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Música

Sango É o Novo Príncipe do R&B Alternativo

“Você remixa para prestar uma homenagem, ou você faz isso para chamar atenção”.

"Há dois motivos para remixar", explica Sango. "Você remixa para prestar homenagem ou você faz isso para chamar atenção". E como um artista que ganhou fama por lançar um álbum inteiro de remixes do The Weeknd, ele parece ter ambos motivos.

Sua coleção de remixes More Balloons pode ter sido um chamariz de atenção para seu álbum North, mas fazer referência aos sons que o formaram está na raiz de seu trabalho. Seja extraindo trechos de músicas de sua juventude, dando novo propósito a influências mais recentes ou reconcebendo gêneros inteiros através de uma nova lente, sua produção tem sido um diálogo direto com diferentes eras, estilos e artistas. Ele produziu EPs que colocaram sua marca na música latina, introduziu trap ao baile funk, e fez beat tapes baseados nas memórias áureas de sua infância. Tanto que os dois lados de North contam com  participação de vocalistas.

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Enquanto o produtor de 21 anos desenvolvia seu som, via por sua janela a plana e arborizada Michigan ocidental. "Aqui não te forçam a mudar, o que é bom, mas também é meio seco e não tem muito a oferecer". A sede do selo Ghostly era perto, em Ann Arbor; Toronto fica a pouco tempo de carro de lá e Detroit se sobressai ao redor, mas nenhum desses fatores podem alegar influência na produção de Sango.

Foram a internet e os laços familiares que tornaram Sango o produtor que é hoje. Ele viveu em Seattle até os dez anos de idade, portanto o rap da costa oeste dos Estados Unidos sempre o agradou. Seus pais passaram um tempo no sul e ouviam muito rap da costa leste, e foi assim que ele foi exposto à música dessa região. Seu avô também tocou numa banda afro-cubana, conta Sango. "Ele era o único afro-americano na banda. Passou para a família esse gosto por música latina". Inspirações mais contemporâneas abrangem desde Toro y Moi até Buraka Som Sistema e UK garage.

Apesar desse amplo caminho, conseguiu orbitar ao redor de um som similar aos de muitos de seus contemporâneos do vizinho Canadá, como Ryan Hemsworth, Kaytranada e CFCF, todos eles combinando R&B com sons eletrônicos macios e à frente de seu tempo. Um outro canadense com gostos parecidos é o Zodiac, um artista proveniente das plantações de milho de Ontário Central, que alega ter criado o conceito do som R&B sombrio do The Weeknd (sem ter ganhado um tostão por isso). Seu primeiro EP solo caiu nas mãos do selo de mentalidade semelhante, Vase, que é baseado em Montreal.

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É claro que artistas trabalhando na área não estão limitados ao Canadá, e uma abordagem semelhante é adotada por produtores ao redor do mundo. Há o Lapalux, do Reino Unido, e o Holy Other, bem como o Stwo, da França.

Muitos desses produtores foram aglomerados na categoria do R&B alternativo, já que apareceram através da Internet e são atraentes a diferentes audiências de fãs do R&B tradicional. Cantores como The Weeknd, Frank Ocean e Miguel também ganham essa hashtag.

Embora Sango veja isso tudo simplesmente como R&B, ele não se incomoda com o nome e não fica ofendido se alguém o associa a isso: "R&B sempre foi alternativo, desde Missy e Aaliyah, mas agora tem se tornado mais sombrio e grunge, com pessoas falando sobre drogas. Mas acho que vai passar por etapas, como o R&B em geral. Estou sentindo isso, mas não tenho essa pegada sombria. Sinto falta das coisas sobre relacionamentos e o quão bom eles podem ser".

No entanto, ele se identifica, sim, como um produtor underground. "Eu adoraria aparecer no mundo pop", diz. "Mas gostaria que nossa música parecesse nossa mesmo. A música pop é na verdade tudo o que é popular. Mas é difícil entrar nesse mundo sem que nos obriguem a soar de determinada forma".

O R&B e a dance music underground vêm se sobrepondo desde os primórdios de Giovanni Moroder. Seja na disco music dos anos 70 ou diva house dos anos 80, cantores de talento têm sido honrados com grandes ritmos de compasso quatro por quatro e sintetizadores análogos desde o início de seus dias de popularidade. Remixes juke e jersey de sons R&B também têm sido um alimento básico dos gêneros faz um tempo, desde pelo menos o início das décadas de 2000 e 2010, e até ainda hoje. A única faixa juke que chegou a alcançar um lançamento por um grande selo foi um remix de "Check On It", da Beyoncé, feito por Gant Man. O single de 2007 "Archangel", do Burial, foi baseado num trecho de "One Wish", do Ray J.

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Até 2010, uma leva de bass music voltada pro R&B se tornou predominante. "CMYK"de James Blake sampleou "Caught Out There", da Kelis e "Are You That Somebody", da Aaliyah. Teve remixes de "Deuces", da Ciara, por gente do tipo de Nguzunguzu, Jacques Greene e Dubbel Dutch, que se tornaram marca registrada de points hipsters, e o Brenmar estava ocupado remixando "Me & You", da Cassie, bem como "Groove Theory" da Rihanna.

Esse grupo de produtores de dance music underground que piravam num R&B logo deram o próximo passo inevitável e começaram a trabalhar diretamente com os vocalistas. Ao invés de remixar sons R&B para a pista de dança dentro de seus gêneros e subgêneros especificamente, muitos deles começaram a escrever músicas que podem ser mais caseiras e propícias à rádio diurna do que a uma rave num galpão. Esse ano Shlohmo apareceu com Jeremiah e How To Dress Well, Kingdom colocou Kelela para tocar e Katy B procurou Greene.

A cantora do Fade To Mind e colaboradora do Kingdom, Kalela.

É aí que oNorth do Sango entra na jogada. As batidas são menos experimentais - têm apenas alguns instrumentos - e a manipulação vocal é mínima. Mas era esse o ponto. "Eu queria que fosse mais tradicional. Com uma música que tem vocais, quero ter certeza de que esses vocais podem ser ouvidos. Quero ser o produtor e meio que recuar, mas compensar por minha criatividade em diferentes pontos, como adicionando uma segunda parte a uma música que cortei. Mas o cantor ou o rapper merecem o foco".

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Produzir para vocalistas não é nada novo para ele. Ele foi laçado para a produção aos 12 anos de idade por seu irmão e amigos, que eram rappers e precisavam de ajuda para produzir. Depois disso, seu colaborador mais próximo foi o rapper Waldo. "Já comecei com essa mentalidade de trabalhar com artistas", diz.

Quando Waldo foi expulso da escola e mudou-se para o Novo México, a direção do Sango se encaixou com o lado instrumental das coisas: "Nesse ponto eu estava, tipo, 'tenho que fazer isso sozinho agora' Foi então que decidi que precisava produzir uma beat tape. Fui colocado junto a FlyLo e esses caras. Unfinished foi minha primeira. Também estava pensando como esses artistas de techno fazem isso. Eles são pagos e vendem seus álbuns sem vocal nenhum. Então eu quis fazer aquilo". Seus primeiros lançamentos solos foram apenas isso: beat tapes. Eles pareciam música instrumental feita para vocalistas. Mas um ouvinte com certeza conseguia ouvir um prenúncio do Sango atual. Havia faixas que se voltavam ao exterior, como África e Brasil, o uso cada vez mais proeminente do baixo e da estética eletrônica, e um desenvolvimento literário.

Porém, não foi até seu primeiro EP oficial, Trust Me, que ele realmente se tornou o que é. Embora suas amostras ainda se aproximem fortemente de seus antepassados, seu som pintou uma visão de futuro e encontrou um lugar no mundo de hoje. Começou a apontar para o clima e a atmosfera e ao mesmo tempo prestando atenção em conceitos de composição, qualidade do som e uso de instrumentação única. Ele cita ter assinado com o selo Soulection como sendo o ponto alto desse processo. Foi a motivação de estar cercado por artistas de mentalidade semelhante à sua, o incentivo direto do dono do selo, Joe Kay (que ainda ajuda na produção executiva de todos seus lançamentos), e a introdução a um novo mundo de artistas que iniciou o processo.

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"Antes disso eu estava me escondendo debaixo de uma pedra. Eu sempre ouvia coisas mais tradicionais, escutava o que tocava na rádio. Soulection realmente me ajudou a definir meu estilo e a me certificar de que meu som estava sendo ouvido como conceitual, e não apenas como batidas".

North pode ter sido uma conquista única para ele, já que foi seu primeiro disco cheio todo com material original. Mas você pode esperar mais experimentações e diálogos com diferentes mundos no futuro: "Com um remix, pra começar, a música não é bem sua, mas você quer tentar fazer com que ela venha de você. Quero manter o mesmo estilo usando os troncos, ou quero tratá-lo como um sample e fazer minha própria parada? Quando você está trabalhando com um artista e com suas próprias batidas, no entanto, é muito mais orgânico".

Colocando em termos mais simples, o que ele disse foi "remixar é muito mais difícil".

Mike Steyels desenvolveu um novo órgão que traduz música para oxigênio @iswayski

Esta matéria foi publicada originalmente em agosto de 2013 em THUMP US

Tradução: Julia Barreiro