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Identidade

Afinal de contas, o tamanho do pênis importa tanto assim?

Uma (micro) investigação.
Crédito: Charles Deluvio/Unsplash.

Se você é um ser vivo que respira e raciocina, provavelmente alguma vez já se deparou com o tópico sobre o tamanho de pênis. Não importa, você alguma vez já refletiu se a respeitabilidade de um pinto deve ser medida ou não pelo seu comprimento. Até quando você não quis pensar nisso o mundo te obrigou. Seja pelo spam mais antigo da internet do “Aumente seu pênis” ou através de reportagens, pesquisas e propagandas que discutem se é possível aumentar o tamanho do pinto ou se o bendito faz tanta diferença assim na hora do sexo. Falar de tamanho de pênis é falar sobre como a cultura do machismo impacta nossa vida sexual.

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“Há cinco mil anos, desde o surgimento do patriarcado, o tamanho do pênis é associado à força, potência e virilidade, e desde pequenos os meninos são condicionados por esse mito”, explica Regina Navarro Lins, psicanalista, escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar" e também participante e consultora do programa Amor e Sexo na Rede Globo.

Essa preocupação masculina em ter um pênis grande está inserida também no conceito de masculinidade que o sistema patriarcal da sociedade estabelece. Ou seja, aquela figura do homem viril, pintudo, forte, hipersexual e rico em contraponto à imagem que é imposta às mulheres de serem passivas, virginais, sensíveis e cuja atuação sexual se resume à satisfazer seu parceiro para eventualmente gerar um filho e perpetuar a espécie. "O homem presta muito mais atenção ao seu pênis do que a qualquer outra parte do seu corpo. Cuida dele, protege-o acima de tudo. Orgulha-se de sua forma, tamanho, qualidade e desempenho. Imaginar ter o pênis pequeno é um drama sexual masculino, embora na maior parte dos casos não haja motivo para tanto sofrimento.", explica a psicanalista.

Assim como as mulheres passam a vida toda sendo medidas pelo seu peso corporal e beleza física, os homens também são avaliados pelo tamanho de seu pênis. Por isso, aqueles que possuem pênis abaixo da média ou realmente muito pequenos são vistos como coitados incapazes de agradar mulheres ou de algum dia ter um relacionamento amoroso. Já os que têm pênis grande são sortudos, representantes da virilidade masculina e desde sempre vistos como garanhões entre as mulheres.

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Entre as mulheres, o tamanho do pênis é relativo para uma boa transa. Assim como cada homem tem um pênis diferente, cada mulher também tem uma vulva, grandes lábios e canal vaginal diferente. Para algumas, o tamanho é fundamental para terem prazer com a penetração. Já para outras, é a espessura que vai fazer diferença. No entanto, grande parte das mulheres com vida sexual ativa acreditam que não é só com o pênis que se faz um bom sexo.

“Se for pra ficar com uma pessoa que tem pinto, médio e grosso é o ideal, grande tem que ficar tomando muito cuidado porque me machuca de sangrar e eu gosto da coisa um pouco mais bruta”, explica a estudante A.M que é bissexual e afirma que o tamanho do pênis não é sua preocupação número 1 quando vai transar com um homem. “Nunca fiquei com ninguém de pau muito pequeno, mas um carinha que peguei tinha um muito fino e sinceramente dava pra sentir mais se ele me dedasse, mas, na real, pra mim o que importa é saber fazer oral direito, se me faz gozar e se eu achar um meio de fazer a pessoa gozar, tá ótimo.”

No caso de Santuzza Souza, que é prostituta em Belo Horizonte e militante putafeminista, tamanho é documento. “Já cheguei a pensar que não faria, hoje depois de ter tido a oportunidade de experimentar vários comprimentos e espessuras, vejo que faz diferença. O tamanho do pau vai complementar todo aquele momento de prazer”, diz a trabalhadora sexual que afirma que muitos clientes que possuem pênis abaixo da média já chegam se desculpando sobre o tamanho. Mas nem tudo é tragédia. “Homens de pinto muito pequeno tem que aprender a fazer um bom sexo oral e usar de apetrechos, brinquedos eróticos. Eu tenho cliente que usa cinta comigo”, conta.

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A preocupação excessiva com o pênis e se a parceira vai contar para as amigas sobre o tamanho dele acaba eclipsando outras questões bem mais pontuais para um bom sexo como explorar outras partes do corpo e frear um pouco essa ânsia masculina em ejacular e finalizar o ato. Até porque nem todas as mulheres conseguem ficar com tesão tão rápido assim. Além disso, cabe a gente se perguntar sobre como esses homens tão obcecados pelos próprios pênis enxergam o sexo fora da penetração.

Lins confirma essas questões. “Grande parte das mulheres concorda que a habilidade do parceiro para usar seu pênis é fundamental. Assim como o toque, o jeito de olhar, a tranquilidade — ao contrário da pressa em ejacular. Enfim, vários outros aspectos são tão importantes quanto as medidas. As maiores queixas das mulheres no sexo não são em relação ao tamanho do pênis, e sim quanto à sintonia que o homem estabelece com a parceira”, diz.

Nas relações entre homens gays, a questão do pau grande em alguns casos virou até uma espécie de fetiche. No entanto, para Gustavo Ferreira, assistente de marketing no Sexlog.com e no Ysos, o tamanho não representará nada se quem está anexado a ele não colaborar. “(…) Diversos caras com pau médio e pequeno dão uma surra nos pintudos quando o assunto é performance na cama. Usar o tamanho do pau pra escolher homem é cilada. Se o cara não sabe usar pode até te machucar, inclusive. Já passou da hora de a gente achar que o pau manda no sexo. Tem tanta coisa envolvida na transa que a preocupação com o pau acaba ficando meio besta, mas a gente homem cresce ouvindo que isso é importante e as vezes fica até frustrado achando que não vai satisfazer os outros”, explica.

Entre mulheres lésbicas, a presença de um apetrecho fálico varia, o que já depõe a favor da ideia de que uma boa transa independe da presença de um pau. “Sou uma pessoa não-binária transmasculina que não vê pau de carne tem mais de ano, porém já sentei muito nessa vida e não tenho nada contra homem cis até a hora que eles começam a falar. Então tenho uma opinião forte sobre pau,” conta a gerente de projetos T.F, que pediu para ter seu nome ocultado da reportagem. “As pessoas reclamam que lésbica não tem pau, mas na verdade isso é bom, porque pode escolher na loja um do tamanho ideal pra você. Quando você tá numa relação com uma mina trans ou um boy cis, tem que lidar com o que já veio de fábrica, e nem sempre veio do seu tamanho. O meu ideal particularmente é médio pra pequeno, e importa bastante, visto que eu não posso trocar de pau sem trocar de pessoa. Saber usar é fundamental.”

Embora ainda falar de sexo heterossexual seja centrada no pênis masculino, na medida que o homem começar a questionar a ideia passada pra ele como um homem deve se portar numa transa e entender melhor anatomia feminina e os seus pontos de prazer, ter um pinto gigante, médio ou pequeno vai se tornar uma questão, com o perdão da palavra, minúscula.

“A área de maior sensibilidade na vagina é a parte anterior, principalmente os cinco centímetros na entrada do canal vaginal, onde se localiza o ponto G. Todo órgão masculino é capaz de tocar aí. Não há sensibilidade na metade posterior do canal vaginal, por isso não é necessário um pênis muito longo”, finaliza Navarro.

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