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Quem é que quer viver na Idade Média?

Não havia coca, nem raves nesta altura.

Este fim-de-semana, depois de um estrondoso sucesso no ano passado, a versão vimaranense de uma feira medieval, a Feira Afonsina, volta a entupir o centro histórico da cidade-berço com uma prometida viagem no tempo. Segundo os promotores, o contexto histórico da nossa feira medieval é o recorte temporal 1125-1128 e a emancipação do jovem Afonso desde que este foi ordenado cavaleiro, até que expulsou a mãe de casa, durante a batalha de São Mamede. É impressionante a quantidade de feiras medievais que, nos últimos anos, se tem instalado nos programas culturais de múltiplas vilas e cidades portuguesas, que, em regra, têm um castelo ou uma muralhita (como Guimarães, até temos as duas coisas). Visivelmente populares, mais modestas ou mais exuberantes, estas iniciativas são bastante correspondidas e garantem ajuntamentos impressionantes de famílias e animais domésticos. Cá para mim, a culpa é dos gajos de Hollywood que, com aqueles filmezitos de sábado e domingo à tarde, tem romantizado o olhar do cidadão comum actual sobre esse período da história. Mas o que foi, afinal, a Idade Média? Em poucas palavras, qualquer historiador diria que é o período da história balizado entre a queda do Império Romano do Ocidente (476) e a conquista de Constantinopla pelos turcos (1453). Entre outras coisas, as más-línguas chamam-lhe “a idade das trevas” e espalham mitos para o pessoal medieval acreditar que a Terra era plana e que as mulheres viviam oprimidas por uma sociedade machista. Não é preciso perder muito tempo na biblioteca. Basta ir à Wikipédia para ficarmos, rapidamente, com uma clara e inequívoca ideia das desvantagens de viver numa sociedade desigual, pobre e violenta. Bem, tirando alguns gadgets que entretanto se têm mostrado muito úteis, parece que as coisas não mudaram assim tanto… Para esse exercício de comparação não ser demasiado maçador, aqui fica uma lista que resume as desvantagens de se viver na Idade Média: 1- De vez em quando,o lá aparecia uma epidemia ou uma peste negra e não existia nenhum Serviço Nacional de Saúde, ADSE ou Médis;
2- Havia invasões germânicas e muçulmanas que nunca mais acabavam. Nós agora só temos as espanholas na semana santa e são um bocadinho mais pacíficas;
3- O Papa era um bocado chato e impingia Cruzadas à Terra Santa e a construção de mais catedrais a toda a gente;
4- Não havia Liga dos Campeões, nem a Taça da Liga;
5- Para se beber cerveja à vontade tinha de se entrar para um mosteiro de clausura e abraçar o celibato;
6- O feudalismo, com toda aquela conversa de vassalagem e suserania, era uma coisa muito chata. A Troika é muito mais animada;
7- O pessoal não era lá muito amigo de tomar banho, nem da ideia de usar papel higiénico;
8- Pensava-se constantemente que o mundo ia acabar em qualquer ano com terminação em número par, ímpar, redondo ou capicua (eu só me lembro de se temer o apocalipse em 2000 e 2012);
9- Não se faziam raves, nem havia coca;
10- Os europeus ainda não sabiam da existência do Brasil, nem das Caraíbas e acreditavam em Bojadores e Mostrengos. As terapias alternativas são uma coisa muito mais cool e menos assustadora;
11- A esperança média de vida para o comum dos mortais era de 35 anos;
12- Não havia entrega de comida ao domicílio. Em alguns casos, não havia comida de todo;
13- Não havia Easyjet nem Ryanair;
14- O Gutenberg não tinha inventado a imprensa e um monge copista demoraria anos a reproduzir um dos mais ligeiros livritos do José Rodrigues dos Santos (pensando bem, nem tudo era mau);
15- Não havia a Wikipédia para fazer este tipo de pesquisas. Depois de ler isto, ainda há alguém que queira viver na Idade Média?