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Do teto preto de Bolsonaro à merenda do Índio, o que aprendemos com o debate à prefeitura do Rio

Jandira só falou de “golpe”, Pedro Paulo e a administração Paes levaram um sacode e Freixo lotou a Cinelândia num dos debates mais emocionantes dos últimos tempos.

Candidatos à prefeitura no Rio de Janeiro, no debate da Band na noite da última quinta (25). Todas as fotos desse post são de prints da internet.

Depois do modorrento primeiro debate pela prefeitura de São Paulo transmitido pela Band na segunda-feira (23), esperava-se que a versão carioca do colóquio, realizada na noite desta quinta (25), trouxesse alguma emoção à contenda. Trouxe mesmo, e não foram poucas. A maior delas foi o já memetizado teto preto de Flávio Bolsonaro (PSC). Saca só: o candidato foi perguntado por uma internauta sobre como faria para integrar as políticas públicas do Rio de Janeiro com os outros municípios da região metropolitana. A câmera corta para o candidato, um dos filhos do deputado federal Jair Bolsonaro (PSC), e o cidadão já está lívido, engolindo em seco. "Deu uma baixa da pressão aqui", declara aflitivamente. O apresentador repete a pergunta, a câmera volta, Bolsonaro ameaça revirar os olhos e lambe os beiços em desespero. Os candidatos Jandira Feghalli (PCdoB) e Carlos Osório (PSDB) se aproximam, segurando Bolsonarinho pelos braços, já com cara de quem vai embolotar. "Ele tá passando mal, não pode responder", avisa o Captain Obvious Osório. Sérgio Costa, o apresentador, chama o break. Não precisa acreditar em mim: veja com seus próprios olhos .

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Marcelo Crivella (PRB)

Voltando do break, com Bolsonaro fora de combate, Jandira apresenta uma "denúncia" : ela é médica e teria tentado examinar o malsubitoso candidato, mas teria sido impedida pelo pai do cidadão. Recebida com vaias da claque de Bolsonaro, deu uma incrementada no currículo criminal de Jair ao dizer que ele é "réu por estupro no STF" — na verdade o deputado é réu por " incitação ao estupro " por ter declarado que não estupraria a deputada Maria do Rosário (PT-RS) em 2014 porque "ela não merecia". Segundo O Globo , Bolsonaro pai ainda teria brincado com a situação do filho nos bastidores: "Tranquilo zero um. Paga umas flexões aí". E depois Flávio teria tomado um pouco de suco, respirado fundo e saído caminhando do debate rumo ao hospital. É claro que, rapidamente, o gif com Bolsonaro passando mal virou meme sobre as dificuldades da vida do brasileiro — além disso, um tuíte maldoso sobre o debate de 2014 entre Dilma Rousseff e Aécio Neves foi ressuscitado pela ala zoeira da internet brasileira.

Mas antes fosse apenas o de Bolsonaro filho o único barraco do debate. Jandira, por si só, já valeria a audiência. Falando pouco sobre seus planos para o Rio de Janeiro caso fosse eleita, distribuiu bordoadas a esmo. Começou chamando Pedro Paulo (PMDB) de "traidor", por ter votado a favor do impeachment de Dilma Rousseff — ele, assim como o resto do PMDB carioca, foi decisivo na virada que levou à aprovação do processo. Posteriormente acusou Pedro de bater em mulher, em referência ao processo de agressão contra sua ex-mulher arquivado pelo STF . Paulo se disse "triste" com a menção ao caso.

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Jandira Feghalli (PCdoB)

Outra treta digna de nota foi entre o despojado Índio da Costa (PSD) e o sonolento Marcelo Crivella (PRB). Índio, que foi candidato a vice-presidente de José Serra (PSDB) em 2010, acusou Crivella, ex-ministro da Pesca no governo Dilma, de ter mentido em dados sobre sua participação no ministério. Agraciado com o direito de resposta, Crivella não se furtou de fazer troça com Índio, ao citar seu apartamento na Avenida Vieira Souto (um dos maiores valores de metro quadrado no Brasil), afirmando que ele não conhece a realidade das comunidades e do subúrbio carioca, e ao cantar uma música "da sua infância" que diria "índio quer merenda senão o pau vai comer", em referência às acusações de que Índio teria participado de um esquema de desvio de verbas da merenda escolar municipal quando era Secretário de Administração da gestão César Maia (DEM) em 2005 — para largos risos da plateia.

Índio da Costa (PSD)

A claque, por sinal, estava afiada, apupando e aplaudindo os candidatos em todos os momentos que podia, para a irritação de Sérgio Costa, provavelmente metido num dos maiores desafios da sua carreira de apresentador. As bordoadas dirigidas constantemente para Pedro Paulo, candidato apoiado pelo atual prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), eram as mais populares. Em quinto lugar nas pesquisas de opinião, segundo o Datafolha , Paulo apanhou mais até que Haddad, candidato à reeleição em São Paulo, num Rio de Janeiro à espera do colapso pós-olímpico — não faltou adversário acusando Pedro de viver numa "ilha da fantasia" cada vez que ele tentava citar conquistas da administração atual.

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Pedro Paulo (PMDB)

A paternidade das Olimpíadas e os méritos da conquista também entraram na baila, com Jandira lembrando das verbas federais destinadas ao evento e, obviamente, todo mundo falando que o Rio de Janeiro deveria ser lindo assim no resto do ano, e que os gastos feitos pela prefeitura afetaram a qualidade de outros serviços públicos. A questão da segurança pública, num Rio deflagrado, também foi levantada diversas vezes. Alessandro Molon (Rede), assim como Jandira, apostou na melhora de iluminação noturna na cidade, e a Guarda Civil Municipal foi lembrada em diferentes ocasiões Bolsonarinho, antes de quase capotar, chegou a defender o armamento da GCM carioca, ao exemplo da maquinada CGM paulistana, além de um aumento de efetivo.

Alessandro Molon (Rede)

A ausência mais sentida foi de Marcelo Freixo (PSOL), segundo lugar nas pesquisas, barrado pela minirreforma eleitoral mas liberado pelo STF no fim do dia. Freixo decidiu montar um comício simultâneo na Cinelândia, transmitido ao vivo pelo Facebook, a exemplo da candidata pelo PSOL em São Paulo, Luiza Erundina – mas diferente da candidata paulista, contou com a presença massiva de militantes e falou simultaneamente ao debate em um grande palco, num contraste direto à modesta mesinha com pães de queijo de onde Erundina proferiu suas curtas considerações nos intervalos do debate paulistano.

Marcelo Freixo (PSOL)

Se o debate carioca contou com muito menos propostas concretas que sua contraparte paulista, ao menos deixou entrever com mais clareza a personalidade dos seus principais (e não são poucos) candidatos e, pelo menos no quesito entretenimento, vale todos os replays possíveis.

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