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Música

Mau Mau, Agoria, Magal e VCO Rox no Próximo Boiler Room Brasil

DJ paulistano promete um set só com raridades em vinil para a transmissão, que rola na segunda (16).

Após apresentar um set intimista e histórico com o DJ Marky em seu próprio apê e sorver o sangue underground da Metanol.fm, a parceria entre o Boiler Room e a Skol Beats desbravam mais uma página da história da música eletrônica brasileira: na próxima segunda (16) acontece a terceira edição do evento, que trará o o produtor francês Agoria, o projeto VCO Rox, do Dudu Marote e Paula Chalup, DJ Magal e o incansável ícone do tech-house brasileiro DJ Mau Mau.

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Com um prolífico catálogo de remixes, produções e parcerias, o Mau Mau já tocou nos clubes e festas mais importantes do país (inclusive no extinto festival da Skol Beats) tendo iniciado sua carreira no underground paulistano em clubes como o Madame Satã e Lov.e. Seus trabalhos são lançados por diferentes selos nacionais e internacionais, já que suas influências e pesquisas musicais vão do techno ao house, do flashback ao breakbeat, além de possuir o seu próprio selo Tropic Records. Conversamos por telefone com o Mau para falarmos sobre a vindoura transmissão, e ele contou excitadamente sobre o set especial que ele pretende fazer, que contará com raridades de sua coleção que já bateu os 15 mil vinis.

Como sempre, o local do evento é secreto e restrito a convidados, mas você confere a transmissão pelo site do Boiler Room às 21h na segunda-feira, e se perder, não esquenta a cabeça porque tudo vai estar no YouTube uma hora.

THUMP: Como surgiu o convite para o Boiler Room?
Mau Mau: A minha manager quem me falou. Já faz um tempo eu estava super empolgado com essa história de ter o Boiler Room aqui no Brasil, que eu achei super importante. Fiquei super contente com a vinda desse projeto pra cá, já que é um projeto com visibilidade mundial. Já tava bem empolgado só de estar aqui no Brasil e saber que vários amigos estão participando. E aí na semana passada a Monique me ligou e disse que eu estaria nesse próximo. Fiquei super contente.

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Você acompanhou as outras transmissões?
Eu não acompanhei ao vivo, mas vi depois no YouTube. Assisti o do Ney Faustini, do Maurício lá do Rio, do Marky…

O do Marky foi bem legal né…
Foi bacana, a história do long set com estilos diferentes, achei bem bacana.

E você já acompanhava o Boiler Room antes?
Quando é transmitido ao vivo, eu nunca vi. Mas vi vários depois, quando eles sobem os vídeos.

Me fala um que você acha legal, que você lembra.
Não lembro muitos agora, mas da Warp, que é um selo que eu curto muito, eu já vi vários. Do pessoal de Detroit… O Kevin Saunderson e Mr G eu achei bem bacana. E do Soulclap também achei bem legal.

E você está preparando um set especial?
Eu pretendo tocar só com vinil, então vou procurar aquelas edições limitadas ou difíceis de serem encontradas, alguns que eu sei que não saíram em formato digital. É o critério que estou usando, mas ainda não parei pra escolher. Pretendo colocar produções nacionais também, coisas em vinil que eu sei que tem cópias limitadas. Como te falei, ainda não separei, então vai depender do que eu achar porque não tá tudo organizado (rs). Mas eu pretendo tocar um disco do Habitantes, que saiu em edição limitada, que acho que fez parte da história da música eletrônica do Brasil. Pretendo tocar um do falecido DJ Alfred, que foi também uma edição limitada que foi feita que tem uma música chamada "São Paulo 15 Graus", que quase ninguém conhece e pra mim faz parte da história dessa evolução musical. Tudo vai depender do que eu encontrar, mas minha intenção pra escolher o repertório é mais ou menos essa. Tentar encaixar música que não sejam tão fáceis de serem encontradas, e eu sei que vai acrescentar pras pessoas que não conhecem.

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Eu não conheço esse DJ Alfred…
É, foi uma homenagem, logo depois que ele faleceu, alguns amigos nossos se juntaram. O Renato Cohen estava com umas músicas do Alfred que não tinham sido lançadas, então escolhemos algumas, prensamos o vinil com uma vaquinha, fizemos uma festa de lançamento, e saiu em uma edição bem pequena, acho que apenas 100 discos. Então esse é um que eu gostaria muito de tocar. Naquela época poucas pessoas produziam no Brasil, e eu acho que faz parte da história.

E você já trabalhou com o Dudu Marote e a Paula Chalup, que estarão tocando com você no dia. Como vocês se conheceram e começaram a trabalhar juntos?
Na verdade somos todos amigos, e meu projeto com a Paula é o 2ATTACK. A gente tem um single lançado por enquanto, dois remixes, e estamos trabalhando muito nessas últimas semanas pra ter material pra mandar pra outros selos. Na verdade tem mais dois singles prontos no próximo mês pelo selo brasileiro Low Kick High Punch, e tem um outro que vai ser lançado por um selo europeu, mas eu não posso falar porque vamos bater o martelo na semana que vem ainda, e pode ser que não seja por esse selo. Mas temos trabalhado bastante, e paralelamente eu tenho um outro projeto chamado Plexus, com o meu amigo Franco Júnior, e a Paula tem esse projeto com o Dudu, que é o VCO Rox. Então tá tudo com essa história de juntar forças, cada um faz um remix um pro outro, acho que o caminho é esse, de unir forças para cada um ter uma inspiração diferente, uma visão diferente, um método diferente de trabalhar, e acho que isso só tende a crescer.

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Me fala como é isso de lançar músicas por diferentes selos. Isso altera o seu jeito de fazer música?
Eu sou bem aberto musicalmente falando, eu não me prendo a um único estilo de música. Tem noites que eu puxo mais pra house, outras pra tech-house. Por exemplo, na festa Cio eu toco flashback, um pouco de 80. Agora esse sábado eu toquei na Inner.MultiArt, na pista da RedBull, e toquei só breakbeat. Embora muitas pessoas me liguem ao techno, eu sou bem amplo, não me fecho a isso. Em termos de produção, uma época eu só produzia techno e tech-house, mas aí pensei "Já que eu tenho esses estilos e noites diferentes, também quero ter projetos diferentes". E juntar com pessoas que pensam e trabalham diferente, que possuem equipamentos diferentes, acho que tudo enriquece, eu aprendo muito e tenho oportunidade de lançar músicas em diferentes estilos, o que acho bacana. Daí óbvio que, por serem diferentes, vão pra selos que trabalham especificamente com um estilo ou outro. Acho que isso amplia mais o trabalho, dando oportunidade tanto de mostrar esse lado versátil musicalmente falando, como depois pra ser convidado não só apenas para uma festa de techno. Acho que hoje em dia você tem que estar aberto, porque a música é muito ampla. Eu acho que tem música boa em vários formatos e estilos, e acho que se fechar em uma coisa só, você acaba perdendo um pouco algumas oportunidades.

E essas transmissões online, o Boiler Room, tudo ajuda muito com isso, de mostrar e conhecer diferentes cenas e estilos…
Exatamente, tem vários estilos que estão presentes ali, e eles buscam mostrar isso. Expressar a música de várias maneiras diferentes, várias inspirações, diferentes BPMs…

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Como você acha que a internet ajudou ou modificou sua pesquisa musical?
Tem um lado bom e um ruim. O bom é que eu acho que ficou muito democrático: qualquer pessoa pode produzir, mostrar o trabalho e divulgar em sites especializados de venda de música, ou na própria mídia social que ela usa. Acho isso legal por que abriu o leque, e a rapidez com que você divulga: hoje você produz, bota na rede, e no mesmo dia pessoas do mundo inteiro podem entrar em contato com teu trabalho. O que eu acho ruim é que não existe um filtro para selecionar esse material e direcionar pra um estilo, ou algumas coisas que não tem qualidade acabam entrando da mesma forma. Então hoje é muito mais trabalhoso fazer pesquisa musical, você leva muito mais tempo porque tem muita coisa. Mas eu acho isso super válido, porque você consegue escutar coisas que anos atrás você não teria acesso. Então dá mais trabalho, mas você tem o mundo em suas mãos, e com rapidez. Você não tem que esperar uma gravadora lançar e entregar pra distribuidora. Quando era vinil, ainda tinha que esperar prensá-lo, e até chegar em nossas mãos você tinha uma defasagem muito grande de tempo. E hoje em dia é tudo muito rápido, prático.

E você acha que o Brasil já tem um cenário pra talvez ter o seu próprio Boiler Room, ou um canal que filtre essa música sendo produzida?
Sem dúvida, porque hoje em dia o DJ não pode deixar de ser produtor. Ninguém tem grande visibilidade sendo apenas DJ. Eu acho que DJ hoje vem acompanhado da produção, o que seria o seu cartão de visita. É muito mais comum você ver bons DJs tocando menos, e produtores que às vezes nem são DJs tocando muito mais. Às vezes alguns produtores são chamados pra tocar e eles nem sabem, mas aprendem com o tempo. Eu acho que aqui no Brasil temos excelentes produtores hoje em dia. Tem muita gente bacana fazendo música boa, lançando por selos legais, tanto no Brasil como selos internacionais importantes. Hoje você pode encontrar vários brasileiros no top 100 ou top 50 em sites especializados como o Beatport. E a cena também cresceu muito, hoje em dia tem muitos mais lugares pra você mostrar seu trabalho. Muita festa, bar, evento. Todo dia que toco em algum lugar pela primeira vez, sempre tem algum DJ lá que eu nunca ouvi falar e acabo surpreendido, porque ele toca bem ou tem um repertório bacana.

Consegue lembrar a última vez que foi em um lugar e teve uma surpresa assim?
Poxa, quase todos os lugares… Um dos últimos lugares foi no Sul, semana passada, nos clubes Chakra e Epic Concept Club. Nesses dois lugares, eu não conhecia os DJs, mas todos tocavam muito bem.

E como você divide o tempo entre DJ e produção? Porque toda semana tem algum lançamento seu saindo por um selo diferente…
É algo bem complicado, tem que se dedicar bastante. Eu procuro dividir um pouco o tempo. Em semanas que eu toco quatro vezes, dificilmente vou produzir muito. Mas quando toco só de fim de semana, eu passo a semana inteira trabalhando. E aí marco cada dia com um projeto diferente. Então um dia eu marco pra produzir o 2ATTACK, outro dia minhas próprias produções e remixes encomendados, outro dia com o Plexus, e aí vou encaixando… É uma loucura. O tempo pra lazer é quase zero, atualmente. Mas depois que eu tenho um volume de produção com lançamento, eu dou uma folga na produçao. Aí fazemos lançamentos desses trabalhos, e aí produzo um pouco menos. É uma coisa de meses: passo quatro meses produzindo intensamente, depois pego dois meses dou uma relaxada pra poder tocar e lançar esses discos. Ou seja, dedicação total porque senão a coisa nao vai. Porque tem muita gente hoje no mercado, e hoje em dia, como te falei, a produção virou o cartão de visita. E se você não produz, você vai sendo esquecido.

Você acha que esse é o segredo para se manter sempre relevante num cenário tão dinâmico?
Não diria que é um segredo, mas é um dos pontos importantes dentro de um conjunto de fatores. Hoje em dia a publicidade é importante, ter uma assessoria e estar numa boa agência é importante. Ter um direcionamento do que você está fazendo, ter um planejamento. E como você falou, conseguir manter é muito mais difícil do que conseguir chegar lá. Se você faz uma música bem pensada no que quer atingir, você chega facilmente num top 10 de algum lugar. Mas manter isso é muito complicado. Então tem esses fatores que auxiliam. Existe o estar no lugar certo na hora certa, mas senão se dedicar a coisa vai pro ralo.

E fora esses projetos, o que mais você está fazendo?
Eu tenho o meu projeto Kings of Swingers com o Renato Ratier. Temos ele há dois anos já, tocamos bastante juntos e começamos a produzir. Mas como o Renato lançou o primeiro album dele no ano passado, demos uma parada pra ele poder fazer a divulgação e sua turnê. Queremos retomar o projeto agora no segundo semestre. Estou com muitos remixes encomendados, e atualmente estou finalizando um remix para o aniversário do projeto "Que Fim Levou Robin?". Inclusive esse álbum foi produzido pelo Dudu Marote, e estou entrando nessa comemoração com um remix. E fora isso estou produzindo faixas minhas, tentando criar um volume bom pra sair distribuindo pelas gravadoras.