Troquei uns palavreados com a Marina Abramović



A Marina Abramović, a avózinha da arte performativa, diz que uma pessoa percebe que ainda é relevante, quando a malta nova aparece nos seus espectáculos. As festas privadas da Marina são de outro mundo. De algum modo (e muito surpreendentemente), fui convidada para um dos seus jantares VIP, à porta fechada, num restaurante chique, em Viena, a propósito da estreia da exposição “With Eyes Closed I See Happiness, 2012”, na Galeria Krinzinger. Correcção: fui lá parar com três dos meus amigos artistas, que eram, provavelmente, as pessoas mais novas que lá estavam.

Só lhe consegui sacar uma entrevista de 12 minutos. Mas foi altamente. Ela estava com fome e, à volta, havia malta com óculos de massa, a fumar cigarros como se o mundo acabasse amanhã. A Abramović conseguiu manter a sua compostura, mesmo quando fãs obcecados estavam a tirar fotos, enquanto ela comia panquecas com açúcar em pó.



VICE: Enfiei alguns brilhantes no meu decote, porque sei que usas brilhantes no teu trabalho.
Marina Abramović: Nunca usaria brilhantes no meu decote, mas já coloquei brilhantes junto à minha cabeça e perguntei: “Sabes que horas são?”

Há muitos artistas, hoje em dia, à procura de um lugar ao sol. Tens algum conselho para eles?
Sim, sim, sim. A minha audiência é um público jovem. Fico imensamente feliz com isso e grata. Sabes quem é que me fez um grande favor? A Lady Gaga, porque trouxe-me um público jovem. Ainda não a conheci pessoalmente, mas falámos virtualmente. Ela veio ver a minha exposição no MoMA, em 2010, e, por ter feito um tweet sobre isso, imensos jovens vieram ao MoMA ver a Lady Gaga. E, mesmo depois de ela ter saído, eles ficaram e viram o meu espectáculo. Tenho cerca de 80 mil fãs no Facebook com menos de 30 anos. São os meus favoritos! Fico mesmo feliz! Mas o meu conselho para os jovens artistas é que sejam menos egoístas. Quando chegas a uma certa idade, tens de dar incondicionalmente. Acho que os jovens artistas têm de ser muito menos egocêntricos. Primeiro que tudo, têm de perceber que fazer arte não tem nada a ver com ser famoso e rico. A arte é algo diferente. A fama e o dinheiro são apenas efeitos secundários. É necessário ter isto muito em conta.



Estou a perceber.
A segunda coisa que têm de perceber é se são artistas, ou não. Há pessoas que querem ser artistas por variados motivos, mas é necessário criar para, eventualmente, tornarem-se em bons artistas. E isso exige um inúmero rol de sacrifícios. É uma vida solitária. É preciso uma dedicação extensa. Tens de estar efervescente, quase doente, como se fosse a única coisa que alguma vez existiu. Depois, se fores mesmo um bom artista, vais ter de aprender a sobreviver em sociedade — sem compromissos com o mercado, sem criar poluição artística no teu estúdio. E há tantas coisas que tens de aprender sobre o negócio. É incrível, o meu primeiro espectáculo de sempre foi na Itália, e esgotou logo. Eu nunca vi um tostão. Todos os artistas passam por isso. Então, é preciso que exista um sentimento de união, de partilha de conselhos. Há muito poucos artistas que são, verdadeiramente, generosos. O Robert Rauschenberg era um deles. Ele criou uma espécie de conta bancária para jovens artistas que tiveram problemas.



Sim, isso é algo necessário.
E os artistas da minha geração precisam de ser igualmente generosos. Estou a criar um instituto para artes performativas, onde vou dar aulas.

Achas que dar entrevistas, ou palestras é um tipo de performance?
Performance é uma palavra que é utilizada em excesso. Odeio imaginar uma entrevista, ou uma palestra como um tipo de performance. Algumas pessoas dizem que é uma performance, mas isso é tanga. Não é, nem nunca será. Quando faço uma performance, chamo-lhe uma performance. Isto é uma entrevista, não é uma performance.



Como é que te identificas com a moda?
A minha geração odeia o mundo da moda. Nos anos 70, se alguém usasse batom, não era um bom artista. E eu disse: “Não quero saber sobre isto. Gosto do que gosto.” Gosto da moda original. Para mim, o Comme des Garçon é um génio. Tal como a Yõji Yamamoto. Recentemente, fiquei fã do Riccardo Tisci. Ele fez-me um vestido. Sinto-me tão confortável. Sinto-me como uma freira.

Não te consideras uma artista feminista, certo?
Não, definitivamente. Odeio entrar em certas ideologias. A arte só existe de uma maneira: a boa, ou a má arte. E é assim. Quem a faz, isso não é importante.