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Vê o primeiro episódio de “Jungletown” e lê a entrevista com a realizadora, Ondi Timoner

mujer con cámara de cine

Depois da estreia no Canal Odisseia, podes agora ver em exclusivo e na íntegra, o primeiro episódio da série VICELAND, JUNGLETOWN, em que acompanhamos a jornada de um empreendedor norte-americano, Jimmy Stice, na tentativa de construir uma cidade sustentável no coração da selva do Panamá.

O projecto atraiu dezenas de jovens, que o seguiram até esta localização remota, ansiosos para ajudar a tornar o sonho em realidade. Mas, quando as coisas começam a ficar mais complicadas em Kalu Yala, os voluntários questionam se não terão cometido um erro. Abaixo podes ler uma entrevista à realizadora da série, Ondi Timoner.

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JUNGLETOWN, é transmitida todas as terças-feiras, às 23h30, em exclusivo no Canal Odisseia. E, como na VICE Portugal não queremos que te falte nada, aqui tens os primeiros episódios de cada uma das séries estreadas até ao momento. Fica atento às próximas novidades.


A primeira vez que a realizadora Ondi Timoner visitou Kalu Yala, o centro da nova série VICELAND no Odisseia, JUNGLETOWN, fê-lo por ser amiga de Jimmy Stice, o fundador e visionário do projecto que pretendia construir uma cidade sustentável, resistente às alterações climáticas, em pleno coração da selva do Panamá.

O que Timoner não esperava era que a sua viagem se tornasse num projecto que ainda hoje está em curso. Aliás, a fundadora e CEO da Interloper Films achava que os seus dias como realizadora de documentários tinham chegado ao fim, depois da controvérsia que causou com Dig! e We Live in Public (que analisa a questão da privacidade na era digital). Ainda assim, Timoner não sabe dizer que não a oportunidades tão irresistíveis como a de Kalu Yala e, uma vez dentro, deu tudo pelo projecto. “Filmei 2,5 terabytes em, não sei, dois dias?”, afirma.

Ondi Timoner, em Kalu Yala

De volta aos EUA, Timoner apresentou a ideia à VICELAND e, depois de aprovada, entregou um reel de 80 minutos com uma semana de antecedência. “Perguntei ao Spike [Jonze, co-presidente da VICELAND]: tenho luz verde? Porque posso aproveitar o fim-de-semana para convencer umas quantas pessoas a que deixem para trás a sua vida e se mudem para o Panamá durante três meses”. E foi exactamente isso que fez: em apenas duas semanas, Timoner gravou uma história na qual explora todo o tipo de temas, desde as relações interpessoais às alterações climáticas.

Falámos com Timoner quando ia a caminho de uma festa em Hollywood; enviou-nos fotografias do seu cão Trixie e conversámos sobre tudo: documentários, ambições e, claro, Kalu Yala.

VICE: Grande parte do teu trabalho tem o formato de documentário e implica um certo grau de imersão da tua parte em diferentes culturas. Como foi no caso de Kalu Yala?

Ondi Timoner: Os donos de uma startup de Los Angeles viram We Live in Public e ficaram obcecados com a ideia de que lhes fizesse um documentário. Insistiram muito e enviaram-me fotografias, assegurando-me que iam mudar o Mundo. Fui a uma conferência de startups e descobri que aquilo se tinha convertido numa espécie de cantina de empreendedores, com projectos que prometiam mudar o Planeta por muito menos dinheiro, mais rápido que nunca e dedicando menos recursos humanos. A outra face da moeda de We Live in Public era aquela incrível oportunidade democratizadora que a Internet representava e que oferece a liberdade de vender directamente aos consumidores e de se ter uma relação mais próxima com os fãs.

Comecei a aceitar convites para eventos como as Summit Series e a Hatch Conference e, nesta ultima, conheci Jimmy Stice. “O que fazes?”, perguntei-lhe. “Estou a construir a cidade mais sustentável do Mundo na selva do Panamá”, respondeu-me. “Não percebo muito bem o que acabaste de dizer, mas parece-me muito estranho”, disse-lhe. Um ano depois voltámos a encontrar-nos na Hatch e ele disse-me “Ondi, tenho que encontrar uma maneira de contar a minha história. Porque é que não vens dar uma vista de olhos, como amiga?”. Viajei até lá e o que encontrei pareceu-me tão incrível que comecei imediatamente a gravar. Gosto de filmar de forma prolongada no tempo, já que o tempo oferece as melhores histórias da vida.


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É interessante, porque estes jovens enfrentam um Mundo muito pouco prometedor no que ao meio ambiente diz respeito. Pela primeira vez, com este projecto, a sustentabilidade parece fazível, uma solução atraente, carregada de potenciais soluções e também de problemas, mas tangível. É uma experiência tremendamente inspiradora, que podia mudar a visão destes miúdos e da sua passagem pelo Planeta. Para aqueles de nós que não estamos preparados para ir viver para a selva do Panamá, isto dá-nos uma oportunidade para reflectir sobre as poucas coisas que estamos ou não a fazer a este respeito. É um projecto que nos entretém e que nos faz reflectir.

A série joga, precisamente, com a justaposição de uma utopia e da realidade. Vemos que os voluntários acabam muito chateados e alguns dos que conheces no primeiro episódio abandonam por varias razões. E não é que não desejem que esta visão se torne realidade, é mais por uma questão de pensarem se é realmente possível e como. São grandes desafios, mas se os consegues superar e tornar este sonho realidade, Kalu Yala é onde vais querer estar quando se der a alteração climática definitiva. Estas pessoas vão estar melhor preparadas para qualquer desastre climático que nós, sabes?

O meu trabalho tem que convidar à reflexão e obrigar o espectador a questionar a sua própria realidade. Senão, não me interessa. Esta série não é um reality show. Não é costume ver na televisão um documentário de 10 horas, 100 por cento autêntico e dei-me conta do porquê: porque é insuportável (risos). Nunca tinha vivido um desafio tão estimulante. Do que não há dúvidas é que se pode aprender muito com esta série, para além de todo o drama e substância que tem. Nesse aspecto é algo único.

Fala-me um pouco da tua experiência pessoal em Kalu Yala.

Tenho 44 anos e sou artista até à medula [risos], mas dormir na selva num colchão insuflável não foi algo a que me habituasse facilmente. Já não tenho 22 anos. Lá tive uma equipa de produtores incrível, que seleccionei do mundo dos documentários, e todos eles se juntaram ao projecto por amor a este formato. Acabámos por ficar muito unidos a trabalhar lado a lado neste ambiente. Tínhamos que viajar quase todos os dias entre a cidade do Panamá e a selva para filmar, saíamos às cinco da manhã e voltávamos às dez da noite. Durante a produção, estive entre a selva e Los Angeles para poder estar a par de tudo. Estive no Panamá metade do ano.


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A vida na selva foi dura, mas maravilhosa. Há que reconhecer muitas coisas a esta comunidade. Cada dia é um desafio, mas há muito companheirismo e boas intenções. São jovens muito inteligentes, que se preocupam com o Mundo. Pessoas preguiçosas não aguentam Kalu Yala. É preciso estar preparado para trabalhar constantemente. Para muitos destes miúdos é uma prova de fogo, tal como foi para mim e para a minha equipa de filmagem. Apesar de tudo, ganhámos a sua confiança. Desde o início que se mostraram muito abertos, porque somos gente porreira, mas pensa que há câmaras por todo o lado e é uma comunidade muito unida. Tive que elaborar um protocolo e trabalhar muito de perto com eles. Concordámos que fariam um sinal secreto quando fossem falar de algo que não queriam que filmássemos.

No fundo, estivemos lá tanto tempo que acabámos por nos tornar parte da comunidade. Ajudámo-los de muitas formas e eles acabaram por apreciar a equipa de filmagem, ainda que às vezes pudessem desejar que as câmaras estivessem bem longe. Agora somos grandes amigos.

Com o que é que podemos contar em Jungletown?

Podes esperar muita controvérsia e muitos dos elementos que constituem uma boa história: o ser humano a enfrentar-se a si mesmo, à Natureza e a outros seres humanos. Acontecem muitas coisas. Não é um caminho fácil e requer muito trabalho. O Jimmy é um personagem absolutamente incrível. Estou tremendamente feliz de que tenha confiado em mim como realizadora para contar a sua história.

A sustentabilidade não é sustentável se não for rentável e, aos olhos de muitos, Jimmy é o mau da fita por traçar essa linha e relembrar-nos a todos que, no fim do dia, isto não deixa de ser uma empresa. Por muito que ele gostasse que a comunidade se enchesse de hippies, este é o seu negócio e é preciso olhar por ele. A série está cheia de conflitos, tensão, beleza e sacrifício.


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