Qual a importância do videoclipe para um artista independente?

Este conteúdo é um oferecimento Natura Musical.

Na coluna Estudando a Cena, discutimos a atual cena musical do Brasil e como as drásticas mudanças na indústria fonográfica dos últimos anos reverberaram na base da pirâmide sócio-cultural do país.

Videoclipe e MTV deixaram de ser sinônimos há muitos anos, mas nem por isso o formato visual da música deixou de ser uma poderosa ferramenta de divulgação para os artistas. Cruzou a fronteira da televisão e virou um dos grandes atrativos do universo digital. Hoje, é possível ver um clipe em qualquer lugar sem que isso implique em baixa qualidade. Os avós de quem lê essa matéria provavelmente faziam contagem regressiva para verem os seus artistas preferidos aparecerem de uma forma ou de outra no Fantástico, que inclusive produzia proto-videoclipes para veicular. A geração seguinte já desfrutava da MTV em UHF, votava nos melhores pra entrar no Disk MTV, elegia seu VJ preferido e tinha o hábito de assistir de hora em hora as estreias de suas bandas prediletas.

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Numa época em que “Despacito”, de Luiz Fonsi com Daddy Yankee, bate recorde de visualizações no YouTube (já são mais de três bilhões de plays), fica nítida a adaptação desta linguagem à contemporaneidade. E olha que nem se trata de uma super produção, mas de êxito alcançado com uma básica receita. Por outro lado, há coisas muito loucas brotando da exploração digital interativa atualmente. Coisas só projetadas quiçá na ficção na época em que “Thriller”, do Michael Jackson, inaugurou a seara das superproduções audiovisuais curtas, em 1983.

Exemplo é “Like a Rolling Stone”, do Bob Dylan, disponível no site dele e lançado em 2013. O clipe imita uma TV com mais de quinze canais, e, em cada um deles, personalidades e desconhecidos dublam a música. É dado ao espectador o poder de mudar de canal quando quiser no painel lateral. No meio das opções, algumas imagens simulam programas de culinária, notícias, esportes, reality shows… Dylan aparece interpretando a música, em imagens de arquivo, somente em um dos canais.

Outra ideia que viajou nessas de interação e expansão das possibilidades é o clipe do Pharrell Williams, que dura 24 horas. O site oferece um recurso interativo que permite selecionar um momento específico para assistir. Um relógio, além disso, marca o horário correspondente a cada trecho do filme. “Happy” foi considerado o clipe mais duradouro de todos os tempos. E como não aplaudir Chris Milk, o zica da realidade virtual, por “We Used to Wait”, do Arcade Fire? A trilha acompanha um cara correndo, aí dá pra inserir um zip code e o vídeo se constrói sobre imagens do Google Street View daquela região. Em determinada sequência, surgem pássaros voando que se misturam às imagens da rua do bairro escolhido, quando árvores preenchem a tela.

O Brasil ainda não apresentou inovações desse quilate, porém o mercado está mais aquecido do que nunca. Basta levarmos em conta os números do Kondzilla e seus clipes de funk ostentação. Ele é dono do canal brasileiro mais importante do YouTube, com cerca de 750 milhões de visualizações por mês, e a sua produtora, a Kondzilla Filmes, uma das maiores produtora de conteúdo audiovisual de música do país. Sem falar no canal da Anitta, com mais de cinco milhões de inscritos.

Como chegamos até aqui e o que representa isso tudo pros artistas e para quem trabalha com audiovisual? Conversamos com o André Mantovani, CEO da MTV Brasil entre 1998 e 2007, Renata Brandão, CEO da Conspiração Filmes, com os diretores Fred Ouro Preto, Tadeu Jungle, e o baterista da banda O Terno, para colher algumas impressões.

André Mantovani

CEO da MTV Brasil entre 1998-2007.

Como rolava o lançamento de um clipe na época em que a MTV era sobre música?
Às vezes nós fazíamos lançamentos mundiais dos videoclipes, como do Michael Jackson. Era um momento esperado, e como a única fonte de acesso era a MTV, e a gente negociava exclusividade de uma janela com as gravadoras pra fazer o lançamento. Negociava uma semana de exclusividade, e depois eles podiam mandar pro Fantástico, pra onde quisessem. Se não dessem exclusividade, não lançávamos, só entrava na programação.

O que dava esse poder à MTV?
A questão é que você só conseguia assistir aquilo na MTV. Daí a importância que ela tinha no mundo musical do rock e do pop, principalmente no Brasil. Tipo, os Raimundos começaram com uma divulgação enorme, foi uma aposta da MTV na época. O Skank também.

Como foi quando você percebeu que a MTV estava pra miar?
Quando o YouTube apareceu eu chamei meus diretores e falei assim: “Óh, zuou!” [risos]. “A MTV perdeu a posição número #1 de ser o lugar onde as pessoas vão pra consumir clipe. Elas vão ver agora na internet.” A MTV tinha um site na época que se chamava MTV Overdrive, e passava só clipe. Só que a gente fazia tudo de acordo com a lei e respeitava os direitos autorais, diferente do YouTube. As coisas eram exibidas lá e não se pagava direito autoral pra ninguém. Nosso acervo era mais restrito, não tínhamos a mesma capacidade de banda e armazenagem do YouTube. Era um serviço que os clipes entravam e saíam, meio capenga, feito lá nos Estados Unidos. Quer dizer: nós até tentamos a concorrência, mas não funcionou.

Mas é interessante notar que o canal manteve a sua veia inovadora até o fim. O Overdrive mesmo, era um indicativo de percepção do espírito dos novos tempos.
Com o advento do YouTube, resolvemos começar a mostrar a música contextualizada. A dar mais informação a respeito daquilo. Tinha até uns balõezinhos informativos durante a transmissão dos clipes. Tentamos incorporar o digital. Foi a primeira TV no Brasil que colocou o pessoal tuitando ao vivo na tela. A MTV tinha isso em 2005. O Disk MTV teve que mudar de nome, virou Top 10, com o pessoal tuitando ali [risos]. Os VJs perderam a função. Eles tinham que ser mais especialistas, conhecedores da música. Não só um apresentador.

O streaming é a nova MTV?
Eu vi uma palestra do Nile Rodgers, em Austin, e ele contou que certa vez recebeu um email do Spotify falando que ele havia atingido um milhão de ouvintes… E mandaram um cheque de 15 dólares! [risos]. Não é nessas plataformas que o artista ganha dinheiro hoje em dia. No caso da MTV, os artistas ganhavam dinheiro, pois recebiam os direitos autorais.

O que representa a ascensão e queda da MTV na cultura pop?
Na MTV o que eu vi acontecendo foi um movimento. Um movimento que cumpriu o seu ciclo e acabou. Foi mais ou menos como a discoteca. Ela veio, cresceu, dominou, e depois perdeu a razão de existir. Com o surgimento do digital, o mesmo aconteceu com a MTV. E tudo isso aconteceu muito rápido! Foi violento. De repente a gente olhou e falou: “Vixe! Vai acabar!”. Foi o fim de uma era. Foi bacana, mas acabou.

Biel Basile

Baterista d’O Terno.

Como vocês chegam em ideias como dos clipes “Não Espero Mais”, “Culpa” e “Ai, Ai Como Eu Me Iludo”?
Foram processos diferentes entre si. “Ai, ai Como Eu Me Iludo” veio bem pronta do pessoal da Alaska Filmes, mesma produtora do clipe de “66”. O Gustavo Moraes e o Marco Lafer são diretores que a gente gosta bastante. Eles já vieram com a ideia do bonequinho animado e demos carta branca pra eles fazerem o clipe. Gostamos muito de acompanhar os processos criativos que envolvem a banda, mas partiu mais deles.

“Culpa” teve Breno Moreira e Bruno Shintate como diretores. Recorremos a eles pra fazer o clipe e fomos tendo juntos as ideias. Uma primeira inspiração que tivemos não saiu muito do lugar. Aí, numa reunião, pensamos na dublagem e desenvolvemos todo o roteiro a partir disso; foi um processo bem próximo entre nós. Nesse aspecto, “Não Espero Mais” é bem parecido. Falamos com o Filipe Franco, que foi o diretor, e o Caio Mazzilli e fomos tendo as ideias em parceria. Tínhamos algumas coisas que queríamos fazer no clipe, mas ainda não tinha a motivação principal, de ser algo com a internet.

Para a banda, o videoclipe é mais uma peça criativa ou um lance de publicidade?
A princípio, é algo criativo que a gente gosta de fazer e que acaba tendo um resultado de divulgação — publicitário, pode-se dizer assim — que também é muito importante pra chegarmos no público; ter contato com pessoas que possam vir a gostar do som. O videoclipe é um lugar no qual unimos essas duas coisas de um jeito muito positivo. O YouTube é uma das plataformas na qual mais se ouve música no mundo (se não a maior). Ter um vídeo atrelado ao seu trabalho, mostrando sua cara, a estética da banda, criar um produto pra outra parte criativa (visual, não só do som), gostamos pra caramba e fazemos com o maior prazer antes de ser mera e simplesmente por marketing. No melhor dos sentidos, é publicitária e criativa ao mesmo tempo.

Quão importante é a repercussão positiva de um clipe hoje na carreira de um artista?
É importante pelo modo como hoje se desenvolveu a cadeia de trabalho da música. Cada vez mais tem sido menos presencial o contato do artista com o público; muito é pelas redes sociais e internet. O show é onde o público se consagra — isso eu espero que não mude, porque é o grande barato sentir a energia indo e voltando na pele. Mas somos uma banda que pensa muito através da internet, principalmente por ter crescido num circuito underground, indie, etc., no qual não há muitos mecanismos de longo alcance com o público (gravadora ou patrocinador por trás, que te coloque pra tocar em todas as rádios, por exemplo). O clipe talvez seja a maneira mais eficaz de estar em contato com esse possível público. Se ele for muito bem feito, dizendo o que a banda quer dizer, é uma maneira muito boa de chegar em quem gosta do som.

Vocês sentem tanto prazer em produzir e ver o resultado de um clipe de quando compõem uma música?
Se pensar como produto da banda, a sensação pode ser tão boa, sim. Trabalhar pra caramba e ver um resultado bacana é super legal. Por mais que a gente goste muito de fazer clipe, dizendo agora só por mim (minha formação é de músico), quando fazemos uma música, me sinto muito mais parte do processo criativo como um todo. De alguma maneira, me sinto mais autor. No clipe, não à toa, tem gente que estuda isso e a gente tá sempre em contato com aqueles diretores e produtoras que curtimos, então a autoria é compartilhada.

Qual é o seu clipe preferido já feito por outro artista em todos os tempos?
“Can’t Stop”, do Red Hot Chilli Peppers. Acho muito interessante a ideia que eles tiveram de estar interagindo em cena com obras de uma galeria de arte e como isso pode ser cinematográfico, super dialogando com a música. Esse videoclipe é divertido e bonito, tem ideias muito boas, da interação da banda com o espaço… é, mais do que tudo, uma ótima ideia.

Renata Brandão

CEO da Conspiração Filmes.

Quando a Conspiração ganhou notoriedade no início dos anos 90, a sua proposta era focar nos videoclipes ou a demanda que vocês assumiram veio ocasionalmente?
A Conspiração começou com um grupo de jovens amigos apaixonados por cinema que decidiu abrir uma produtora no Brasil. Na época, vivíamos um momento complicado para o cinema, uma vez que os mecanismos de captação de dinheiro tinham sido extintos e a Embrafilme, fechada. Mas era também o momento em que acontecia uma revolução: o mundo deixava de ser analógico e passava a ser digital; a MTV estava entrando no Brasil e as gravadoras viviam um excelente momento, ou seja, investiam em videoclipes. Foi então que o Lula Buarque de Hollanda (um dos fundadores) conseguiu fechar com a MTV contratos para produção de documentários musicais e videoclipes.

Aproveitamos a oportunidade e entramos nesse universo com muita disposição e tesão em produzir com qualidade. No primeiro ano do MTV Video Music Brasil (VMB), concorremos em seis categorias e ganhamos cinco, só com o clipe “Segue o Seco”, de Marisa Monte. Nos destacávamos pelas ideias ousadas dos diretores, as boas imagens e a qualidade do acabamento. Assim, nos consolidamos como a maior produtora do gênero no país e viramos recordistas em prêmios. Logo sentimos a necessidade de desbravar outros mercados e entramos para a publicidade e, em seguida, para o cinema.

Cite alguns clipes premiados na época.
“Segue o Seco” – Marisa Monte (95), “Lourinha Bombril” – Os Paralamas do Sucesso (96) , “Busca Vida” – Os Paralamas do Sucesso (97), “Ela Disse Adeus” – Os Paralamas do Sucesso (98) , “A Minha Alma” – O Rappa (2000).

Atuar especificamente com videoclipe hoje é uma boa escolha para uma produtora audiovisual?
Os videoclipes possuem uma estética própria que permite muitas possibilidades criativas. A internet aumentou infinitamente a audiência e plataformas como a Vevo deram um novo gás a este mercado. Nunca se assistiu a tantos clipes como agora. A Conspiração sempre esteve ligada ao universo da música. Começamos com os videoclipes e, recentemente, voltamos a investir mais fortemente nesse formato. Produzimos videoclipes para artistas como Anitta, Valeska, MC Guimê, Capital Inicial e Fernanda Abreu. Também trabalhamos com videoclipes em nosso núcleo de Publicidade e Branded Content (Conspira+). Produzimos o videoclipe da música-tema dos Jogos Olímpicos Rio-2016, “Alma e Coração”, dirigido por Fred Ouro Preto, com quase 4 milhões de views só no YouTube.

Valeska Popozuda (Conspiração Filmes)

O que mudou na estética dos videoclipes desde o auge da MTV?
Acredito que passamos por grandes inovações estéticas, criativas, e hoje temos inúmeros recursos tanto na hora de produzir como na distribuição. Produzimos um clipe sabendo que temos uma audiência muito dispersa, com muitas opções de conteúdo online e que será atraída pelo artista, pela linguagem do videoclipe e mais, que será atraída por um conteúdo que possa e queira ser visto em repetição. As gravadoras e os artistas estão cientes dessa mudança e por isso investem cada vez mais em produções melhores. A retomada do videoclipe começou com pequenos orçamentos, produções caseiras, mais simples, mas agora cresce e a competição fica maior. Os clipes muitas vezes são um importante canal de contato do artista com os fãs e todos querem fazer bem e melhor a cada clipe. A Vevo e o Youtube são a nova MTV. E nos lugares públicos os aparelhos de rádios foram substituídos pela TV de LED e estão sempre tocando músicas e videoclipes.

Como é o investimento da Conspiração em videoclipes atualmente?
Estamos atentos ao movimento de retomada dos clipes e, para nós, atuar nesse mercado é como reviver nossas origens, faz parte da nosso DNA. Nunca deixamos de produzir para o mercado da música. Produzimos todos os DVD do Gilberto Gil, da Marisa Monte, e ganhamos o Prêmio da Música Brasileira com o DVD do Criolo e Emicida, dirigido pelo Andrucha Waddington.

Emicida sob a direção de Fred Ouro Preto.

Fred Ouro Preto

Diretor com dezenas de clipes no currículo. Já trampou com Anitta, Emicida e Valeska Popozuda.

Conte sobre a sua trajetória no videoclipe, como entrou e o que sente por essa área?
Quando eu era adolescente, a MTV estava numa fase muito boa, o VMB era muito valorizado e tinha até categorias técnicas, que foram extintas nas ultimas premiações. Nessa época era muito comum os diretores serem relevados por meio dos videoclipes. Minhas primeiras experiências em sets de filmagem foram em videoclipes do diretor Hugo Prata. Como eu sempre fui muito ligado à música, também foi a maneira que encontrei para experimentar, aprender e me lançar. Em certo momento comecei a fazer os clipes do Emicida. Eu já estava mais certo do que queria como diretor e essa parceria foi muito importante, três clipes que fizemos foram indicados ao VMB, e um deles ganhou como Clipe do Ano. A partir disso fiz muitos projetos com diversos artistas e foi aí que consegui entrar no mercado da publicidade.

O que mudou na linguagem do videoclipe nos últimos anos?
Tudo mudou, a tecnologia e a acessibilidade a equipamentos, principalmente. As câmeras digitais facilitaram muito a inclusão de muitas pessoas. O primeiro clipe que dirigi indicado ao VMB eu tinha feito assim que a Canon 5D chegou no mercado. Foi um salto enorme pra muita gente. Os recursos e a finalidade do clipe mudaram, antes tinha muito a sensação do clipe ser algo para promover o CD. Com o tempo, o clipe passou a ser o produto principal. Muitas vezes os artistas nem têm mais álbum. É o caso da maioria dos artistas de funk e vários do rap. A estética e as tendências visuais, nem se falam. É muito fácil o visual ficar datado em todos os sentidos.

O que você acha que há de mais criativo hoje sendo feito nos clipes?
Eu gosto muito dos trabalhos dos franceses, as produtoras DIVISION e Iconoclast investem muito em videoclipes. Alguns dos trabalhos deles mais marcantes são “Gosh” – Jamie xx, “Territory” – The Blaze e “High School Never Ends” – Mykki Blanco ft. Woodkid. Impossível não falar sobre os trabalhos de Kendrick Lamar, um video mais impressionante que o outro. Além disso, dos americanos, eu gosto da Melina Matsoukas e do duo criativo The Daniels, da Prettybird.

Que época você considera o auge da produção de clipes o Brasil?
Se for analisar por estrutura e nível de investimentos das gravadoras, seriam os primeiros anos de 2000. Mas, particularmente, eu acho mais interessante aquilo que foi feito de maneira independente, na época de maior “crise” dos videoclipes. Hoje em dia vemos exemplos como Kondzilla, que monetizam seus trabalhos na quantidade de views. Acho que o auge da produção é a Era Kondzilla.

Tadeu Jungle

Artista multimídia e sócio fundador da produtora Academia de Filmes. Dirigiu clipes do Arnaldo Antunes, Zeca Baleiro, Rita Ribeiro e Péricles Cavalcanti.

Qual foi o grande marco na história da linguagem videoclíptica, em sua opinião?
A ruptura mesmo é o Michael Jackson. “Thriller” foi o grande vídeo, que rompeu em termos de efeito, de duração, pois era comprido pra caralho, tinha 13 minutos, toda uma história. Aquilo realmente foi muito foda pra época, em 82.

Pra que serve um clipe?
A ideia do videoclipe sempre foi impactar. E nessa seara, quando pintou a MTV, o clipe tinha um flerte com o lance da poética, da arte, porque ali tudo podia ser feito. Era um terreno muito fértil. O videoclipe aceitava qualquer coisa. Desde de que fosse impactante, diferente. Daí você podia experimentar com luz, com linguagem, o que fosse. “O Silêncio”, que fiz com o Arnaldo Antunes, teve quase um mês de finalização. Pra hoje o que faríamos talvez em quatro, cinco dias. Por causa dos muitos efeitos, pela primeira vez sampleamos imagens de terceiros que captamos na internet, misturamos com imagens de super 8, de videozinho vagabundo, e imagens do próprio Arnaldo. Foi bem inovador.

Na contramão, hoje temos vídeos super simples que são um estouro de audiência…
Esse da Anitta com Pablo Vittar no deserto (“Sua Cara”) é absolutamente simples. Acho que essa simplicidade faz parte do contemporâneo. Um vídeo com 500 efeitos já não impressiona mais. Impressionava muito na época do Michael Jackson, hoje não mais. Um clipe com uma ideia boa e simples parece que dá mais impacto.

É possível um artista ter a sua imagem toda construída pelos clipes?
O Hugo Prata fez a imagem de Sandy & Júnior com o videoclipe, construiu absolutamente. Eles vieram com uma música pop e o Hugo colocou os caras super bem vestidos, com os efeitos, entendeu? Aquilo foi muito importante pra eles.

Questões sociais pegam bem nas produções de hoje?
No ano passado a Beyoncé fez um clipe, “Formation”, que tinha umas casas inundados, uma coisa de preocupação social, e foi o grande vencedor do Festival de Cannes. Essa preocupação com política é uma tendência hoje, sim.