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Esse Cara Quer Você Morto

Les Knight quer que você morra. Mas não agora -- ele não quer exatamente te enterrar no deserto até o pescoço e te cobrir de mel, ou te prender numa fossa séptica no fundo da sua fazenda. Não, ele é mais passivo que sociopata.

Les Knight quer que você morra. Mas não agora -- ele não quer exatamente te enterrar no deserto até o pescoço e te cobrir de mel, ou te prender numa fossa séptica no fundo da sua fazenda. Não, ele é mais passivo que sociopata. O Les quer apenas que você morra de velhice feliz no seu cantinho – mas por favor, não deixe nenhuma cria por aí.

O Les é o membro fundador do VHEMT (pronuncia-se: veemente, um acrônimo de "O Movimento de Extinção Humana Voluntária", em inglês, cujo lema é “Que vivamos bem e apenas morramos quietos”). O Les e sua turma acreditam que o nível da população humana chegou a níveis preocupantes. E, sejamos honestos, ele está certo. Quer dizer, já tentou comprar um saco de grãos na Somália ultimamente? Ou tentou entrar na fila pra comprar um ingresso para o show do Odd Future em Londres essa semana? Estamos perigosamente sobrecarregados de pessoas! Não apenas isso, mas na cabeça do Les, nós, como espécie, estamos mijando na cheirosa fonte da vida da Gaia há muito tempo, provando que não se pode confiar na nossa existência. Então, diz ele, vamos parar de fazer nenéns e deixar que os outros seres humanos vivam suas longas e gananciosas vidas antes de virar pó e finalmente deixar o planeta se recuperar. É uma ideia difícil de ser vendida, mas dei uma ligadinha pra ver se ele conseguia me convencer a fumar e beber o bastante para esterilizar minhas bolas.

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“Esse é o Les, representando a extinção”

VICE: Olá, Les. Quando o movimento começou? Você estava lá na sua concepção?
Les Knight: Não. Não estava lá porque isso começou desde quando os primeiros humanos apareceram. Apenas dei um nome no final dos anos 80.

Não tenho certeza se existe desde o primeiro homem…
Até antes de começarmos a virar Homo sapiens, já tivemos conflitos fatais por recursos limitados. Conforme excedemos a capacidade de carregamento em nossas pequenas tribos, tivemos que invadir outras tribos para pegar os recursos que precisávamos. Sempre escolhemos matar em vez de morrer de fome. Isso sempre foi assim em toda a história – nós procriamos mais do que podemos acomodar e a única solução é tomar de outra pessoa ou ir para uma área não ocupada.

Esse não é um exemplo das pessoas sendo tão desesperadas pra sobreviver que elas acabam se matando? Isso é meio que o oposto da extinção voluntária.
Sim, isso é sobreviver. Para prevenir a guerra, precisamos parar de procriar para não entrarmos em conflito em razão de recursos escassos. Aqueles que procriam mais vão dominar aqueles que não o fazem, e é isso que vem acontecendo por toda a história, e é por isso que evoluímos para uma espécie tão fértil.

OK. Quando você percebeu que queria ver a humanidade desaparecer?
Estava começando a ver problemas no mundo todo e tentando encontrar soluções. E, se você analisar cada problema em detalhes, você verá que ele é exacerbado pelo fato de que há mais de nós do que pode ser acomodado. A causa principal de cada problema são os seres humanos. Quando você vê que simplesmente eliminando uma espécie da biosfera vai melhorar tanto as coisas, esse é o começo, e a melhor maneira de espalhar essa ideia é por movimentos voluntários. Métodos involuntários sempre falharam.

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Você acha que sua filosofia se tornou mais ou menos popular com os procriadores desde os anos 80?
Bem, é impossível dizer, existem mais 76 milhões de participantes do movimento em potencial a cada ano, porque esse é o aumento da população, mas com certeza não estamos crescendo na mesma velocidade. A comunicação via internet foi fantástica para nos encontrar, mas não tenho certeza se convertemos alguém em um não-procriador de verdade. As pessoas resistem a mudanças. Apenas explicar que estamos acima de 50% da capacidade máxima da população não vai mudar a cabeça de algumas pessoas se eles realmente quiserem ter um bebê. “É disso que estamos falando, seres humanos morrendo”

Bem, você notou algum aumento ou diminuição no interesse da mídia?
Isso vai e vem, provavelmente, já que teremos o número mágico de “sete bilhões” de pessoas logo mais, vamos conseguir mais um onda de interesse, mas não tenho como dizer se aumentou ou diminuiu. É sempre um fluxo.

Bem, não precisa ficar empolgado, mas estou lhe entrevistando agora. Você leu Freedom, de Jonathan Franzen? É um dos principais caras obcecados por controle populacional.
Ah, não. Não li.

Bem, você deveria, fala bastante desse seu assunto. Você acha que várias pessoas ficam agressivas quando elas ouvem as suas ideias, ou a maioria das pessoas vê isso como uma piada?
Bem, os dois. Há pessoas que ficam ofendidas, mas acho que eles mostram potencial, porque significa que se importam, e que há potencial para se tornarem parte do movimento. Algumas pessoas acham a ideia incompatível com suas religiões, mas não acho que é. A maioria das religiões apresenta um tempo no futuro onde não existiram mais seres humanos no planeta.

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Digamos que possamos construir uma grande espaçonave um dia e viajar até outro planeta e habitá-lo, você estaria dentro dessa nave ou ainda não apoiaria a existência humana?
Bem, não seria uma boa ideia. Temos um ótimo planeta aqui mesmo; e precisamos tomar conta dele. Temos áreas como o Saara, onde já há ar e gravidade, precisa apenas de um pouco de água. Popular outros planetas não resolverá o problema da destruição ambiental na Terra, assim como as grandes imigrações para as Américas não resolveram os problemas na Europa e na Ásia.

Então é possível a existência nesse planeta com um menor número de humanos que não afete a ecologia, ou zero seres humanos?
Acho que zero humanos é o único número seguro. Enquanto houver apenas um casal de procriadores, poderemos voltar para onde estamos hoje.

“Não é apenas um meme; esse é uma metáfora decente do efeito da humanidade na natureza”

Parece que você tem admiração para cada tipo de existência – incluindo de planetas teóricos – mas não pela de pessoas.
Se a humanidade não causasse a extinção de outras espécies, não teria problema. Na verdade admiro muito a espécie humana, provavelmente mais porque sou um deles, mas isso não significa que deveríamos continuar a existir por toda a eternidade. Podemos viver nossas vidas o melhor possível e então morrer. Se houvesse menos pessoas a cada dia, teríamos mais de tudo e conviveríamos melhor.

No entanto, limpar os corpos das ruas seria um grande pé no saco. As pessoas te confundem com alguém que quer sair por aí matando bebês e esterilizar todo mundo?
Claro, a primeira coisa que as pessoas acham do nosso movimento é suicídio em massa e matar pessoas. Mas nosso principal objetivo é a não procriação. Nenhum outro país além da China tem uma política de controlar os não procriadores. No mundo todo as mulheres são forçadas a procriar; as negam seus serviços contraceptivos. Acho que a igualdade dos sexos é um pré-requisito para tudo. Sem igualdade sexual, os homens não vão deixar as mulheres usarem métodos contraceptivos. Precisamos parar de encorajar a procriação. Na Austrália, tiram mil dólares do seu imposto por criança.

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Te deixa louco quando você vê a fetichização da construção de uma família, e especialmente de se tornar mãe no Ocidente? Parece que ser um pai é a coisa mais importante, que se sobrepõe a ideais políticos e filosóficos, você pode falar algo completamente louco e paranóico, uma vez que é a partir da perspectiva de uma “mãe”. Ser mãe virou uma arma ideológica e conservadora – é impossível ser questionado.
Sim, isso é verdade; essa parece ser toda a motivação dos movimentos verdes também. Eles dizem que é para o bem de nossas crianças. Eles não veem que a razão pela qual as florestas estão perecendo é porque continuamos a aumentar o número de pessoas que precisam de produtos de madeira. Fico triste pelo fato de que as pessoas estão condicionadas a pensar que ter crianças é tudo o que há na vida.

Você acha que estamos chegando no nível crítico onde será inegável que há muitas pessoas no planeta, e os ricos e poderosos vão começar práticas violentas de controle populacional?
Bem, espero que não. Agora o importante é “parar com dois”, conforme diz o Grupo de Problemas da População do Reino Unido. Bem, não é o bastante, precisamos parar de vez. “Pare com dois” está ainda aumentando a população. Mas para responder à sua questão: sim, talvez práticas extremas limitando a liberdade reprodutiva sejam tomadas.

Meu amigo diz que a Nova Ordem Mundial coloca alguma coisa na água da torneira para transformar o seu esperma em purê de batata, o que você acha?
Acho bem improvável.

Quanto tempo vai demorar para que as pessoas não possam negar isso?
A capacidade humana para a negação parece não ter limites. Será necessária uma mudança de padrões para as pessoas perceberem que a falta de suprimentos não faz parte da política, e que a falta de água não é porque não conseguimos cavar fundo o bastante. O colapso da civilização é a direção que estamos tomando. Não digo que é o que vai acontecer, mas é isso que estamos desenvolvendo.

Então há algo prático que podemos fazer para evitar isso?
Bem, a coisa mais significante que uma pessoa pode fazer é se recusar a criar outro ser humano. No Reino Unido você pode salvar 6,1 hectares de vida selvagem apenas não criando outro ser humano.

Bem, muito obrigado, você tem bons argumentos.
Muito obrigado, até mais.

TEXTO POR ALEX MILLER VICE UK
TRADUÇÃO POR EQUIPE VICE BR