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O Ciclone Idai deixou cidades inteiras debaixo de água e centenas de mortos no Sudeste de África

Chuvas torrenciais e cheias fortes provocaram mortes e afectaram milhões de pessoas em Moçambique, Zimbabué e Malawi.
Ciclone Idai provocou centenas de mortes e afectou milhões de pessoas em Moçambique, Zimbabué e Malawi.
Residentes aguardam ajuda em cima dos telhados, em Buzi, no centro de Moçambique, área que ficou completamente inundada depois da passagem do ciclone Idai. Foto captada a 20 de Março de 2019. (ADRIEN BARBIER/AFP/Getty Images)

Este artigo foi originalmente publicado na nossa plataforma VICE News.

Quando na última quinta e sexta-feira, 14 e 15 de Março, o Ciclone Idai atingiu Moçambique, o Zimbabué e o Malawi, os ventos de 160 km por hora e as chuvas fortes deixaram centenas de mortos e milhões mais de afectados, em algumas das cidades e áreas rurais mais pobres do Hemisfério Sul.

[Nota do editor: Ontem, quarta-feira, 20 de Março, o Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Luís Carneiro, em Maputo, confirmou à imprensa que há pelo menos 30 portugueses com quem as famílias não conseguiram entrar em contacto, estando as autoridades a levar a cabo todos os esforços para que seja possível localizá-los. Também ontem o ministro português dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, confirmou em Lisboa, que uma força de reação rápida portuguesa, constituída por 35 militares, uma equipa cinotécnica e médicos estariam prestes a partir a bordo de um avião C-130, para apoiar as operações em Moçambique].

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O ciclone andava pelo Sudeste de Africa há duas semanas, mas ganhou força na última semana, deixando para trás o que as equipas de ajuda humanitária que entretanto estão no terreno chamam já de "a pior crise humanitária da história recente de Moçambique". As barragens foram destruídas e os rios transbordaram, bairros inteiros foram substituídos por autênticos oceanos em terra. As inundações levaram as pessoas a procurar refúgio no cimo de árvores e telhados para evitarem a maré de lama, provocaram um apagão generalizado e cortaram o acesso a milhares de pessoas que precisam de ajuda urgente.

"As pessoas que se vêem do ar são, provavelmente, as mais sortudas, a prioridade de momento é salvar o máximo de vidas possível", sublinha Herve Verhoosel, do World Food Program, à Associated Press.

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Moradores de uma zona inundada de Buzi, no centro de Moçambique, refugiaram-se nas bancadas de um campo de futebol. Foto captada a 20 de Março de 2019, depois da passagem do Ciclone Idai. (ADRIEN BARBIER/AFP/Getty Images)

O presidente moçambicano, Filipe Nyusi, avançou ontem com uma estimativa provisória de 200 mortos no país, mas alertou para a possibilidade de o número subir até mais de mil, porque a tempestade praticamente impossibilitou até agora a contagem real de vítimas. Num voo realizado na terça-feira, 19, sobre o país, Nyusi diz ter visto corpos a flutuar na água e nessa mesma noite, numa declaração transmitida pela televisão declarou três dias de luto nacional.

Já no Zimbabué, as autoridades confirmaram até ao momento 98 mortes, segundo a NBC News, mas a CBS News reporta uma estimativa de 300 mortes. Chimanimani, um destino turístico famoso que faz fronteira com Moçambique, sofreu as piores cheias. Os habitantes tiveram mesmo que começar a enterrar os mortos em covas pouco profundas, devido ao total colapso de hospitais e morgues, segundo a AFP.

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A family dig for their son who got buried in the mud when Cyclone Idai struck in Chimanimani about 600 kilometres south east of Harare, Zimbabwe, Tuesday, March, 19, 2019.

Uma família procura o filho, soterrado pela lama quando o Ciclone Idai atingiu Chimanimani, a cerca de 600 quilómetros a sudeste de Harare, Zimbabué. Foto captada na terça-feira, 19 de Março de 2019. (AP Photo/Tsvangirayi Mukwazhi)

No Malawi, há registo de 56 mortos, segundo reporta o Africa News. Nos três países juntos, mais de 2,6 milhões de pessoas sentiram o impacto da tempestade. Só no centro de Moçambique, mais de 400 mil pessoas ficaram sem casa.

“FIQUEI SEM NADA”

Moçambique - onde o Ciclone Idai chegou a 15 de Março - sofreu as consequências mais dramáticas. No país, as cheias chegaramem certas zonas aos seis metros de altura, segundo avançou um porta-voz da Cruz Vermelha ao New York Times. A quase totalidade da Beira, a quarta maior cidade e o porto para o Oceano Índico, foi destruída. "Fiquei sem nada. Perdi tudo. Não temos comida. Nem sequer tenho mantas. Precisamos de ajuda", disse uma mulher moçambicana à BBC.

Com a Beira quase toda arrasada e as estradas principais do país inundadas, muitos sobreviventes do Ciclone estão ainda presos em zonas remotas, cada vez mais em pânico, segundo a RTP. Nyusi comunicou entretanto que há mais de 100 mil pessoas "em risco", apesar de não haver ainda um número certo de quantas delas estão isoladas. A demora para salvar os sobreviventes pode levar ao aparecimento de surtos de cólera e malária, alerta o New York Times.

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Um mulher treme de frio à porta do que resta de uma casa na Beira. Foto captada a 19 de Março de 2019. Teme-se que mais de mil pessoas possam ter morrido em Moçambique. (EMIDIO JOSINE / AFP)

A Beira é uma importante plataforma comercial em Moçambique pelo que, sem acesso ao seu porto ou às estradas principais, começa a haver carência de comida e combustível nas zonas mais remotas do país. O World Food Programme da ONU já enviou cinco toneladas de ajuda de emergência e os seus responsáveis garantiram à CBS News que vão ainda mobilizar meios para ajuda a pelo menos mais 600 mil pessoas. Até lá, a World Health Organization diz à BBC que os seus trabalhadores precisam de mais apoio logístico.

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A União Europeia enviou 3.9 milhões de dólares em ajuda de emergência paras as áreas afectadas, segundo reporta o Washington Post e Inglaterra prometeu 7.9 milhões. Os Emirados Árabes Unidos comprometeram-se a enviar cinco milhões de dólares em bens como comida e medicamentos. Já as autoridades portuguesas garantem apoio logístico e financeiro e há equipas e meios já no terreno.

Uma média de 1.5 ciclones tropicais como o Idai atingem Moçambique todos os anos, segundo a National Geographic. No entanto, o aquecimento global e as alterações climáticas levaram a que a atmosfera retenha mais humidade, o que faz com que as tempestades tragam chuvas muito mais fortes.

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Casas debaixo de água numa zona inundada de Buzi, no centro de Moçambique. Foto captada a 20 de Março de 2019, depois da passagem do Ciclone Idai. (ADRIEN BARBIER/AFP/Getty Images)

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Um homem procura por familiares com a ajuda do seu cão. Foto captada a 18 de Março de 2019, em Ngangu, Chimanimani, província de Manicaland, no Sudeste do Zimbabué. (ZINYANGE AUNTONY/AFP/Getty Images)

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Pessoas caminham numa rua inundada de Buzi, centro de Moçambique. Foto captada a 20 de Março de 2019. (ADRIEN BARBIER/AFP/Getty Images)

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Praise Chipore, 31 anos, sobrevivente do Ciclone, numa cama Hospital de Chimanimani, província de Manicaland, Zimbabué. Foto captada a 18 de Março de 2019. (ZINYANGE AUNTONY/AFP/Getty Images)


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