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Entretenimento

'The OA' é uma série estranha pacas

A nova série de ficção científica do Netflix se perde dentro do seu próprio mistério.

Aviso: Spoilers de todos os oito episódios de The OA abaixo.

Se tem uma coisa que aprendemos com a televisão em 2016 é que o Netflix – que lançou mais de 100 programas originais este ano, mais do que qualquer canal ou site de streaming – tem o luxo de fazer o que quiser. O Netflix não visa nenhum gênero ou público específicos, dando aos espectadores sitcoms criativas, adaptações de quadrinhos pesadas, documentários criminais, sequências da TV dos anos 90 e "continuações" de séries existentes. Há uma vasta coleção de programas infantis e especiais de comédia stand-up que passam quase despercebidos, além do talk show de Chelsea Handler (renovado por mais 90 episódios) e a tentativa de Rob Schneider de fazer sua própria versão de Louie ( Real Rob vai ter uma segunda temporada ano que vem, você gostando ou não).

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Netflix é o pior da TV sob demanda (ou o melhor, dependendo de quanto tempo livre você tem), o que geralmente significa que tem sempre alguma coisa interessante que você não viu da última vez. Stranger Things é o melhor exemplo: um sucesso que estreou misteriosamente sem alarde e virou um hit quase unânime. O exemplo mais recente disso é The OA, uma série propositalmente cercada de mistério antes da estreia – não era possível nem achar uma sinopse coerente – o que a tornava frustrante antes mesmo de começar. Hoje o Netflix não tem muito o que perder – pense em quanto dinheiro eles gastaram em The Get Down, ou que Michael Bolton ganhou um "Especial Sexy do Dia dos Namorados" em 2017 – então por que não dar toda a liberdade possível aos criadores? Vamos assistir, não importa quão mistos sejam os resultados.

The OA, criado pela dupla indie inglesa Marling e Zal Batmanglij (que também dirigiu os episódios), pode ser tornar o título original mais oito ou oitenta do Netflix de 2016. Descrever a série já é dar spoiler de tudo e parecer uma pessoa louca ao mesmo tempo. Se você não quiser revelações sobre o enredo, pare de ler agora. Se não, vamos lá. Marling interpreta uma jovem cega chamada Prairie (também chamada de OA) que desaparece por sete anos e volta repentinamente, com várias cicatrizes e conseguindo ver, depois de pular de uma ponte. Ela começa a se encontrar regularmente com um grupo de cinco pessoas – quatro universitários e uma professora, todos tristes – que sentam num círculo e escutam Prairie contar sua história, uma história que ela não contou nem aos pais adotivos.

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A história começa com uma experiência de quase morte quando ela era criança na Rússia (que levou à cegueira), depois ser adotada. Quando exibe sinais de doença mental, Prairie é mantida sob medicamentos por 13 anos até fugir para encontrar o pai morto e tocar violino na Times Square. Depois de ser capturada por um médico sinistro (Jason Isaacs), ela é trancada numa cela de vidro com quatro pessoas que também tiveram experiências de quase morte e sofrem experiências cruéis. Os sequestrados aprendem "movimentos", basicamente uma mistura de tai chi chuan, a capoeira daquele episódio de Bob's Burger e o clipe "Chandelier" da Sia (o que até faz sentido, considerando que o coreografo Ryan Huffingyon também trabalha na série). Quando realizados corretamente, esses movimentos podem curar doenças ou até trazer alguém de volta à vida.

Quão bem você vai tolerar The OA depende de ler a bizarrice implacável da série como divertida ou só desesperada. Paz Vega aparece para tocar violão, Prairie engole um passarinho, as pessoas dançam bem o suficiente para parar um tiroteio numa escola (um clímax incrivelmente enervante e piegas da série).

O mais frustrante em The OA é como algumas partes ótimas não conseguem formar um todo. Batmanglij é adepto de capturar o desejo ardente de seus personagens, o desespero pelo toque humano – Pairie e outro sequestrado, Homer (Emory Cohen), se apaixonam, mas não podem se tocar, o que leva a um romance composto inteiramente por linguagem corporal. A atuação é especialmente memorável, particularmente nos menores momentos de Marling: sua admiração infantil, sua reação assustada quando alguém a toca, mesmo o jeito como ela agarra um moletom de lobo numa loja. Jason Isaacs como o Dr. Hap é tão intrigante quanto escroto, Patrick Gibson como o bully Steve Winchel retrata a depressão escondida sob a raiva, e Phyllis Smith de The Office transforma a personagem da professora envelhecida triste em algo menos clichê.

Mesmo os temas mais banais – o poder do amor, amizade, conexão, sobrevivência, narrativa e assim por diante – encontram alguma nuance, mas esses momentos são passageiros e se perdem na esquisitice geral e no sentimento confuso proposital da série. Como outras séries do Netflix, The OA foi construída para assistir tudo de uma vez, tão misteriosa que você continua vendo um episódio atrás do outro para entender que diabos está acontecendo, mesmo se você acha que não está nem aí para a série. É difícil parar de assistir The OA, e isso dobra quanto mais a série te frustra, porque ela tem muita consciência do poder da ambiguidade. O final é fascinante e perturbador, mas a série não recompensa os espectadores o suficiente pela zona que armou nos oito episódios anteriores. Parece que a série só quer deixar o espectador intrigado o suficiente para voltar na temporada dois.

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Tradução: Marina Schnoor 

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