Bandeira do movimento LGBT
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saúde mental

A saúde mental das minorias no Brasil de Bolsonaro

"O período das eleições aumentou a sensação de desproteção e não pertencimento", diz psicóloga.

Se você, assim como eu, faz parte de uma minoria, deve saber que ansiedade e depressão, infelizmente, não são necessariamente novidades entre mulheres, negros e pessoas LGBT+.

De acordo com uma pesquisa realizada pelo Instituto de Ciências Médicas da Unicamp, homossexuais têm tendência maior a desenvolver transtornos mentais em comparação a jovens heterossexuais da mesma faixa etária. Entre os fatores de risco para aumento desses casos, está a discriminação enfrentada por esse grupo.

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Analisando 14 pesquisas sobre transtornos mentais, a pesquisadora americana Jenny Rose Smolen chegou à conclusão de que não-brancos têm mais tendência a sofrer com doenças como depressão.

O medo da não aceitação, da discriminação que pode ser enfrentada em casa e nas ruas, seria um dos responsáveis pela ansiedade.

Em entrevista à BBC, a especialista em psicologia social e escritora Gabriela Moura traz uma perspectiva interessante. "Quando você se vê diante de um perigo, o seu nível de cortisol aumenta. Só que o nosso corpo foi feito para que isso aconteça num período de cinco, 10 minutos, que é o tempo de você entrar em estado de alerta e fugir do perigo", ela explica. Em uma situação de preconceito, de violência social, o indivíduo se vê nessa situação o tempo todo, então, passa 24 horas em estado de alerta. "Não sabendo se ele vai ser bem recebido, não sabendo se ele vai sofrer violência policial, violência urbana, e isso a médio ou longo prazo causa uma extrema fadiga no corpo e na mente", avalia.

Mas essas eleições parecem ter mexido ainda mais com a cabeça de quem já está acostumado a conviver com situações de opressão.

Foram inúmeros os relatos de psicólogos sobre o estresse gerado durante o período eleitoral.

De acordo com Adriane Lobo, psicóloga e especialista em psicodrama, "o período das eleições aumentou a sensação de desproteção e não pertencimento entre negros, LGBTs, mulheres. Essas populações vinham ganhando espaço, vinham afirmando a sua identidade e construindo sua auto-estima. Com as ameaças representadas pelo aumento do conservadorismo, veio o medo e algumas doenças psicossomáticas, como ansiedade, situações de estresse e depressão, pensamentos suicidas".

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Ela e o psicólogo Henrique Coelho Netto criaram, durante as eleições, grupos de apoio para pessoas LGBT+ passando por situações de estresse e ansiedade durante as eleições.

Mas, se a situação já não estava muito fácil, como lidar com ela agora que Bolsonaro foi eleito?

Adriana pontua que, entre a nossa geração, após algumas conquistas dos movimentos feminista, LGBT+ e negro, a ideia de um retrocesso, a perspectiva de voltar para uma realidade de exclusão, ainda que já fosse uma realidade vivenciada por muitos, parece ser a principal fonte de medo.

Diante disso, ela alerta: que esse medo não seja razão de paralisia.

"Buscar ajuda, caso o medo esteja muito grande, é fundamental. Também porque existe o medo real, aquele que se coloca diante do que está acontecendo, e o imaginário, a ansiedade diante do desconhecido. Nesse momento, buscar ajuda profissional, mas também se aproximar de redes de acolhimento, é fundamental", ela aconselha.

Ela ainda recomenda, pelo menos em um primeiro momento, um afastamento de pessoas, comentários e notícias que possam aumentar a sensação de insegurança e desesperança, o que, segundo ela, envolveria um afastamento temporário de redes sociais.

Como pontuou Christian Dunker em entrevista por aqui, ao mesmo tempo em que esse foi o momento de enxergar quem é quem, das frustrações em relação a amigos e familiares, foi também a oportunidade de enxergar aqueles que estão dispostos a acolher.

"É nessa hora que surgem os heróis anônimos, que nos estendem a mão de onde menos esperávamos", observou.

Diante disso, Adriane sugere a autopreservação e a busca por grupos de apoio, o que não significaria ficar alheio ao que está acontecendo, mas buscar forças para encarar os medos reais.

Os números já não estavam a nosso favor. Mas isso pode acabar sendo positivo para enfrentar esse momento, afinal, a sobrevivência e a resistência não nos são novidades.

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