Reitano é o médico residente da empresa, e seu filho Zachariah é um dos três co-fundadores. Zach, hoje com 26 anos, começou a sofrer com a disfunção erétil aos 17 anos, o que levou seu pai a especular se a doença não poderia ser sinal de um problema mais grave. Ele estava certo. Durante um ecocardiograma de estresse, um dos vários exames ministrados pelos seus médicos, o coração de Zach parou. Por sorte, Michael estava lá para ajudar a salvá-lo. Sua doença cardíaca foi diagnosticada e tratada.
Essa experiência deu origem ao aplicativo Roman. Sobre a ideia de usar ereções como um parâmetro de saúde, Steven Lamm, diretor médico do Centro de Saúde Masculina da Universidade de Nova York, nos EUA, e membro do conselho consultivo da Roman, diz o seguinte: “Se eu pudesse fazer apenas uma pergunta para determinar o estado geral da saúde de um homem, eu perguntaria se ele tem ereções matinais.”
A partir dessa semana, você já não precisa mais falar com Lamm, ou com qualquer outra pessoa, sobre o estado do seu bilau — o aplicativo serve exatamente para isso. Nessa manhã, o aplicativo Morning Glory me perguntou se acordei com uma ereção. Cliquei em “sim” e fui agraciado com um gif do Shia LaBeouf aplaudindo minha tumescência matinal. Em seguida, fui direcionado a uma tela que me encorajou a registrar mais duas ereções matinais. Segundo Michael, três ereções seguidas é um número muito bom e um sinal de que várias parte do seu corpo estão funcionando como deveriam. “Quando você começa a perceber que está há três, quatro ou cinco dias sem ter uma ereção matinal, isso significa que algo não está certo”, diz ele. “Quanto mais cedo você descobrir qual é o problema, melhor.”
A ereção matinal é, normalmente, a última das cinco ereções noturnas que costumam acontecer durante uma noite de sono. “Elas costumam acontecer a cada 60 ou 90 minutos e duram entre 25 e 30 minutos”, diz Michael, acrescentando que mulheres também vivenciam mudanças vaginais durante o sono REM. “Não observamos essas quatro primeiras ereções porque estamos dormindo. A única que podemos observar é a quinta.”
Curiosamente, não sabemos ao certo por que homens têm ereções pelas manhãs. Michael acredita que, biologicamente, as ereções noturnas são muito importantes. “Por que nosso corpo gastaria tanta energia para garantir que, durante uma parcela significativa do seu sono, você esteja com uma ereção?”. Sua teoria é que o pênis estaria se exercitando, mas ele não exita em admitir que um médico, um antropólogo e um psicólogo teriam opiniões diferentes sobre o motivo dessas ereções.
Como já mencionei, o aplicativo é divertido e irreverente — o que não é o tom normalmente usado quando se trata de disfunção erétil. Em comerciais de remédios para impotência, quase sempre misturam imagens esportivas e cinquentões atraentes de mãos dadas com suas respectivas parceiras — ao que parece, esse tipo de imagem agrada o público da terceira idade. Mas o aplicativo e a jovem empresa por trás dele não estão focados em homens mais velhos. Talvez porque está cada vez mais claro que a distância entre as agruras da adolescência e a disfunção erétil não é tão grande quanto se imaginava. Na verdade, esses dois momentos da vida podem coexistir.
Segundo um estudo suíço publicado em 2012, a disfunção erétil afeta 30% dos homens jovens, enquanto um estudo italiano publicado no ano seguinte relata que, de 439 homens com disfunção erétil, 114 (26%) tinham menos de 40 anos (em média 32 anos) e quase metade deles sofria de disfunção erétil grave. Os autores de ambos os estudos observaram que homens jovens são menos propensos a sofrer com outras doenças e tem, em geral, menos massa gorda e níveis mais altos de testosterona, o que sugere que hábitos nocivos seriam a causa de sua impotência. Esses hábitos incluem o tabagismo, uma dieta pobre em nutrientes, sedentarismo, consumo de drogas e álcool e uma higiene do sono insuficiente. Caso esses comportamentos sejam repensados, o paciente pode melhorar sua performance sexual e diminuir a probabilidade de desenvolver, no futuro, uma doença crônica tipicamente associada à disfunção erétil.
Michael diz também que um jovem que não consegue ter ou manter uma ereção corre o risco de ficar ansioso frente a situações sexuais, o que aumenta ainda mais o problema, criando um ciclo vicioso que pode perdurar por anos e prejudicar não apenas suas relações amorosas, mas também outras áreas da sua vida.
“Não se fala muito sobre os efeitos secundários da disfunção erétil, sobretudo entre homens jovens”, lamenta Michael. “Por isso, o objetivo da nossa equipe é criar um ambiente onde esses homens podem buscar ajuda, conseguir um diagnóstico de forma segura e discreta e ter acesso a remédios que podem ser essenciais”
Antes do fim da minha visita ao escritório da Roman, eu e Zach passamos por uma mesa coletiva cheia de homens de 20 a 30 e poucos anos debruçados sobre laptops e seguimos até uma farmácia. Lá, doses de Viagra, Levitra, Cialis e genéricos como o citrato de sildenafila são colocados em sacolas com a logomarca da empresa e enviadas para um número cada vez maior de clientes em caixas de papelão discretas.
No começo da minha visita, Zach comparou a falta de ereções matinais com um aviso de “verificar o motor”, o que fez com que eu me perguntasse se vender viagra para um homem com disfunção erétil não seria o mesmo que colocar um pedaço de fita adesiva por cima da luzinha de injeção eletrônica.
“Pensamos nesses remédios como uma joelheira ortopédica”, diz ele. “Você não aconselharia alguém que não consegue andar ou correr a não usar uma joelheira. É claro que ela não resolve o problema. Mas ela pode devolver à essa pessoa algo que ela tinha perdido”. Zach acrescenta que o mesmo acontece com remédios para disfunção erétil. Esse tratamento é caro e exige a capacidade de prever quando a atividade sexual irá acontecer, o que não é ideal. “Mas, no fim, ele devolve aos pacientes algo que eles tinham perdido. E acreditamos que a partir daí, podemos tratar o problema real.”
Na manhã seguinte, o aplicativo me pergunta se tive uma ereção matinal e sou obrigado a responder “não”. Um gif de um cachorro animado derrubando blocos de madeira ocupa minha tela e minha missão de registrar três ereções matinais consecutivas recomeça, agora do zero.
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