Este artigo foi originalmente publicado pela VICE USA.
No final de 2015, o estúdio de produção porno Brazzers decidiu receber 2016 com uma leva de filmes de MILFs (Mom I’d Like to Fuck, caso não estejas familiarizado com a sigla) dedicados à temática festas de fim de ano. O resultado foi uma cena intitulada “The Cougar Countdown”, publicado no canal da produtora MILFs Like it Big, no qual Jasmine James, uma ruiva de fartos seios, aparece na festa de uma amiga.
Videos by VICE
Entediada e excitada, ela vagueia pela casa à procura de “carne fresca” – como diz a descrição da cena – e depara-se com o filho universitário da amiga a masturbar-se. James, uma mulher madura, toma conta da situação e diverte-se com o jovem rapaz. Resumindo, um guião tipo de porno MILF. Mas há um problema: na vida real, Jasmine James tinha acabado de fazer 25 anos.
Uma rapariga na casa dos 20 não é propriamente o que te vem à cabeça quando ouves a palavra “MILF”, que tem várias definições vagas, mas que se refere especificamente a uma mulher “mais velha”, que, no entanto, não precisa realmente de ser uma mãe. Mas é bastante comum que os produtores escolham mulheres bizarramente jovens como MILFs, cougars, ou o termo britânico “yummy mummies”. Nem sempre foi assim, mas a rápida ascensão do género transformou a ideia de MILF da indústria pornográfica, com actrizes cada vez mais jovens a serem rotuladas como tal.
Sempre houve mães “jeitosas” na cultura pop, respondendo ao fétiche de sexo entre homens jovens e mulheres mais velhas (pense-se em Anne Bancroft, em The Graduate, de 1967), mas a história do termo “MILF” é bem mais recente. O Dicionário Oxford coloca as suas origens nos anos 90 e o seu primeiro uso conhecido online foi num grupo de 1995 do Usenet. Mas o termo MILF acabaria mesmo por passar para a consciência mainstream com a comédia adolescente de 1999, American Pie.
Antes da ascensão do termo “MILF”, a pornografia não investia muito em actrizes que tivessem passado dos 20 anos. “Actrizes com mais de 40 eram virtualmente consideradas idosas”, diz Jeff Vanzetti do IAFD, site equivalente ao IMDB da indústria de entretenimento para adultos. Mas o porno, como se sabe, acompanha sempre o zeitgeist, por isso a indústria começou a investir nas MILFs a partir dos anos 2000. O RealityKings liderou a mudança, lançando conteúdo MILF desde o seu início em 2000 e investindo na produção de uma marca centrada em MILFs, o M.I.L.F. Hunter, em 2002 e 2003. Outros, como a atriz porno Lisa Ann, no entanto, ancoram o nascimento do género em 2005.
Imagem de “A Touch of MILF” via Brazzers
A popularização do género coincidiu convenientemente com vários grandes nomes da pornografia a chegarem aos 30 e com uma base fãs devotos. Jenna Jameson fez 30 em 2004 e continuou a actuar por mais quatro anos, e apesar de nunca ter tido um grande lançamento rotulado como “MILF” na época, outras actrizes conhecidas que se aproximavam da marca encaixaram-se na categoria. O poder de atracção dessas estrelas, além da sua disposição para mergulhar de cabeça no território MILF, ajudou a alimentar um pico na procura do género.
“Nesse ponto, havia uma sensação de que uma mulher mais velha trazia efectivamente algo mais para a equação”, diz Chris Thorne, crítico de porno de longa data do xCritic.com, sobre a presença sexual confiante dessas mulheresno ecrã. E acrescenta: “Foi um momento de viragem para que as pessoas realmente começassem a procurar MILF como um género verdadeiro e autónomo”.
“Os fãs gostam de ver MILFs, porque elas são poderosas, sensuais e bonitas”, diz Tanya Tate.
Mas, quase imediatamente, os produtores que tentavam satisfazer a demanda por conteúdo MILF depararam-se com um problema: a fonte de artistas com mais de 30 anos era muito pequena. O M.I.L.F. Hunters, do RealityKing, aumentou a distribuição consideravelmente, mas começou a enfrentar imitações da marca por competidores, e, segundo Mark Spiegler, que fundou a agência de talentos adultos Spiegler Girls em 2003, quando, no início, procuravam performers, “estavam sob tanta pressão que filmavam algumas das nossas raparigas de 20 e poucos e colocavam-nas no site como mulheres de 36 anos”.
O conteúdo rotulado como MILF continuou a crescer rapidamente. Hoje, entre cinco a seis por cento de todos os vídeos do Pornhub levam a tag, segundo o porta-voz da plataforma, Chris Jackson. A popularidade atingiu um pico nos sites por volta de 2011, mas continua ainda a ser um dos termos mais procurados em sites de stream porno. Entre a pornografia MILF e géneros adjacentes (incesto falso, por exemplo), Thorne acredita que “estamos numa era de ouro da pornografia MILF”.
“Os fãs gostam de ver MILFs, porque elas são poderosas, sensuais e bonitas”, diz Tanya Tate, eleita 11 vezes MILF do Ano em várias atribuições de prémios de filmes para adultos. Tate entrou para o porno em 2009, quando estava prestes a fazer 30 anos e foi imediatamente considera “a nova grande MILF”.
Josh Ryan
Apesar do porno MILF ter permitido que as actrizes ficassem mais tempo na indústria, ou começassem a actuar mais tarde, a carreira média no porno ainda começa e termina cedo, por isso os incentivos para escolher mulheres jovens como MILFs continua. Como resultado, dentro do mundo da pornografia, MILF (e fétiches similares com mulheres “mais velhas”) começou a significar não tanto uma faixa etária, mas uma estética e persona: uma mulher curvilínea e assertiva.
Não há dados abrangentes sobre a idade média de uma MILF típica no porno de hoje, mas, enquanto as actrizes mais populares da categoria estão na faixa dos 30 e 40 (como Sara Jay de 38 anos e Brandi Love de 43), o espectro divide-se em duas direcções. “Antes havia uma grande divisão entre os 22 e os 35 anos”, diz Tate sobre a evolução da indústria, dos anos 2000 em diante. E acrescenta: “O vácuo começou a fechar-se e cada vez mais mulheres estão a ser rotuladas como MILF. Agora parece que, se não és uma teen, és MILF”.
Às vezes podes ser uma MILF mesmo sendo teen: Allie Rae tinha 19 anos quando foi classificada como MILF numa cena de incesto falso, no filme de 2014 Jerky Wives. Do outro lado da moeda, a atriz porno de 57 anos, Nina Hartley, ainda é rotulada como MILF.
E, às vezes, aquelas que literalmente são MILFs não são qualificadas assim nos elencos de porno, ou não recebem o rótulo MILF. Tate aponta que, recentemente, elencou Marica Hase, 35 anos, como teen porque ela mantinha as características do género. Nas suas palavras: pequena, seios naturais, uma cintura fina e uma figura, no geral, mais magra.
Isto, de várias maneiras, é um espelho da indústria de entretenimento mainstream: as pessoas são escolhidas para os papéis necessários, desde que consigam levá-los a cabo convincentemente. Mas essa escolha com base na idade flexível evoluiu estranhamente na indústria adulta. De uma desconstrução de um nicho de geração, passou a ser algo feito para preencher a procura do consumidor. E, de muitas formas, o rótulo cada vez mais intercambiável de MILF, tem sido mais restritivo que qualquer outro. O seu apelo levou a uma definição exageradamente zelosa e ampla, que engole o grupo intermediário que, teoricamente, existe entre o porno “barely legal” e “mature”. Parece que, hoje em dia, toda a gente adora mães.
Segue Mark Hay no Twitter.
Segue a VICE Portugal no Facebook, no Twitter e no Instagram.
Vê mais vídeos, documentários e reportagens em VICE VÍDEO.