Drugs

Pesquisadores anunciaram o primeiro teste clínico já feito combinando MDMA e LSD

Eles acreditam que a euforia do ecstasy pode ajudar a tirar a paranoia de uma viagem de ácido — tornando a combinação uma poderosa ferramenta terapêutica.
Gavin Butler
Melbourne, AU
MS
Traduzido por Marina Schnoor
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Imagem via Getty.

Cientistas vão começar a investigar se os resultados para pacientes passando por psicoterapia com ajuda de psicodélicos podem ser melhorados com uma dose combinada de LSD e MDMA.

O teste clínico Fase 1, liderado pela empresa de farmacêutica de psicodélicos MindMed, que deve começar ainda este ano, será o primeiro teste clínico robusto a investigar o que acontece quando você mistura MDMA e ácido. Pesquisadores acreditam que as propriedades de empatia do MDMA pode ajudar a tirar a paranoia da viagem de LSD.

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“O MDMA-LSD tem o potencial de criar um estado psicológico com os benefício das duas substâncias, e efeitos de duração mais longa do que a psilocibina e LSD sozinhos”, diz o Dr. Matthias Liechti, professor de farmacologia clínica da Universidade de Basileia na Suíça e chefe do laboratório de pesquisa envolvido no estudo.

“Induzir uma resposta principalmente positiva durante terapia assistida com psicodélicos é fundamental, porque vários estudos mostraram que experiências mais positivas estão ligadas a efeitos terapêuticos de longa duração nos pacientes”, ele diz.

O estudo terá uma amostra inicial de 24 participantes saudáveis, cada um passando por quatro sessões experimentais diferentes. Nas sessões, os pacientes receberão: 100 microgramas de LSD misturado com um placebo de MDMA; um placebo de LSD misturado com 100 miligramas de MDMA, um placebo de LSD com um placebo de MDMA; e 100 microgramas de LSD misturado com 100 miligramas de MDMA.

Os pesquisadores vão acessar os efeitos de cada combinação, além de outros efeitos como batimentos cardíacos, pressão sanguínea e temperatura corporal. O Dr. Liechti tem a hipótese de que as duas drogas juntas podem funcionar sinergicamente para entregar resultados terapêuticos maiores do que quando administradas sozinhas.

“Num cenários controlado, as doses de MDMA e LSD aumentam sentimentos de proximidade e confiança, e impedem a identificação de emoções negativas, incluindo medo e tristeza”, ele observou anteriormente num relatório do Departamento de Biomedicina da Universidade de Basileia. “Esses efeitos do MDMA e LSD no processamento de emoções podem ser úteis para psicoterapia com auxílio de substâncias.”

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Vários estudos e testes clínicos pelo mundo investigaram o potencial de LSD e MDMA separadamente como tratamento psicofarmacológico para transtorno de estresse pós-traumático e ansiedade.

Um estudo comparando os efeitos de cada substância descobriu que enquanto o LSD produz efeitos muito mais agudos que o MDMA — com classificação mais alta entre os participantes em termos de potência, reações boas e ruins, e experiência de dissolução de ego — a droga tinha mais chances de resultar em sentimentos de introversão e ansiedade. Pesquisadores envolvidos no teste clínico marco da MindMed acreditam que uma combinação das duas substâncias pode ajudar a mitigar esses riscos: com a influência do MDMA, uma droga conhecida por induzir sentimentos de conforto e bem-estar, eles esperam reduzir algumas das experiências negativas ou opressivas associadas com o LSD.

Claro, pessoas comuns do mundo todo vêm conduzindo seus próprios experimentos de mistura de ecstasy e ácido há décadas. A combinação, popular entre usuários de drogas recreativas desde pelo menos o começo da década de 80, é conhecida como “candyflipping”.

Mas o problema é que dados científicos sobre o combo LSD-MDMA em indivíduos são escassos, significando que os efeitos não são compreendidos totalmente em termos médicos.

“Combinar LSD e outros psicodélicos com MDMA produz uma viagem particularmente intensa. A combinação tem efeitos mais fortes do que você esperaria das drogas individualmente”, disse Matthew Baggott, neurocientista que estuda a farmacologia de psicodélicos, a VICE este ano. “Infelizmente, a combinação também aumenta os efeitos tóxicos do MDMA, incluindo nos neurônios que produzem serotonina.

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“Dopamina liberada em excesso num cérebro que já está trabalhando mais que o normal pode produzir muito estresse oxidativo [um desequilíbrio nos químicos do corpo que pode levar a danos nas células e tecidos].”

Então parece que muito mais pesquisa é necessária para entender melhor os efeitos do barato do LSD-MDMA, e como melhor utilizá-lo num cenário terapêutico. E a MindMed está liderando esses esforços.

No começo do ano foi revelado que a companhia farmacêutica de psicodélicos e o Dr. Liechti também estavam trabalhando no desenvolvimento de um composto neutralizador de LSD, que funcionaria como um “botão de desligar” para uma viagem de ácido que se tornar muito desconfortável — dando aos usuários a opção de abortar uma bad trip entre 20 a 30 minutos. Eles esperam que o composto também ajude a melhorar a psicoterapia com ajuda de LSD, já que uma das maiores questões envolvendo o uso da droga em cenário clínico é que seus efeitos duram muito tempo.

“Se podemos neutralizar o LSD, podemos ajudar em situações de emergência”, diz Scott Freeman, médico chefe da MindMed. “Nossa preocupação é: Podemos criar uma experiência terapêutica melhor?”

A Fase 1 do teste com MDMA-LSD deve começar na Universidade de Basileia no final do ano. Os pesquisadores ainda não estão recrutando participantes.

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