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Testosterona, Cortisol e Finanças: A Economia É Impulsionada por Hormônios

Novo estudo sugere que altos níveis de testosterona e cortisol afetam avaliações de riscos, tomadas de decisões e a confiança dos operadores financeiros.
Crédito: Shutterstock

De acordo com estudo publicado nesta quinta no jornal de divulgação científica Scientific Reports, corretores da bolsa de valores podem estar tomando decisões insensatas por serem estressados ou convencidos demais — o que não é choque algum, beleza, mas não deixa de ser uma péssima notícia se considerarmos a grande influência dessa indústria na economia.

Para chegar a essa conclusão, a equipe de pesquisadores da Imperial College London, na Inglaterra, examinou o impacto que os níveis de testosterona e de cortisol têm no desempenho comercial e na tomada de riscos.

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A equipe simulou um pregão usando jogos de negociação de ativos com 142 alunos de Cambridge e gravou seus níveis de hormônios e suas negociações. Depois eles fizeram o mesmo experimento com 75 jovens do sexo masculino cujos níveis de testosterona e de cortisol foram aumentando artificialmente com auxílio de gel de testosterona e pílulas de cortisol.

O estudo concluiu que aqueles com níveis mais elevados de hormônios tinham probabilidade maior de agir erraticamente ou correr grandes riscos.

"Descobrimos que tanto o cortisol quanto a testosterona mudaram o investimento na direção de ativos mais arriscados", disse o artigo. "Parece que o cortisol afeta diretamente as preferências de risco, enquanto a testosterona age induzindo a um otimismo em relação a futuras mudanças de preço. Nossos resultados sugerem que as alterações de cortisol e testosterona podem cumprir um papel desestabilizante em mercados financeiros."

"O efeito é sutil, mas se todos num mercado forem afetados da mesma forma, os resultados podem ser dramáticos"

Essa pesquisa ecoa estudos anteriores que ligaram a testosterona à tomada de riscos, mas refuta a "hipótese de hormônio duplo" que achava que "há uma associação positiva entre o testosterona basal e o ato de assumir riscos entre indivíduos com um nível de cortisol basal baixo, mas não entre indivíduos com níveis altos deste hormônio".

Em outras palavras, alguns pesquisadores descobriram no passado que níveis altos de testosterona levavam a um comportamento de maior assunção de risco, enquanto níveis altos de cortisol podem neutralizar o efeito da testosterona elevada, tornando as pessoas menos propensas a investir agressivamente frente a um medo causado por estresse.

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De acordo com esse novo estudo, no entanto, "não há evidências para uma interação significativa entre cortisol e testosterona, como propõe a hipótese de hormônio duplo".

Pelo contrário: pesquisadores da Imperial College London descobriram que administrar cortisol ou testosterona levou a menos investimentos cautelosos, o que, por sua vez, levou a instabilidade de preços. Dr. Ed Roberts, um dos autores principais do estudo, explicou que essa instabilidade era a função dos princípios básicos da economia.

"Os mercados geralmente se tornam instáveis porque a habilidade de avaliar os riscos com exatidão é comprometida de alguma forma — como má informação sobre um ativo", disse Roberts ao Motherboard. "Em nosso estudo, observamos indivíduos aumentando seus investimentos com ações mais arriscadas em 70% depois do cortisol e em 46% depois da testosterona."

Roberts explicou que o cortisol é um hormônio de estresse, que pode "tornar mais difícil ser objetivo quanto a seu próprio comportamento". A testosterona, por outro lado, está "associada com aumento de agressão, à função sexual e ao humor", e pode tornar os corretores muito confiantes em suas próprias habilidades e otimistas em relação a seus investimentos.

Apesar desses dois hormônios agirem de forma diferentes, eles provocam o mesmo resultado: mais investimentos arriscados que levam à instabilidade de preço.

Roberts reitera que as conclusões focam no curto prazo e que implicações em longo prazo de investimentos arriscados — como formação e explosão de bolhas de ações — não podem ser diretamente ligadas a esses hormônios. Ele acrescentou, no entanto, que seus efeitos podem se somar àquilo.

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"Se você puder imaginar as vezes em que você esteve sob muito estresse, pode olhar pra trás e se dar conta de que cometeu erros ou se comportou erraticamente, mas quando você estava no momento, foi mais difícil ser objetivo quanto a seu próprio comportamento", disse Robert. "Eu diria que o efeito é sutil, mas se todos num mercado forem afetados da mesma forma, os resultados podem ser dramáticos."

Roberts também acrescentou que o estudo foi feito numa configuração laboratorial, que nunca é igual ao mundo real.

"Observamos indivíduos aumentando seus investimentos com ações mais arriscadas em 70% depois do cortisol e em 46% depois da testosterona"

"O problema com a pesquisa em laboratório é que nunca passa de uma aproximação do mundo real, então embora tenhamos usado incentivos financeiros reais, não pudemos criar as exatas condições de trabalho num pregão financeiro", disse Robert. "Fazer um teste num ambiente de vida real seria fascinante, e é algo que desejamos fazer".

Como resultado das descobertas de sua equipe, Roberts disse que seria importante as instituições financeiras reconhecerem o impacto que o estresse e o humor podem ter não só na performance de seus corretores, mas também no mercado financeiro mundial como um todo.

"Um mercado eficiente é benéfico para todos, então os corretores que estão estressados poderiam alternar seu tempo à mesa de trabalho de forma similar aos controladores de trânsito", disse Robert. "Dada a importância dessas instituições, é fundamental que essas questões sejam discutidas de forma produtiva para aumentar a estabilidade do mercado."

Tradução: Julia Barreiro