Canabidiol (ou CBD) já se provou um astro da crescente indústria internacional da cannabis. Isso é usado por muita gente para tratar dor, depressão, insônia e ansiedade, e recentemente o FDA aprovou drogas baseadas em CBD para tratar algumas formas de epilepsia. O composto, que não tem os efeitos psicotrópicos do THC, está começando a parecer um tipo de panaceia.
Na Califórnia, onde maconha é ainda mais comum agora que foi liberada para uso recreativo, o CBD está se infiltrando num mercado enorme de comestíveis e bebidas já repleto de produtos com infusão de THC. Enquanto via mais e mais produtos com CBD nas prateleiras do meu dispensário local, fiquei imaginando: O que aconteceria se eu passasse uma semana só comendo e bebendo coisas com infusão de CBD? Se o CBD faz tão bem, nada além de CBD poderia fazer maravilhas por mim?
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Para ter certeza que não estava inadvertidamente entrando no coma mais suave da história, consultei Allan Frankel, médico fundador do Greenbridge Medical Services e especialista em cannabis medicinal, para saber os efeitos colaterais em potencial de uma dieta com tanto CBD.
“Não há risco aqui”, me garantiu Frankel quando contei meus planos. “Só não vá comprar produtos de cânhamo da China ou Eslovênia porque eles contêm metais pesados.”
Felizmente, consegui meus produtos de CBD para a semana através dos meus contatos no mundo surpreendentemente vasto das relações-públicas da cannabis, então não estava preocupado com os níveis de pureza da cornucópia de artigos cultivados e processados nos EUA que me mandaram para ajudar na minha jornada.
Comecei a primeira manhã do meu experimento como qualquer um faria: pulando um café da manhã saudável em favor de virar várias bebidas com alta cafeína que me ajudariam a chegar até a hora do almoço. Mas dessa vez, minhas escolhas de bebidas energéticas como café ou ácido de bateria foram substituídas por Cannabis Quencher Sips de romã e açaí, uma bebida cheia de CBD que é tipo um shot de rebite. Ignorando as instruções da embalagem de que as garrafas são para beber lentamente, virei duas de uma vez e esperei para ver se os estimulantes ou os calmantes do coquetel reinariam supremos. No final das contas, não senti muita coisa a não ser ligeiramente menos cansado. Tenho certeza que é sempre assim que me sinto nessa hora do dia, então… sucesso?
Para minha primeira refeição, usei uma tintura da La Vida Verde para colocar umas gotas de óleo de CBD no meu almoço: torradas com abacate que preparei sozinho como um bom millennial. Como não há muitos produtos de CBD que não sejam só petiscos no mercado, o que não permitiria atingir as calorias recomendadas para um dia, quanto mais criar uma dieta balanceada, essa abordagem de infusão seria uma boa porção do meu consumo do extrato. E quando o óleo não combinava com a comida que eu queria dosar, eu quando eu queria misturar coisas, eu substituía as gotas por CBD em pó fornecido pela Mondo Goods, colocando pitadas nas minhas refeições para ter o mesmo efeito.
Durante o dia eu me reidratava periodicamente com a boa e velha H2O com infusão de CBD da Root Origins. Continuei tendo dificuldade para separa meu estado normalmente sonolento dos possíveis efeitos do produto.
Assista ao nosso documentário “A Legalização da Cannabis no Brasil”
Para me recompensar por um enfadonho primeiro dia, e porque eu não tinha sentido ainda nenhum efeito discernível, decidi comer metade de uma barra de chocolate com CBD da Blank Brand como sobremesa tardia/ajuda para dormir. Diferente dos outros produtos, esse contém um pouco de THC também, mas só o suficiente para complementar o CBD, não superá-lo. Pelo menos foi isso que colegas e amigos mais familiarizados com a abordagem “dois em um” de canabinoides me garantiram. Depois disso, fui para a cama me sentindo relativamente normal, mas acabei ficando muito chapado durante o sono. Eu estava tão louco que no meio de um sonho, passei por estágios de lucidez cada vez maiores, onde primeiro entendi que estava sonhando, daí percebi que estava viajando enquanto sonhava, lembrei o porquê, e finalmente fiquei pensando se sonhos lúcidos são um efeito colateral do CBD, tudo isso ainda dormindo. Acordei no dia seguinte menos descansado do que gostaria, mas feliz por finalmente ter sentido alguma coisa com o meu experimento.
Os três dias seguintes foram similares ao primeiro, colocando óleo ou pó de CBD nos alimentos que me forneciam sustância em doses cada vez maiores. Quando sentia fome, eu tomava refrigerantes com CBD da Sprig ou comia doces enroladinhos de frutas chamados “Fruit Slab”. Esses e todos os outros produtos eram gostosos, mas estavam começando a parecer qualquer coisa, particularmente porque eu ainda não tinha notado nenhuma melhora no meu bem-estar geral. Percebi que eu precisava de uma abordagem mais drástica se queria alcançar toda a glória do CBD.
No quarto dia, além da minha rotina normal, comecei a carregar um tubo de spray de CBD Botanika no bolso e espirrar o produto periodicamente na minha boca. Não tinha o mesmo efeito de um spray para o hálito, mas senti minha boca formigar um pouco. Mas eu sabia que era só um efeito superficial. E comecei a ficar preocupado. Meus resultados até agora eram inconclusivos na melhor das hipóteses.
Decidindo que o problema era minha metodologia de infusão, decidi procurar ajuda no quinto dia da minha semana CBD. Fui até a Moon Juice, uma loja de bem-estar new age cheia de cristais em LA, para comprar os sucos deles de US$ 10 e doses de CBD de US$ 6 para misturar. Infelizmente, não senti diferença entre essas bebidas e minhas misturas caseiras além da carteira mais leve. Ironicamente, minha preocupação crescente com o experimento ser um fracasso estava me dando ansiedade.
Voltei para minha dosagem autoadministrada normal no sexto dia igualmente sem eventos. Percebi que tinha que pegar pesado no final, mesmo que isso significasse me comportar de um jeito que o Dr. Frankel e as empresas por trás desses produtos não aprovariam. Eu ia sentir alguma coisa ou morrer tentando.
Abandonei todas as pretensões no último dia e comi minha comida sem misturas, em vez disso simplesmente jogando colheradas de CBD em pó na boca em cada refeição. Quando isso ainda não me fez sentir nada além de um pouco grogue, escolhi a opção nuclear de beber todo o óleo de CBD. Finalmente minha tolerância sobre-humana foi subvertida e a droga bateu forte. Minha cabeça ficou pesada, meu estômago borbulhava ferozmente e comecei a sentir uma profunda disforia que durou muito mais que a mega soneca que tirei para passar. Sucesso?
Apesar desse resultado anti-climático para minha semana, não estou disposto a pegar o bonde do “CBD é óleo de cobra”. Afinal de contas, eu não estava tentando tratar nenhum sintoma. Obviamente, há muitos relatos de efeitos positivos para o CBD – mas em se tratando da minha pessoa, o composto não fez muito pelo meu “bem-estar”. O primo dele por outro lado, o THC, continua nas minhas graças.
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