Faz pouco mais de dois meses desde que a missão Rosetta fez seu pouso histórico no Cometa 67P/ Churyumov–Gerasimenko (C-G) e muitos experimentos aconteceram durante esse tempo. Uma quantidade enorme de dados de novas descobertas e informações sobre o cometa foi publicada recentemente na revista Science. Essa enxurrada de novas pesquisas fornece um olhar profundo sobre o cometa já atingido, revelando todo tipo de complexidades antes desconhecidas sobre esses misteriosos mundos de gelo.
“Cometas sempre surpreenderam a humanidade”, disse Murthy Gudipati, um cientista planetário e principal autor de um dos sete estudos que aparecem hoje, em uma declaração. “C-G não parece ser uma exceção”.
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Desenho conceitual do Rosetta sobre o C-G. Crédito: DLR/Wikimedia
Em outras palavras, há muitas novas informações para analisar, então eu vou só destacar as maiores descobertas de cada um dos sete artigos. O primeiro é um relatório liderado pelo físico experimental Nicolas Thomas, cuja esquipe criou um mapa infravermelho incrivelmente detalhado do C-G usando a câmera OSIRIS (Optical, Spectroscopic, and Infrared Remote Imaging System). A superfície diversa e extraordinária característica do cometa é descrita em grandes detalhes, assim como os processos que podem tê-la formado.
“Apesar de ainda estarmos em uma fase relativamente adiantada da missão, as conclusões a seguir parecem ser robustas”, escreveram Thomas e seus coautores. “A presença de correntes de ar, dunas/estruturas osciladas, caudas de vento e depressões suaves com poeira sugere que o transporte de poeira pela superfície é de grande importância em definir a camada de superfície de muitas regiões”.
O artigo de Thomas definitivamente vale a pena ser lido inteiro se você quiser ter uma ideia melhor sobre os contornos e paisagens do C-G. Também ganha pontos extras porque o cometa tem regiões com esquema de nomeação mitológica egípcia, de acordo o orbital Rosetta e a sonda Philae. É muito divertido de ler sobre as planícies lisas de Imhotep, as interfaces entre Ma’at e Ash, ou os penhascos de Hathor. Este cometa soa como um lugar foda para visitar.
O segundo dos artigos da Science também é baseado em dados da OSIRIS, mas e vez de mapear a superfície, os pesquisadores focaram no núcleo do C-G. Liderado pelo principal investigador da OSIRIS, Holger Sierks, a equipe descobriu que o núcleo era cheio de poeira, pedras e gás congelado o que o artigo chama de “calafrios” (“goosebumps”, em inglês), antes conhecido como inclinações pelo núcleo.
ESSE COMETA SOA COMO UM LUGAR FODA PARA VISITAR
A equipe também abordou a intrigante forma de “patinho de borracha” do C-G. O cometa tem dois lóbulos principais conectados por uma faixa estreita, sugerindo que pode ter sido formado por dois planetesimais separados – os pequenos blocos dos planetas – há cerca de 4,5 bilhões de anos. No final, a equipe de Sierk concluiu que precisa de mais dados para determinar se tal evento, chamado de “contato binário”, formou o C-G ou se isso foi sempre um objeto, e simplesmente sofreu erosão.
O terceiro artigo é baseado nos dados obtidos pelo ROSINA (Rosetta Orbiter Spectrometer for Ion and Neutral Analysis), e revelou muitas surpresas sobre o coma do C-G – um termo para o escoamento em torno de cometas nebulosos. O artigo, liderado pela cientista planetária Myrtha Hässig, mostrou que a composição do coma flutua significativamente dependendo da sua orientação e distância do Sol. O vapor de água, gás dióxido de carbono e outros materiais envolvendo o cometa não são homogêneos e estáticos, sugerindo que a relação entre o núcleo do cometa e coma é mais complexo do que o que se pensava antes.
Você deve ter notado até agora que os estudos descreveram grandes características e composição do C-G. O quarto artigo, em contraste, mergulhou na formação da magnestofera do cometa, e como ela é reforçada pelo fluxo de vento solar. Liderado por Hans Nilsson, principal pesquisador do Analisador de Composição de Íon do Rosetta, os pesquisadores reconstruíram a história magnética do C-G estudando sua casca de íons de água atmosférica, que evoluíram para “definir duas bordas”, de acordo com Nilsson e seus coautores. É assim que “uma magnetosfera nasce”, escreveu a equipe. Acidentalmente, o Rosetta também gravou uma música do campo magnético do C-G, que também vale a pena ouvir.
Seguindo em frente, o quinto artigo identificou a presença de componentes orgânicos no núcleo do C-G. O autor principal Fabrizio Capaccioni e sua equipe usaram o VITRIS (Visible and Infrared Thermal Imaging Spectrometer) para identificar moléculas com carbono na superfície do cometa e em seu núcleo. As descobertas forneceram contexto valioso para a hipótese de panspermia, que postula que cometas ricos em componentes orgânicos podem carregar alicerces de vida para incontáveis planetas.

O estudo do VIRTIS revelou que o C-G é muito escuro. Crédito: ESA/Rosetta/MPS for OSIRIS Team MPS/UPD/LAM/IAA/RSSD/INTA/UPM/DASP/IDA and Gordan Ugarkovich (Earth); Robert Vanderbei, Princeton University (Moon); ESA/Rosetta/NAVCAM (67P/C-G)
O sexto artigo usou o MIRO (Microwave Instrument on the Rosetta Orbiter) para dar uma olhada mais de perto nas propriedades do subsolo do C-G. Liderado pelo principal pesquisador do MIRO, Samuel Gulkis, a equipe descobriu que o pescoço do cometa foi o maior contribuinte para a “saída de gás” de vapor de água e outros gases. Os autores descobriram que o C-G “sua” o equivalente a dois copos d’água a cada segundo, e corroborou as descobertas da equipe de Hässig com relação às flutuações sazonais no cometa.
Finalmente, o sétimo e último artigo focou na composição do escoamento de poeira do C-G, revelando que a proporção de poeira para gás é maior que a esperada. O artigo liderado pela física Alessandra Rotundi representa uma colaboração entre várias equipes do Rosetta, inclusive OSIRIS, ROSINA e MIRO. Também inclui uma análise profunda de grãos de poeira individuais capturados pelo Rosetta.
Vocês perceberam o que eu quis dizer com isso ser uma grande quantidade de dados? Conforme a riqueza da nova pesquisa mostrou, missões ambiciosas como Rosetta não estão apenas prestes a conquistar territórios intocados. Elas também entregam informações vitais sobre os mundos que estão no nosso sistema solar e iluminam o desenvolvimento da nossa modesta vizinhança cósmica.
Através dessas linhas, tenham em mente que essa sofisticada missão está apenas começando. Esses artigos representam pesquisas completadas nas últimas dez semanas. Quanto mais saberemos depois de outros dois meses, ou seis ou um ano inteiro? Estamos aguardando ansiosamente a próxima expedição emocionante do nosso explorador de cometas favorito.
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