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concerto

Sou gémeo

Por favor, Twin Shadow, faz-me um filho.

Com as temperaturas a descerem cada vez mais, domingo à noite é uma boa altura para se estar em casa coberto de mantinhas, a beber chocolate quente e a ver um filme que não requeira muito esforço para os nossos neurónios, já por si cansados com a ressaca do dia anterior.

Mas nós, em Guimarães, com a cena da Capital da Cultura, temos a mania de que somos diferentes. Por isso, ontem, fizemo-nos ao caminho até ao grande auditório do

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Centro Cultural Vila Flor

para assistir a um concerto que nos prometia aquecer os corações. Em palco, estava George Lewis Jr., aka Twin Shadow, um cantor norte-americano, de origem dominicana, que transporta na voz um sabor a Jeff Buckley/Lenny Kravitz, com o groove dos 80.

A casa estava cheia e todos se perguntavam como iriam curtir o concerto, confinados aos 47 centímetros quadrados das suas cadeiras. Todos mesmo, porque esse foi um dos primeiros comentários do músico que, além de estar surpreendido pela disposição

à la mode

anfiteatro-sala-de-aulas, prontamente avisou o público de que durante o concerto não iríamos aprender nada e só nos poderíamos divertir. Por isso, estávamos à vontade para nos levantarmos e abanarmos o capacete. “Stand up, pick up the elderly closest to you and throw them in the air as far as you can!”, disse o gajo. Ou, em português: “Ponham-se a pé e atirem as velhotas ao ar, o mais longe que puderem!”

O concerto começou com “Golden Light”, uma música que causou imediatamente uma chuva de aplausos e assobios e que resultou numa entrega geral ao espírito quente e nostálgico que existe na música de Twin Shadow. Foi como se, de repente, todos estivéssemos dentro do

Barco do Amor

, acompanhados pela nossa meia-laranja (inevitavelmente, isto levava-nos a pensar nos nossos ex-namorados que, de uma forma geral, foram todos uns idiotas, mas que ao menos aqueciam-nos a cama nestas frias noites).

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As músicas sucederam-se num crescendo de luzes azuis e roxas, que criavam um ambiente ainda mais retro e que nos levavam a refletir sobre episódios da nossa vida e dos nossos desamores. De repente, as luzes apagam-se, todos os músicos desaparecem do palco e o Georginho (nome que lhe dei precisamente depois desta música) cantou uma versão solo de “The One”, um dos seus temas mais poderosos do segundo álbum e de todo o concerto. Fez-se um silêncio sepulcral enquanto ele, somente iluminado por uma leve luz branca, declamava com saudade na voz: “I can't believe sometimes I let down the one today I can't believe sometimes I lost the one who cared”. As suas palavras espalhavam-se pelo silêncio, com um eco que ressoava em todos os presentes. De tal forma que, no final da música, estávamos tão atordoados que demorámos alguns segundos a reagir e aplaudir ensurdecedoramente com gritos “we love you!”, ou “George, faz-me um filho”!

Na música seguinte, já todos se estavam a marimbar para os lugares e uma debandada geral fez com que metade dos presentes corresse em direção ao palco para estar mais perto desta voz quente e magnífica, rendidos ao talento deste grande compositor. No fim, um ambiente de comunhão entre o público e o cantor foi inevitável.

Agora já sei, ao domingo não preciso mais de chocolate quente, mais vale pegar nas mantinhas, no Häagen-Dazs e viajar pelo maravilhoso som deste senhor de cor do café com leite. Fica o aviso: se gostas da música do Twin Shadow, depois do concerto, as músicas a rolar no YouTube não voltarão a ser as mesmas.

Aqui fica um vídeo com a primeira música do concerto, “Golden Light”: