Este artigo foi originalmente publicado na VICE USA.
No rescaldo de um dos piores ataques com armas químicas a atingir a Síria em anos, Donald Trump parece querer meter as culpas da morte de pelo menos 58 pessoas – entre as quais 11 crianças – no anterior presidente dos Estados Unidos, Barack Obama.
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O ataque, que alegadamente terá sido levado a cabo pelas forças fieis ao governo sírio de Bashar al-Assad, ocorreu na província de Idlib, na manhã de terça-feira, 4 de Abril. De acordo com informação divulgada pelo New York Times, pelo menos 250 pessoas, incluíndo crianças, terão também ficado feridas ou afectadas de alguma forma pelos químicos utilizados.
Num comunicado em nome do presidente Trump, o secretário de imprensa da Casa Branca, Sean Spicer, apelidou o ataque de “repreensível”, sublinhando que “não pode ser ignorado pelo Mundo civilizado”. Depois, meteu as culpas na administração Obama. “Estes ataques hediondos desencadeados pelo regime de Bashar al-Assad são uma consequência da fraqueza e falta de tomada de posição da anterior administração”, considera Spicer no comunicado. E acrescenta: “Em 2012, o presidente Obama disse que estabeleceria uma ‘linha vermelha’ contra o uso de armas químicas, mas depois nada fez”.
É verdade que Obama foi fortemente criticado por não ter dado seguimento ao seu discurso da “linha vermelha” e por não ter tomado acções mais decisivas relativamente à Guerra Civil na Síria, que começou em 2011. No entanto, a verdade é que, no passado, o próprio Trump defendeu a não interferência na Síria.
E se Obama é “fraco” por não ter ido atrás de Assad, a administração Trump já deu sinais de que tem ainda menos interesse em derrubar o homem forte do regime. Recentemente, o embaixador da ONU, Nikki Halley, apelidou Assad de “criminoso de guerra”, mas disse também que retirá-lo do poder não seria “uma prioridade”, sentimento, aliás, que encontrou eco em Rex Tillerson, Secretário de Estados norte-americano.
Mas, apesar de forçar Assad a deixar o poder, não ser um objectivo central da política dos EUA na Síria, Tillerson, ainda assim, utilizou linguagem forte para condenar o governante, num comunicado emitido na terça-feira e que visava também os aliados de Assad: a Rússia e o Irão.
“Continuaremos a monitorizar esta terrível situação, mas é claro que esta é a forma como Bashar al-Assad opera: com recurso a uma brutal e descarada barbaridade”, salienta Tillerson. E acrescenta: “Mais uma vez, pedimos à Rússia e ao Irão, para exercerem a sua influência sobre o regime sírio e garantirem que ataques horríveis como este nunca mais se repitam. Enquanto auto-proclamados supervisores do cessar-fogo negociado em Astana, a Rússia e o Irão têm também uma grande responsabilidade moral por estas mortes”.
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