Tarcisio Freitas: perfil técnico e pronto para privatizar estradas

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Um dos mais jovens ministros do governo Bolsonaro, Tarcísio Gomes de Freitas, de 45 anos, parece ser ao mesmo tempo um dos que mais entende de seu assunto na atual Esplanada: assumiu a pasta da Infraestrutura, que sucedeu o antigo ministério dos Transportes, apresentando experiência no ramo e um perfil técnico que lhe garantiu o cargo mesmo tendo passado pelo governo Dilma Rousseff (PT).

Sim: de 2011 a 2014, Freitas foi diretor do DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), órgão responsável por controlar as obras de construção e reformas de estradas. É um setor bem enrolado, alvo constante de denúncias de corrupção – ele próprio assumiu o posto na época em que Dilma fez a chamada “faxina” no órgão, então controlado principalmente por políticos do PR. No mês passado, porém, um levantamento do jornal O Globo mostrou que várias diretorias regionais do órgão seguiam ocupadas por gente ligada ao partido, que tem como mentor intelectual o ex-deputado Valdemar Costa Neto, condenado no escândalo do mensalão. No governo Temer, o setor passou relativamente ileso de escândalos.

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Militar de formação, Freitas estudou na Academia de Agulhas Negras, como Bolsonaro e vários ministros, e cursou Engenharia Civil no Instituto Militar de Engenharia, no Rio. Passou para a reserva em 2008, depois de uma experiência em comum com alguns dos colegas de pasta: uma passagem pelo Haiti, onde auxiliou a missão brasileira por alguns meses na seção de engenharia. Já trabalhou também como auditor na Controladoria Geral da União e é funcionário de carreira da Câmara – é consultor legislativo, aqueles servidores que realmente manjam das coisas que tentam (nem sempre com sucesso) impedir os deputados de escrever bobagens em seus projetos de lei e relatórios.

O perfil mais técnico e a formação militar, porém, não farão Freitas posar ao lado dos demais militares, geralmente associados a políticas nacionalistas e estatizantes. Para cumprir sua tarefa de melhorar a qualidade das estradas no país, o ministro já anunciou um programa de concessões bem ao gosto do chefão da Economia, Paulo Guedes: planeja ceder as rodovias federais à iniciativa privada. “Vivemos uma crise fiscal e não teríamos condições de fazer esse serviço direito”, disse Freitas na semana passada em entrevista à Rádio Gaúcha. O pacote deve ser formalizado logo, já que Bolsonaro prometeu no Twitter, no último sábado, que até os 100 dias de governo, ou seja, no começo de abril, já terão sido realizados 23 leilões de concessão.

Além de rodovias, portos e aeroportos também estarão no pacote. No caso das estradas, resta saber quais serão as condições para a concessão e os critérios para a cobrança de pedágios, que são a maneira pela qual o concessionário vai recuperar o investimento. Em alguns Estados, como São Paulo, a boa qualidade das estradas tem preço, e bastante alto: na viagem de São Paulo a Santos, por exemplo, o pedágio do sistema Anchieta/Imigrantes custa R$ 26,20 para uma viagem que, em ida e volta, não chega a 150 km.

Freitas mal assumiu e já começou a rodar o país para apresentar obras. No último fim de semana, esteve na Bahia para inaugurar a extensão de uma estrada que liga quatro Estados do Nordeste e aproveitou para dizer que o governo se fará presente com constância na região, prometendo levar “desenvolvimento, emprego e renda” e confraternizando com governadores de outras preferências políticas, como o petista Rui Costa, da Bahia. Registrou tudo em seu Twitter, que abriu apenas no fim do ano passado, para agradar o presidente.

Vale lembrar que no terceiro dia de governo Bolsonaro alfinetou os governadores nordestinos que não estiveram em sua posse, dizendo que “o presidente deles está em Curitiba”, em referência clara ao ex-presidente Lula, preso na capital paranaense. Dos nove estados da região, quatro são governados pelo PT (Bahia, Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte), dois pelo PSB (Paraíba e Pernambuco), e um pelo PC do B (Maranhão), além de um pelo PSD (Sergipe) e outro pelo MDB (Alagoas, de Renan Filho, que fez campanha com Fernando Haddad).

Técnico que já aprendeu a fazer política, Freitas sabe que se indispor com governos locais, em sua área, é roubada. Até agora, está entre os raros ministros que tem algo de concreto a mostrar, em vez de simples bravatas. A saber se conseguirá manter o ritmo em meio ao furacão que não cessa sobre o governo.

Nome: Tarcísio Gomes de Freitas
Idade: 45
Ministério: Infraestrutura
Formação: Engenharia Civil, pelo Instituto Militar de Engenharia (IME)
Partido: nenhum

Acompanhe os perfis de todos os ministros do Brasil na série A Banca de Bolsonaro . Novos textos às quartas e sextas-feiras.
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