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O Larry Clark Continua Perigoso

Sexo, drogas e skate são temas notórios no trabalho do fotógrafo e diretor Larry Clark, que desde 1961 usa sua câmera para capturar as realidades devassas da experiência adolescente.

Larry Clark usando uma das camisetas de sua coleção. Foto por Will Cameron. Veja o lookbook da coleção aqui na VICE e compre as camisetas aqui. 

Sexo, drogas e skate são temas notórios no trabalho do fotógrafo e diretor Larry Clark. Desde 1961, Clark usa sua câmera para capturar as realidades devassas da experiência adolescente. Ele ganhou sua reputação documentando a vida dos jovens no começo dos anos 1970 em Tulsa, seu livro de fotos controverso e icônico feito durante sua adolescência regada a drogas em Oklahoma. Em trabalhos subsequentes, como seus livros de 1983, Teenage Lust, e de 1992, The Perfect Childhood, Clark continuou a documentar o mundo belo e sombrio da juventude nos EUA. Em meio às críticas de que seu trabalho é obsceno e pornográfico, seu sucesso continuou quando ele dirigiu o longa Kids em 1995. O filme influente, escrito em colaboração com Harmony Korine, acompanha um grupo de adolescentes que curtem e se fodem num dia de verão em Nova York. Clark continuou fazendo mais filmes incendiários centrados em adolescentes, incluindo Bully – Juventude Violenta, Ken Park, Roqueiros e Marfa Girl.

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Agora, o fotógrafo e cineasta está usando a internet para compartilhar seu trabalho. O artista de 71 anos acaba de inaugurar uma loja on-line, que oferece oito camisetas originais com fotos dos garotos do filme Roqueiros, de 2003, um semidocumentário sobre um grupo de skatistas latinos em South Central, Los Angeles.

Liguei para o Larry para conversar sobre sua nova incursão na moda, a internet e seu novo filme, The Smell of Us.

Larry Clark autografando suas camisetas. Foto por Ana Dorado. 

VICE: Como seu relacionamento se desenvolveu com os caras de Roqueiros?
Larry Clark: Eles me contavam suas histórias de vida e eu fazia um diário. Foi assim por um ano e meio. Todo sábado eu pegava eles em casa e os levava para andar de skate. Eu queria fazer um filme sobre esses garotos. À primeira vista, você não vê esses garotos latinos como eles realmente são. A primeira metade do filme é sobre as histórias deles. Depois do filme, eu conhecia esses garotos tão bem que continuei fotografando-os.

Você ficou especialmente próximo do Jonathan com o passar dos anos, né?
O Jonathan era um modelo tão bom que acabou se tornando meu muso. Venho fotografando e filmando ele há mais de dez anos. Tenho um corpo de trabalho inacreditável com ele. Quando ele tinha 16 anos, tivemos problemas com os pais dele, as batalhas normais adolescentes. A mãe dele me ligou e perguntou: “O Jonathan pode morar com você?”. Aí ele veio morar comigo. Ele se concentrava em sua música e eu o fotografava. Ele tem uma banda em Los Angeles chamada reVolt. Ele acabou de fazer 25 anos. Ele é um músico muito sério.

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Como você escolheu as fotos para as camisetas?
Tenho tantas fotos que poderia muito bem fazer umas 100 camisetas. Usei cinco que tirei e o Jonathan, que é um fotógrafo muito bom, tirou duas outras. Tentei ficar longe das minhas fotos mais conhecidas. Ainda não sei se vou fazer uma nova leva de camisetas. Nunca fiz isso antes, mas deixei a Supreme fazer dois shapes e duas camisetas. Fiz um acordo com eles para ficar com metade dos shapes, que dei para os garotos de South Central. Colecionadores compraram os outros que a Supreme vendeu, e é possível encontrar isso no eBay por centenas de dólares. É meio ridículo. Meu shape está todo estourado e cheio de adesivos.

Você está gostando de construir uma presença on-line?
Sim. Estou tentando fazer como a VICE faz. Conheci a VICE quando ainda era só uma revistinha grátis. É interessante e divertido. Comecei o site para colocar um filme que fiz do Jonathan. Fiz outro filme dois anos atrás, Marfa Girl, e o único jeito de ver o filme era pelo site.

O que você acha de os estilistas terem se apropriado do “vestir jovem” – essa moda masculina mais justa e angustiada – que aparecia em Roqueiros?
Ralph Lauren tem uma coleção nova agora que é tudo isso, essas roupas costuradas e rasgadas, com coisas escritas e tudo mais. A moda rouba de todo mundo; eles roubam das artes. É uma questão de vender roupas, mas eles roubam os artistas num piscar de olhos. É assim que as coisas são. O que eu posso fazer?

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Você se referiu o seu novo filme, The Smell of Us, como o novo Kids. Por quê?
Ele é sobre garotos de 18 a 20 anos em Paris. É um filme muito interessante. Fizeram uma retrospectiva minha no Museu de Arte Moderna em Paris em 2010. Eu ficava no museu até eles fecharem, depois tinha que sair pela porta dos fundos e passar por todos os skatistas. Isso me lembrou o Washington Square Park em 1993. Foi assim que comecei a fazer referência a Kids.

O processo de filmagem foi similar?
Quando faço filmes, sempre mudo as coisas, invento coisas e fico aberto a qualquer ideia. Estou com 71 anos, então isso foi muito difícil para mim. Quando tinha 50, eu podia ter feito esse filme de cabeça para baixo. Foi difícil continuar, fisicamente falando. Alguma coisa sempre dá errado em todo filme, tudo desmorona e explode, mas é aí que sou melhor. É como uma tela em branco, porque se tudo não tivesse dado errado, eu não estaria naquele lugar. Então, jogo o roteiro fora e invento metade dele. Esse é o filme mais pessoal que já fiz, tive que terminá-lo sozinho. Estou no filme como Larry Clark, e ainda interpretei outros dois personagens porque os atores não apareceram.

Que outros personagens você faz?
Um deles é um ex-rockstar que virou mendigo. Eu interpreto ele usando barba. O outro é numa cena de fetiche por pés. Eu tinha um ator muito bom para esse papel, mas ele ligou e disse que o médico não queria que ele viajasse, pois ele teve uma infecção no pé. Então tive que fazer a barba. Eu não via meu rosto há 20 ou 30 anos. Cortei o cabelo e tingi. Logo antes da cena, cobri todos os espelhos e raspei meu bigode. Eu não fazia a menor ideia de como eu estava. Eu não sabia o que fazer, então simplesmente fui lá e fiz de tudo com os pés desses garotos.

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O filme foi exibido em Cannes?
Todos os produtores achavam que esse filme francês ia ganhar fácil em Cannes, mas ele foi rejeitado. Todos os meus filmes foram rejeitados em Cannes. Alguém do comitê disse que o filme era um lixo. Trata-se de um festival que não exibiu Ken Park, um filme que foi um sucesso enorme em Paris. Ganhei muito dinheiro com ele só na França. Agora eles não querem exibir The Smell of Us. Eles só passaram Kids porque Harvey Weinstein tinha poder naquele ano. Pulp Fiction tinha ganhado Cannes no ano anterior, então eles deixaram Kids entrar. Que experiência é ver seu filme numa tela enorme… Foi um dos grandes momentos da minha vida. Mas ter The Smell of Us e o Ken Park chamados de “lixo” também foi tipo uma honra.

Por que eles têm essa resposta para seus filmes?
Não me censuro. Filmo as coisas como são. A vida é dura e não existem só finais felizes. Todos nós passamos por muitas coisas e eu mostro isso como vejo. Acho que muitas pessoas ficam perturbadas com isso. Acho que um filme é melhor quando ele pode não ter nada a ver com seu público, mas o público reconhece isso como vida real. Cassavetes era capaz disso. Lembro de uma cena de Faces, quando a atriz está fazendo sexo com Seymour Cassel e você sabe que o marido dela está voltando para casa mais cedo do trabalho, e que ele quer fazer amor com ela. Seymour pula da janela, o marido olha para a esposa e diz “Por quê?”, e ela diz “Eu não te amo mais”. Todo mundo sabe como é isso.

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O que você sente quando as pessoas chamam seu trabalho de controverso?
Acho incrível que mesmo o Tulsa, um livro que foi fotografado em 1962 e saiu em 1971, ainda esteja à venda e as pessoas ainda estejam comprando. As pessoas ainda acham esse livro perigoso e controverso. Acho que é bom ainda se sentir perigoso depois de todos esses anos. Eu não abraço a controvérsia, ela simplesmente acontece. Só estou tentando mostrar a vida real. Todo meu trabalho ao longo dos anos se baseia num pequeno grupo de pessoas das quais você não saberia da existência de outra maneira. Você não saberia sobre meus amigos de Tulsa. Você não saberia sobre esses garotos do gueto de South Central. Você não saberia sobre a vida secreta dos adolescentes, onde os adultos não podem entrar. Quando Kids saiu, as pessoas disseram que o filme era apenas a fantasia de um velho. “Nossos filhos não são assim.” E era só ler o jornal nos anos seguintes e ver que tudo que acontecia em Kids acontecia nos Estados Unidos. Eu sempre estive um pouco adiantado. Depois o país me alcança.

Em que mais você está trabalhando?
Acabei de fazer um livro para uma marca de roupas no Japão chamada Wacko Maria. Concordei em fotografar para eles se eles permitissem que os garotos de Roqueiros usassem as roupas da marca. Estou indo para Marfa, no Texas, para filmar Marfa Girl 2 no dia primeiro de agosto. Vamos lançar esse filme do jeito tradicional. Tenho uma exposição grande no Luhring Augustine que vai de junho a agosto. São fotos e colagens inéditas. Comecei a pintar em Paris no ano passado. Quando eu estava filmando, não conseguia dormir e não conseguia meditar, era um tédio, então comecei a pintar. Vou exibir dois ou três quadros lá. A exposição começa pela minha primeira foto, que é um retrato do meu melhor amigo, Johnny Bridges, em Oklahoma no ano de 1961. Eu o fotografei com a Rolleiflex da minha mãe. Isso está na parede junto com uma foto que fiz em Marfa do ator Adam Mediano, dois anos atrás. É meio que a mesma foto. É engraçado. Tem uma luz muito bonita vindo por entre as árvores. A exposição mostra desde meu primeiro retrato até hoje. Estou trabalhando nisso enquanto falamos. Tenho andado ocupado. Não me aposentei ainda, mesmo que em certos dias eu me veja tão cansado que gostaria de estar.

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Foto do lookbook de verão 2014 de Larry Clark, por Maxwell Turner. Veja o lookbook completo aqui, exclusivamente na VICE.

Larry Clark acabou de lançar uma loja on-line, a LarryClark.com, que vende uma coleção de camisetas estampadas com as fotos dos garotos de Roqueiros. Todas as camisetas foram feitas sob o mesmo processo de supervisão que Clark usa em suas obras de arte e fotografias. A primeira leva vem autografada por ele. Visite a loja e use o código de promoção VICELARRY10, da VICE, para ganhar 10% de desconto nas compras até 1º de junho.

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Tradução: Marina Schnoor