Os Óscares foram de vitória em vitória até à bronca final

Um dos primeiros episódios que se diferenciou em relação aos anos anteriores, foi a oferta de "candies" (e mais tarde donuts) a caírem do topo da sala, embrulhados em pequenos sacos/paraquedas. Pena a repetição da ideia durante o evento, já sem o efeito surpresa. No entanto, os presentes rejubilaram na mesma.

Jimmy Kimmel e Matt Damon gostam de se atarantar um ao outro em público. Esta picardia ao serviço do humor, que já vem do programa televisivo do primeiro, continuou com Kimmel a denegrir o "oponente" com algumas partidas. Por exemplo, quando Damon se preparava para dar a conhecer uma lista de nomeados, foi abafado pela orquestra, na altura comandada pelo anfitrião. Em resposta, o actor teve a hipótese de o rasteirar num dos corredores entre as cadeiras.

Ter Michael J. Fox e o Delorean de Back To The Future em palco, foi um "highlight" para muita gente que viveu a adolescência nos anos 80. Antes da entrega de uma das categorias, o actor, que sofre da doença de Parkinson, foi elogiado por Seth Rogen (ver tópico 3).

Leslie Mann e John Cho apareceram em palco para apresentarem os Prémios relativos às áreas de Ciência e Tecnologia, entregues há duas semanas. De forma irónica, revelaram ainda não terem conseguido perceber qual o seu significado e sublinharam que são tão "especiais e prestigiantes", que ninguém naquele auditório tinha sido convidado… ou quis ir.

O iraniano Asghar Farhadi, realizador de The Salesman, não esteve presente para agradecer o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro. Porém, numa declaração lida pela sua representante, criticou a Admnistração Trump pela "lei desumana" que baniu os emigrantes de sete países muçulmanos de entrar nos EUA. "Mais do que nunca, precisamos de empatia no Mundo", concluiu. Noutro sentido, Viola Davis (Melhor Actriz Secundária, por Fences) e Mahershala Ali (Melhor Actor Secundário, por Moonlight) tiveram discursos emocionantes em termos pessoais.

O apresentador foi uma agradável surpresa. Sem precisar de ser corrosivo como Ricky Gervais, ou Louis C.K. e não tendo o carisma e popularidade de um Billy Crystal, ou Conan O'Brien, a performance de Jimmy Kimmel foi, no entanto, sóbria e nunca chegou a ser entediante. Destaque para as piadas sobre Trump (a quem enviou um tweet ao vivo); a boca foleira ao presidiário OJ Simpson; a questão feita a Meryl Streep se estaria a usar roupa com marca Ivanka; e o destaque à presença de Isabelle Huppert, afirmando que todos gostavam dela mesmo sem terem visto o filme Elle.

Excelente ideia a de ver os actores a lerem tweets de ódio sobre eles próprios. Entre outros, Samuel L. Jackson ("cara de peido"), Eddie Readmayne ("fazes-me vomitar"), Emma Stone ("pareces uma puta drogada em todos os papéis") e Tilda Swinton (com foto de um cão com aparência similar ao seu corte de cabelo). O último de todos foi Robert De Niro a despedir-se do seu "hater" com um elástico, "F*** You".

O segmento "Inspirational" foi um dos mais conseguidos da noite. Com o objectivo de juntar diferentes gerações e mostrar actores a elogiarem obras que os infuenciaram, foi uma delícia ver Charlize Theron com Shirley Mclaine (citando The Apartment), Javier Bardem (que parecia um bocado ganzado em palco) com Meryl Streep (por The Bridges of Madison County) e os já citados Seth Rogen e Michael J. Fox. Por outro lado, Jimmy Kimmel aproveitou para gozar com Matt Damon e o fiasco We Bought a Zoo.

O momento mais original da noite (pelo menos dos que estavam programados) correspondeu à visita de um grupo de turistas a meio da Cerimónia. Sem saberem, a meia dúzia de anónimos de um "tour bus" ficou estupefacta ao ver-se no meio das celebridades. Especialmente um casal negro de meia idade que, ao revelar o seu noivado, tirou uma selfie e foi "casado" por Denzel Washington. "Se é Denzel, é válido!", brincou Kimmel. De resto, Meryl Streep, Nicole Kidman, Emma Stone, Ryan Gosling e a estatueta de Mahershala Ali foram os mais solicitados.

Quando as lendas Faye Dunaway e Warren Beatty comunicaram o nome do vencedor na categoria de Melhor Filme, parecia que a Cerimónia estava a caminho de um final sem percalços. Os responsáveis de La La Land ainda fizeram alguns agradecimentos e, de repente, os assistentes do evento avisam que Moonlight era, afinal, o grande vencedor. Estava consumado o golpe de teatro! O elenco musical foi muito "polite", tendo inclusive chamado e congratulado o outro nomeado, libertando de seguida o palco para a equipa maioritariamente afro-americana.

Warren Beatty, que hesitou ao anunciar o nome do filme durante largos segundos, ainda foi ao microfone explicar o engano. Pelos vistos, tinham-lhes entregue o envelope correspondente a Melhor Actriz (Emma Stone) e, por isso, na dúvida, Faye Dunaway anunciou La La Land. Uma coisa é certa: não devem faltar membros da Academia a querer oferecer "um selo" a algumas pessoas ligadas a esta enorme borrada. Definitivamente, esta edição será para sempre lembrada.