Uma tarde no porão secreto de hackers em São Paulo

Num subsolo no Centro de São Paulo, eu puxava conversa com um rapaz à frente de um laptop com a tela lotada de códigos quando, ao lado, outro garoto o cutucou. “Toma cuidado e não mostra muito, não”, disse, discreto. Ele arrastou o computador o suficiente para tirar a máquina da minha vista. Naquele instante, saquei que o papo tinha acabado.

Lá fora, o sol brilhava numa manhã de sábado fria na medida certa. Dentro, em uma espécie de galpão escuro, estava prestes a começar a primeira Leakon, uma conferência subversiva de hackers. A ideia era ser contrário a eventos semelhantes de cunho corporativo onde o marketing pessoal e competições do tipo capture the flag dão a tônica. Ali a parada era real. No porão, iluminado em sua maioria por luz negra e com todas as câmeras de segurança bloqueadas, juntaram-se uns 50 homens, a maior parte deles na casa dos 30 anos, com mais exceções para baixo do que para cima. O clima era de curtição, quase como uma galera das antigas que se reencontra para um churrasco.

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Assim que desci, chamou atenção o som alto que tocava Prodigy. Somado ao resto do cenário, isso dava ao rolê uma aura clichê de filme hacker dos anos 90. Para completar, o crachá — ou badge — era uma peça estilizada parecida com um arduíno. O meu, uma versão rafamé, veio limpo. O de todos os outros participantes tinha quatro conectores de rede e permitia interceptar a transmissão de dados se instalados no meio de um sistema de cabos. Além disso, alguns dos badges também continham pequenos displays de LCD, que, quando acesos, criavam um visual ainda mais interessante.

Com exceção de dois caras que vestiam branco, o resto usava preto — grande parte deles com a camisa oficial da Leakon. A falta de cor destacava uma mulher que fazia a porta da conferência. Enquanto eu andava como barata tonta, ainda buscando me situar no espaço, ouvi ela perguntar meio chateada para um dos organizadores se tinham cortado a rede. Depois de uma risadinha, ele respondeu: “É para sua própria segurança”. Era um aviso para mim também. A responsabilidade sobre a segurança dos dispositivos de cada um era por conta própria. Imerso numa cultura onde a a onwagem e a zoação são características fundamentais, não deixei meu celular sair do modo avião.

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