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Saúde

A PETA garante que a cerveja é mais saudável que o leite

Uma campanha da organização de defesa animal está a causar polémica nos EUA.
Fotografia via utilizador do Flickr Adermark

Este artigo foi originalmente publicado na nossa plataforma Munchies.

Ainda que seja difícil de acreditar, foram muitas as ocasiões ao longo da história em que a cerveja foi considerada uma bebida saudável. Os historiadores, por exemplo, há muito que discutem a possibilidade de os nossos antepassados beberem cerveja em vez de água para recuperarem energia. No século XVIII, a cerveja era considerada uma espécie de sumo fresco, quando comparada com os malefícios do gin. Agora, a PETA alega que a cerveja é mais benéfica que… o leite.

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Nas paragens de autocarro junto da Universidade de Wisconsin-Madison, nos Estados Unidos da América, instituição conhecida por ser casa dos estudantes mais dados à festa em todo o país, a PETA colocou cartazes publicitários em que imita um conhecido anúncio a leite, mas em que a bebida branca é substituída pela bebida com espuma branca. Talvez não seja uma táctica muito ortodoxa para recrutar vegans, mas também não é a primeira vez que a PETA recorre a estes métodos.

No cartaz pode ler-se: "É oficial: a cerveja é mais saudável que o leite. Estudos demonstram que a cerveja fortalece os ossos e prolonga a vida, enquanto o leite pode causar obesidade, diabetes e cancro. Sê responsável: não bebas leite". Um asterisco encaminha-nos para uma nota em que se revela a fonte da informação: nada menos que a Harvard's School of Public Health, bem como três prestigiadas revistas médicas.

Numa nota à imprensa, a vice-presidente executiva da PETA, Tracy Reiman, diz: "O veredicto está anunciado e a cerveja ganha ao leite sem margem para dúvidas. O álcool, desde que consumido com moderação pode ser bom para a saúde. Todavia, não é possível consumir produtos lácteos de forma responsável, quando estes nos prejudicam directamente, para além de provocarem o sofrimento de milhões de vacas". Curioso é o facto de os cartazes não incluírem a parte de "beber com moderação".

"Enquanto cientista e pai, essas afirmações parecem-me absolutamente irresponsáveis, sobretudo tendo em conta o problema que representa o consumo excessivo de álcool em muitos campus universitários", salienta Greg Miller, director científico do National Dairy Council, organismo norte-americano que se dedica a elogiar as benesses dos produtos lácteos na alimentação. Miller faz, ou já fez, parte das direcções editoriais de várias revistas de nutrição e foi também editor do American Journal of Clinical Nutrition, que a PETA cita nas suas alegações. "Eu trabalho para o sector, portanto, melhor do que se fiarem na minha palavra, consultem as directrizes dietéticas governamentais aconselhadas à população norte-americana", aconselha Miller.

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Inúmeras investigações foram já desenvolvidas sobre os riscos e os benefícios do consumo de álcool e, volta e meia, há resultados contraditórios. Um estudo revelou, por exemplo, que o consumo moderado pode atrasar o envelhecimento e favorecer a saúde cardiovascular, enquanto outro conclui que beber com moderação não melhora a saúde e pode, até, causar sete tipos de cancro.

No site da Harvard's School of Public Health podem consultar-se os benefícios e os riscos do consumo de álcool para a saúde. Em geral, os peritos coincidem numa ideia: apanhar a carraspana do século não tem nada de positivo. E talvez estejamos todos também de acordo que é muito provável que não seja necessário dar mais alento aos estudantes da Wisconsin-Madison para beberem cerveja.

"É muito triste que tenham recorrido a tais tácticas para converterem as pessoas ao veganismo. É certo que beber álcool com moderação pode ter benefícios para a saúde, mas um dos problemas que enfrentamos é, precisamente, o consumo excessivo nas universidades, pelo que este tipo de anúncios não farão mais que piorar a situação", salienta Miller.

Por sua vez, os benefícios do leite para a saúde também têm sido postos em causa de tempos a tempos. Considerado durante muito tempo como uma fonte de cálcio e vitaminas de excelência, o leite é também rico em gorduras e pode causar inflamações. Alguns estudos estabelecem até uma relação entre a ingestão de leite e elevadas taxas de mortalidade e questionam o efeito fortalecedor dos ossos que sempre lhe foi atribuído. Nas sugestões de Harvard sobre o assunto, aconselha-se a limitar o consumo de leite a uma ou duas doses diárias e a procurar fontes alternativas de cálcio.

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Quer a Harvard's School of Public Health, como o American Journal of Epidemiology recusaram-se a prestar declarações para este artigo. Outras publicações que contactámos não tinham respondido às nossas questões até ao momento da publicação [publicação original a 18 de Setembro].

Está ainda por se perceber o efeito desta campanha da PETA, tanto nos consumidores de produtos lácteos, como nos de cerveja. No entanto, parece claro que a segunda bebida é bastante mais popular entre os estudantes da universidade tristemente célebre por organizar um desfile de Halloween em que participam mais de 100 mil pessoas bêbadas e que, habitualmente, acaba em distúrbios e desacatos. Se o objectivo da PETA é consciencializar a população, se calhar deveria pensar em recorrer a outros métodos.


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