Suicídio: um LGBT+ perto de você pode estar precisando de ajuda

A bandeira LGBT+

O relatório anual do Grupo Gay da Bahia (GGB) se propõe a mapear a violência contra a comunidade LGBT+ em todo o Brasil, e trouxe informações (ainda mais) preocupantes na edição de 2018. O número total de mortes diminuiu: passou de 445, em 2017, para 420. No entanto, o número de pessoas que tiraram a própria vida, motivadas por LGBTfobia, passou de 58 para 100 – um crescimento de 42%.

Para chegar a esse número, o GGB se baseou em um cruzamento de obituários e perfis das vítimas, que eram assumidamente LGBT+ em redes sociais, por exemplo, ou davam indícios de “querer sair do armário”, com declarações públicas ou relatos sobre intolerância no ambiente familiar, acadêmico, profissional ou social. Ou seja, o número pode ser bem maior.

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“Muita coisa melhorou nas últimas décadas. A mídia nos insulta menos, não usa mais tantos termos pejorativos. Hoje em dia, o jovem LGBT+ tem acesso a bares, boates, grupos de militância e pode denunciar”, observa o fundador do GGB, Luiz Mott. “Porém, a homofobia cultural e estrutural no Brasil é uma verdadeira peste, uma epidemia que só tem ganhado força.”

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Mães Pela Diversidade tem representantes em todos os estados da federação. Foto: divulgação

Lésbicas correspondem ao maior público entre as pessoas que tiraram a própria vida (31%) e transexuais e travestis são o menor, com 6%. É inversamente proporcional ao número de assassinatos. “A mulher é muito cobrada para ter marido, família, além de, em geral, ser muito mais passional e passa por pressões muito grandes quando não é heterossexual. O alcoolismo entre lésbicas é muito maior, por exemplo”, afirma Mott.

Elas dão colo de mãe

Maju Giorgi, presidente do grupo Mães Pela Diversidade, afirma que os LGBTs estão com medo. “Estão apavorados, foi dado um salvo conduto para agredir e ameaçar com a mensagem que foi passada da eleição para cá. Até agora não existiu um ‘por favor, se acalmem’ do governo, muito pelo contrário”, ela diz.

O grupo acolhe mães de LGBTs, que são o segundo alvo da LGBTfobia, segundo Maju, pois são colocadas diante de escolhas como ficar com o filho gay ou com o casamento, ou ter de escolher entre o filho homofóbico e o filho LGBT+. “Quando ela chega até nós, normalmente vem em um estado lamentável, com fobia social, depressão, síndrome do pânico e temos que tratá-la para que ela se erga e levante a bandeira.”

Para ser acolhido por uma das integrantes do grupo, Maju orienta que o LGBT+ envie uma mensagem no Facebook da ONG para ser direcionado a alguém por perto. “Todas as duas mil mães espalhadas pelo Brasil acolhem LGBTs que pedem socorro, mas ainda não temos um trabalho específico, está em nossos planos. Precisamos fazer isso.”

Acolhida e preparo para lidar com o mundo

A república de acolhida Casa 1 foi inaugurada em São Paulo em 2016 para receber LGBTs que são expulsos de casa por conta de sua sexualidade e/ou identidade de gênero. Iran Giusti, o fundador do projeto, diz que a tentativa é de estabelecer autonomia para a pessoa.

O tempo médio de permanência na Casa 1 é de quatro meses, atualmente 19 pessoas moram lá. “Temos um centro cultural que funciona de segunda a sexta e uma série de programações socioeducativas e pedagógicas. Além disso, temos atendimento para pessoas em situação de rua, aulas de inglês e espanhol e curso preparatório para o Enem”, menciona.

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A Casa 1 abriga LGBTs expulsos de casa, em São Paulo. Foto: divulgação

Os dados divulgados pelo GGB refletem a vulnerabilidade e pressão social dos jovens, na visão de Giusti. A maioria das pessoas que chega à república passou por episódios de violência dentro de casa.

O fundador da Casa 1 acredita que a discussão sobre morte e suicídio deva ser encorajada, até para que as pessoas saibam onde procurar ajuda. “É uma galera sobrevivente. A gente sempre fala que nosso maior sucesso é o fato de que nunca ninguém conseguiu tirar a própria vida dentro da Casa.”

Você não está sozinho

No ano passado, o Centro de Valorização da Vida (CVV) recebeu 2,5 milhões de contatos e a estimativa é que esse número cresça para três milhões em 2019. Segundo Antônio Batista, porta-voz do projeto em São Paulo, isso deve acontecer pela ampliação da divulgação sobre o 188, atendimento telefônico gratuito, implementado em todo o Brasil em julho do ano passado.

O CVV não tem informações sobre o volume ou faixa etária de procura de LGBTs pelo atendimento, pois o serviço é aberto para todo mundo e não existe nenhuma espécie de triagem. Batista já chegou a receber ligações de dentro de salas de aula e pátios de escola, por exemplo. “A maior parte das ligações que identificamos ser de pessoa LGBT menciona situações de preconceito, sentimento de exclusão e até ser tratado com violência”, comenta.

Todos os voluntários do CVV passam por treinamentos de oito semanas que consideram a vulnerabilidade das minorias, o que inclui LGBTs. Atualmente, são mais de 2,5 mil voluntários em quase 110 unidades, em todo o Brasil.

Nas unidades de São Paulo, é possível participar do Gass (Grupo de Apoio a Sobreviventes de Suicídio), que é aberto para pessoas que tentaram tirar a própria vida ou conviveram com suicidas. “É uma roda de conversa, totalmente anônima. O próprio grupo se apoia, conhecendo as histórias de cada um. Não há seleção ou crítica, se a pessoa não quiser compartilhar, pode participar e só ouvir”, pontua Antônio. O calendário e os endereços podem ser acessados pelo site.

Lei que criminaliza LGBTfobia pode ser aprovada nessa semana

No próximo dia 13 de fevereiro, o Supremo Tribunal Federal (STF) deve determinar se a Câmara dos Deputados tipificará a LGBTfobia como crime. Movimentos LGBT+ têm se unido para que essa conquista avance.

A votação já foi adiada duas vezes. O último pedido de adiamento partiu da própria comunidade LGBT+, para que fosse possível complementar o pedido com a ação movida pelo Partido Populista Socialista (PPS), tida como a que tem mais chances de modificar a legislação vigente.

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