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Sexo

O NSFW achou um lar aconchegante no Patreon

Cozinheiros pelados, cosplayers kinky e figuras públicas desinibidas adotaram a plataforma de monetização.

Você pode pagar 10 dólares por mês [cerca de R$ 30] no Patreon para assistir a Cozinheira bater ovos, abrir a massa e acrescentar os ingredientes secos aos molhados, tudo isso nua. Ela começa cada uma de suas apresentações em pé do outro lado de uma mesa numa cozinha, o rosto fora do enquadramento, e se despe silenciosamente na frente de uma tigela de cerâmica com os ingredientes do dia. Aí ela começa sua aula, mostrando, digamos, sua receita de cookies de chocolate (entre outras) e fazendo uma pausa para lembrar seu público que a manteiga tem que estar em temperatura ambiente na hora de misturar à massa. "É uma questão de aerar os ingredientes", ela diz. "Você está criando esses pequenos bolsos de manteiga e ar. É onde está a textura certa."

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A Cozinheira chama seu programa de "Naked Bakers" porque alguém já tinha pego "Naked Baker". É um conteúdo exibicionista, ocasionalmente erótico, mas não diretamente pornográfico. Não é uma paródia pornô de um programa de culinária ou um strip-tease escondido atrás de um verniz de Food Network. Os episódios dela são deliciosamente caseiros — transmitidos candidamente de seu apartamento em Los Angeles, nos EUA — e conseguiram sucesso suficiente para apoiar vários spinoffs. Os US$10 de mensalidade também te dão acesso ao Snapchat privado dela, onde você pode ver a Cozinheira fazendo jardinagem nua, faxina nua, drinques nua e ioga nua.

Alguns meses atrás, ela era assistente de produção de programas de televisão em algum lugar da máquina de Hollywood, mas quando as produções rarearam, ela se juntou ao Patreon e percebeu que as 350 pessoas dispostas a pagar para assisti-la cozinhar pelada eram mais que suficientes para cobrir o aluguel e sua conta de telefone. "Meu chefe de produção me ligou e disse 'Ei, tenho um novo programa, você quer participar?', e eu disse 'Honestamente, quero tentar mais disso primeiro", disse ela.

O Naked Bakers existe de uma forma ou de outra desde 2015, quando a Cozinheira e amigas tiveram a ideia do canal numa noite regada a vinho. As amigas acordaram sóbrias no outro dia e rapidamente pularam do barco, mas a Cozinheira ainda estava interessada, e começou a transmitir o protótipo de seu programa de culinária exibicionista em seu Snapchat público. Rapidamente ela ganhou uma boa base de seguidores e desfrutou de um breve momento sob os holofotes antes de sua conta ser derrubada. Cozinhar pelada, veja só, vai contra as diretrizes comunitárias do Snapchat.

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Decidida a monetizar seu produto, a Cozinheira registrou outros perfis no Snapchat tão rápido quanto os moderadores conseguiam derrubá-los — primeiro através do Venmo, que fechou a conta dela depois de descobrir que a Cozinheira estava trabalhando com a ajuda da infraestrutura civil do aplicativo. O Paypal, o sistema de pagamentos mais antigo e onipresente da internet, também fechou a conta dela.

O Patreon foi o salvador. Como o Motherboard reportou ano passado, há uma longa história de serviços comerciais deixando criadores de conteúdo adulto na seca. Visa e Mastercard colocam taxas de processamento pesadas sobre qualquer produto relacionado à indústria do sexo, e essa é a principal razão para empresas como o PayPal e Stripe recusarem vendedores XXX em seus mercados. Esse é um precedente que se infiltrou em conglomerados de redes sociais como o YouTube, Instagram e Snapchat, que também têm políticas intransigentes com conteúdo adulto. Mas o Patreon é diferente. O site suporta meios de comércio mainstream como Stripe e PayPal, e também é uma das poucas plataformas monetizadoras que aceita conteúdo NSFW. Para a Cozinheira, isso significou que ela podia gerar renda ao ficar nua no seu programa de receitas sem ter que se voltar para algo suspeito como o Bitcoin.

Apesar de aceitar mais esse tipo de conteúdo que outras opções, há limites para o que passa pela peneira da plataforma. Como já era de se esperar, o Patreon não vai hospedar nada que fetichize crianças ou retrate violência sexual, e campanhas NSFW não aparecem nos resultados de busca ao lado de projetos mais family-friendly. O Patreon também é linha-dura contra qualquer coisa que considere categoricamente pornografia. "Definimos conteúdo adulto no Patreon como algo que teria uma classificação 18 anos. Nesse sentido, nudez e imagens sugestivas são permitidas desde que sejam marcadas como Conteúdo Adulto", disse um porta-voz do Patreon numa declaração à VICE, repetindo as políticas da empresa especificadas em suas Diretrizes Comunitárias. "Definimos pornografia como conteúdo que glorifica ou celebra o ato de excitação sexual."

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Ainda assim, a flexibilidade do Patreon é radical quando você considera quão conservadoras são as outras opções.

"O Patreon diz 'Ei, pode fazer suas coisas. Não vamos te penalizar por algo que não funciona com nossos patrocinadores'", diz a Cozinheira. "Não há muitas plataformas que vão dizer 'É, cozinhar pelada, grande ideia!'"

O mais interessante sobre a união do Patreon com produtores de conteúdo NSFW é como ele devolve a autoridade criativa e administrativa nas mãos dos criadores. Kayla Erin é uma mulher de 20 anos da Austrália que abriu seu hobby de cosplay softcore no Patreon em janeiro. Por uma taxa nominal, você pode desbloquear as adaptações picantes dela de, digamos, a Misty do Pokémon ou a Cammy do Street Fighter. Ela me diz que tudo que posta no YouTube, Facebook e Instagram é imediatamente marcado como inapropriado, mesmo quando ela tenta seguir os estreitos termos de serviço. "Eu gostaria que essas plataformas fossem mais abertas a nudez artística, mas considerando como já é difícil monitorar o que é apropriado ou não, provavelmente não vai acontecer", diz Kayla.

Erin não vai assinar um contrato com uma agência de modelos. Ela está construindo a própria carreira e, assim, colocando seus próprios limites e regras. Para uma indústria que tem a reputação de ser exploradora, especialmente com jovens mulheres, essa liberdade é muito importante.

"Com o Patreon, tudo que você faz é escolha sua", diz Erin. "Depende de você — o que você quer fazer, como quer fazer. É uma ótima plataforma que beneficia tanto criadores quanto clientes."

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Mariah "Momokun" Mallad, outra cosplayers de boudoir no Patreon, me disse que responder aos seus assinantes no lugar de dar satisfações a um chefe. Assim, ela conduz pesquisas de marketing com seu público, e também alimenta novas amizades. "Tenho essa comunidade", diz. "Conversamos sobre tudo."

Usar o Patreon para explorar os limites da liberdade artística não é necessariamente algo único do setor NSFW. Como a Cozinheira apontou, um dos grandes nomes do Patreon é Philip DeFranco — um YouTuber veterano que posta transmissões diárias em seu canal. DeFranco tinha um dos canais mais assinados do site, mas o algoritmo volátil de propaganda do YouTube frequentemente desmonetizava conteúdo que não caía bem aos patrocinadores da corporação, então ele se sentiu mais confortável investindo diretamente em seus consumidores. "Renda de propaganda para pessoas que falam sobre tópicos importantes e controversos está despencando", ele diz em seu vídeo de abertura no Patreon. "É um grande problema que parece que vai apenas piorar no futuro."

Devido os padrões conservadores das outras plataformas, esse é um problema que a Cozinheira nunca teve a oportunidade de experimentar. Em vez disso, ela faz seus cookies, bolos, biscoitos e strudels nua no Patreon, para um público pagante grande o suficiente para conseguir estabilidade no conforto de sua cozinha. É algo que prova que no século 21— literalmente qualquer coisa — pode ser seu trabalho.

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