Fora do momento de glória em clubinhos escuros, a vida dos produtores de música eletrônica é bem pouco glamorosa. Horas e horas trancados em quartos e estúdios, muitas vezes sozinhos, debruçados sobre sintetizadores, controladores e mais um mundo de equipo. Tudo para fazer um trampo bom demais que você ignora enquanto prefere ouvir a novidade gringa.Para cumprir o papel de imprensa-formadora-de-opinião™, levantamos uma porrada de nomes espalhados pelo Brasilzão cuja produção merece ser ouvida. É uma galera com tantos pontos de intersecção quanto de dissenso musical, que se organiza de formas variadas para dar vazão a esse trabalho: desde selos e gravadoras, até coletivos, movimentos e encontros com hora e lugar marcados.
música eletrônica + ritmos baianos
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rap + eletrônica
bass + rap
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bass + dub + reggae + jazz + reggae + funk
rádio + ruas + bass
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Primeiro com a rádio virtual — transmissões da Metanol.fm vão ao ar toda terça à noite — e depois com festas na rua, a Metanol abriu espaço para diversos produtores apresentarem seu trabalho. "A Metanol é reflexo de uma ideologia sem barreiras, o que é essencial para o processo natural de evolução das ideias", diz o Akin, que tem lançamentos na agulha com a label carioca Domina.O S/A é um dos espaços onde essas ideias são postas a prova: a pequena casa da galera da Metanol costuma receber artistas mais experimentais — ou que testam trampos mais tortos por ali. "É uma plataforma que abriga diferentes iniciativas relacionadas à produção eletrônica, o que ajuda a manter um cenário de música avançada ativo ", explica o Akin.Em agosto, uma das noites do S/A foi ocupado pelo Fluxxx, interface de produção que conecta música a artes visuais, como o selo é definida por Lorena Green e Lucas Dimitri, criadores do selo paulistano, junto com Victor Lucindo, que entrou no barco este ano. A ideia deles é justamente oferecer um canal para os produtores experimentarem com sons diferentes, sem precisar se prender a determinada gama sonora."Para nós, a interdisciplinaridade é essencial, o crossover. Nós somos pós-crossover", brinca Lucas, que, entre outros projetos, se apresenta como Formafluida. Uma boa amostra dessa mistura está na coletânea 2X15, lançada em julho como comemoração ao primeiro ano da Fluxx e recheada de remixes dos produtores do selo.
música + artes visuais
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Em geral, o som da galera é abrasivo e desperta um sentimento claustrofóbico e cyberpunk — uma boa amostra é o EP Prelúdio, do Afroo Holligans. A Fluxxx também aposta num modelo de cross releases com outros selos. É o caso do álbum Obsidiana, do Iridescent, projeto do Victor, lançado em parceria com a Step in Recordings, de São Paulo, e também de Framework, do akaaka e Future Before Us do Formafluida que saiu em parceria com a Low Kick High Punch.A french house foi o ponto de partida da Winter Club Records, de Campinas. Capitaneada pelo Victor Bueno, a.k.a. Palinoia, a gravadora surgiu porque ele não encontrava espaço suficiente para o estilo aqui na terrinha. O próprio nome do selo é uma brincadeira com o som ensolarado e de curtição à beira mar, em contraste com o clima soturno do interior de São Paulo.Do final de 2013, quando surgiu, para cá, a Winter Club lançou discos do chefão Palinoia, dos paulistas Beerlover, Kruzader, do alemão Tightshirt, do produtor de Joinville Rheg e uma pá de coletâneas, quase todas com participação dos chegados da Brazilian Disco Club, como Arcade Fighters, Rafael Hysper e Kamei.Nesse tempo, o som da gravadora deu uma variada. No seu próximo lançamento, In Your Eyes, Palinoia explora sonoridades próximas do future funk e até trap. Já A Guide About Me, do Rheg, é um passeio por batidas chillwave que lembra o Neon Indian.
disco + trópicos
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'escolha o gênero + piada interna
techno + macumba
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Foto por Anna Mascarenhas.
Em novembro, aliás, Capslock estreia seu selo, o MEMNTGN, que será distribuído pela Kompakt. O primeiro lançamento será a pérola "Traumatesado", faixa produzida pela Cashu com o L_cio e vocal do Tessuto narrando uma noite inesquecível no clube alemão Berghain.
samples ao vivo
Niggas, o anfitrião e um dos produtores da reunião semanal de beatmakers. Foto por Felipe Larozza.
Nessas, mais de 60 pessoas já participaram e 400 faixas foram feitas. Como a evento tem regras específicas e tempo limitado, a produção é um pouco irregular, mas no soundcloud da Beats Brasilis há inúmeras pérolas criadas em cima de discos orquestrados dos anos 70 e álbuns conhecidos da MPB.Em edições especiais, o Beats Brasilis elege um disco atual para servir de matéria prima das produções. "Começamos isso na edição 33, quando o disco sampleado foi o do Liquidus Ambiento. No final, rolaram mais remixes do que tinham músicas no álbum, foi incrível", conta Niggas. A parada está próxima da 50ª edição e Niggasconfidenciou que sua gravadora, a Brasilis Grooves, tem uma surpresa para comemorar o marco.Por fim, é preciso dizer que esta lista nem de longe é definitiva e provavelmente já nasce defasada, mas é bom ir tomando pé e criando referências para entender esse momento da música eletrônica brasileira. Um detalhe: enquanto as meninas têm ganhado as pistas discotecando, o trampo delas ainda é tímido quando se fala em produção autoral. Questão de falta de espaço ou representatividade, fica aí o aviso de que queremos ouvi-las.Agora, se depois de tudo isso seu navegador não está prestes a travar com a mar de abas abertas, você errou feião. Volta para o começo e vai fundo.