20 Anos Depois, Qual é a Importância do Amsterdam Dance Event?

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Música

20 Anos Depois, Qual é a Importância do Amsterdam Dance Event?

Perguntamos para produtores de ontem e hoje qual a real função de uma das convenções mais importantes do mundo da dance music.

2015 marca os 20 anos do Amsterdam Dance Event (ADE). Na primeira edição, apenas 300 representantes compareceram ao evento, sediado em um teatro e com 30 DJs tocando em três clubes da cidade. Agora, o ADE é um evento multinacional com um número espantoso de festas, que atrai mais de 300 mil pessoas anualmente. Em Amsterdã, o THUMP falou com alguns dos DJs mais famosos da Holanda, de ontem e hoje, sobre a influência que o evento teve sobre eles e sobre o seu país.

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O tradicional incentivo da Holanda à cultura da dance music foi benéfico para a cena de música eletrônica do país. Alguns dos maiores DJs comerciais do mundo vêm dos Países Baixos: Armin Van Buuren, Hardwell, Afrojack, Martin Garrix, Tiesto, Ferry Corsten… A lista é imensa e impressionante. Isso sem falar do underground, de Jaydee – cuja faixa "Plastic Dreams" é um dos maiores clássicos do techno – aos artistas contemporâneos, como Tom Trago, William Kouam Djoko, Mees Dierdorp, Boris Werner e San Proper. Gerações de artistas têm florescido no ecossistema progressivo do país, desenvolvendo-se rapidamente e se mantendo firmes e estáveis em meio a qualquer tipo de "recessão" dentro da cultura da dance music.

Leia: "O DJ Cook Off do Amsterdam Dance Event Foi o MasterChef da Eletrônica"

O ADE nasceu neste ambiente permissivo, em 1995, quando existiam pouquíssimas conferências de música eletrônica e a cultura dificilmente era levada a sério por qualquer governo autoritário na Inglaterra ou em qualquer outra parte do mundo além da Holanda e da Alemanha. O DJ Jean, um dos seletores mais antigos e prolíficos do país, contou ao THUMP: "Os holandeses foram pioneiros na cena de house. Não que ele tenha sido inventado aqui, mas fomos um dos primeiros países a ter uma cena grande. É por isso que temos essa vantagem sobre outros países, como os países do Leste Europeu, ou como os EUA, que só acordou cinco anos atrás".

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"Aqui tudo começou 10 ou 15 anos antes. Foi uma época muito importante, em que criamos uma base muito forte — todo o hype que existe hoje em torno dos DJs holandeses, existe graças àquele período. Com coisas como o ADE, e todas as festas e festivais grandes, naquela época, fomos os primeiros a realmente tornar esse lance profissional, e é por isso que as organizações e os DJs holandeses são um fenômeno mundial."

Johan Gielen, outro veterano que nasceu na Bélgica, mas se tornou famoso na Holanda, acrescentou: "Ao longo dos anos, produzimos DJs muito bons aqui, e a Holanda tem estado no mapa há algum tempo. Antes disso, tínhamos que ir a Cannes, ao WMC… Mas o ADE se tornou um evento central".

A influência do ADE na Holanda e na sua fértil indústria de música eletrônica é inegável. Em 20 anos, o influxo crescente de visitantes estrangeiros levou a relações e parcerias criativas que impulsionaram a cena nacional e mundial e ajudaram estrelas internacionais a alcançar uma fama sem precedentes.

Pode ser difícil de acreditar, mas Hardwell, o vencedor do Top 100 da DJ Mag, distribuía seus CDs de graça antes de alcançar a fama no circuito mundial de EDM. Conversamos brevemente com o homem que tem 13 milhões de seguidores nas suas redes sociais, e ele é um fofo. Com um sorriso indelével, ele nos disse: "Eu definitivamente acho que o ADE me ajudou a avançar na minha carreira. A primeira vez que fui ao evento foi há nove anos, era um desses moleques na rua com seus CDs, mostrando sua música para outros DJs e donos de selos. O lance era conhecer pessoas e conversar".

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Reforçando a opinião dos seus predecessores, DJ Jean e Johan Gielen, Hardwell fez questão de destacar a força da cultura da dance music no seu país: "Na Holanda, as pessoas sempre acolhem a dance music, não tem outro país que tenha apoiado mais a dance music… Uma das razões por que isso acontece em Amsterdã é que há uma forte cultura da dance music na Holanda. Temos uma cultura de clubes florescente aqui desde os anos 80, e é assim que começou, sempre curtimos a dance music. Os ingleses também, mas nunca organizaram uma grande conferência para reunir todo mundo, era mais underground. O Amsterdam Dance Event definitivamente ajudou a levar as coisas para outro patamar".

Todos os anos, o que coloca o ADE acima de qualquer outra conferência em que o THUMP vá é o fato de que todo mundo ali quer falar sério e fazer negócios. Sim, isso pode ser a antítese de 'fazer as coisas por amor', o espírito sobre o qual essa cultura foi construída, mas ela é um negócio agora, uma indústria de bilhões de dólares, então é importante ser o mais profissional possível. Nos divertimos no Amsterdam Dance Event, mas também organizamos reuniões para falar com nossos parceiros cara a cara.

Falar cara a cara é crucial para uma relação profissional. E o rudeboy do underground, William Kouam Djoko, aponta esse contato direto como um dos catalisadores por trás do seu recente sucesso. "As coisas acontecem aqui. As coisas acontecem no ADE, ao contrário de como é no Sonar, no Winter Music Conference ou no BMP, no México. Todos os encontros são absolutamente fantásticos, mas na Holanda, o clima não é tão bom nesta época do ano, então você não vai para a praia relaxar. Você está com frio, quer fazer as coisas acontecerem, e isso foi muito importante para a nossa cena, para a cena holandesa e para a cena internacional", afirmou, tipicamente entusiasmado.

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Um dos membros mas joviais e energéticos da geração mais nova de artistas holandeses, William já lançou suas músicas via mobilee, Leftroom e Tuskegee e por meio dos selos holandeses Rush Hour, Soweso e Voyage Direct, entre outros. Ele continuou: "Esta é a primeira vez que participei da programação diurna. Normalmente apareço à noite e trabalho muito, nos clubes e na rua. Aqui você está nos bastidores em horários esquisitos, com gente esquisita, fazendo coisas esquisitas, falando de negócios. Você é chamado para shows, depois do ADE, tudo porque conversou com as pessoas aqui".

Essa interação e comunicação na 'vida real' foi apontada como um dos pontos mais positivos do ADE por todos os nossos entrevistados. Garrix nos disse: "Os holandeses têm acesso a pessoas que eles não conheceriam normalmente. Na sexta-feira, vou participar de uma sessão de perguntas e respostas onde vou pegar os promos das pessoas, escutá-los e dizer o que acho deles. É muito mais pessoal, as pessoas podem te ver, conversar, ouvir a sua história e se inspirar. Foi a mesma coisa para mim quando comecei a vir, minha experiência aqui me motivou e me deu muito conhecimento".

Até o DJ Jean, que se lamentou de todo o esquema de conferência para nós e reclamou durante todo o painel dos seus conterrâneos, os veteranos Jaydee, Ton B e Johan Gielen, admitiu que o ADE facilita boas relações de negócios. "Este ano marca os 20 anos do Amsterdam Dance Event, e ao longo desse tempo, provavelmente vim umas quatro vezes, então ele não influenciou em nada a minha carreira. Mas percebi com o passar dos anos que o networking é cada vez mais importante. Digitalmente falando, o mundo está se tornando cada vez menor – em vez de se comunicar digitalmente, as pessoas podem vir aqui e resolver as coisas pessoalmente. É muito importante, mas para mim é menos importante. Para ser sincero, estou cagando", desabafou.

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A sua opinião é compartilhada por Johan: "Como muita gente diz, é crucial se encontrar pessoalmente para discutir as coisas, especialmente negócios, e o ADE é, sem dúvida, a principal reunião da música eletrônica".

Além disso, para os artistas holandeses – e internacionais, também – o ADE pode funcionar como um medidor do seu progresso. Um DJ pode organizar uma festa pequena em um clube pouco conhecido durante a conferência num ano, e dois anos depois pode ser a atração principal de um dos maiores clubes do evento. Isso pode soar muito parecido com Ibiza, mas trata-se de um intervalo de um ano, em que você pode realmente medir a sua presença dentro da indústria, especialmente quando recebe aquele bilhete premiado para aparecer no palco participando de um painel, ou mesmo de uma entrevista. Neste ano, pioneiros como Juan Atkins, Robert Hood e Jeff Mills estiveram no palco ao lado de Seth Troxler, Nicky Romero, The Black Madonna e mais uma miríade de outros artistas talentosos, novos e antigos.

William Kouam Djoko mal conseguia esconder sua emoção enquanto contava que tinha feito a sua primeira aparição em um painel neste ano. Nessa edição, ele debutou de fato no evento: "Fiz meu primeiro painel este ano. Para mim, isso é um marco de onde estou na minha carreira. Sou o cara no palco, com 31 anos e cabelos grisalhos – as pessoas estão olhando para mim tipo, "ei, cara, posso te fazer uma pergunta?". É um indicativo de que estou fazendo alguma coisa certa, e isso é muito importante para mim – o ADE é um bom medidor, a cada ano, de quanto evoluí".

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E como prova definitiva da influência do ADE, temos a palavra do 'hater de conferências', DJ Jean, que relutantemente nos contou que agora também é um frequentador regular do evento: "É muito estranho dizer isso, mas odeio conferências. Moro aqui em Amsterdã há 20 anos, e as únicas vezes em que estive em uma convenção foi para tocar. Quando não estava tocando, não ia em nenhuma delas, porque todo mundo só fala o dia inteiro".

"Sou uma criatura noturna, e convenções são uma coisa diurna. Tenho que sair da cama às 9h ou 10h da manhã e fazer todos esses acordos, falar um monte – não que eu odeie conversar, mas fazer isso durante o dia é o que me mata. Estou acostumado à vida 24/7, a ir para a cama todos os dias entre 4h e 6h da manhã e acordar depois do meio-dia. Então essa história de convenção não é para mim. Mas, nos últimos dois ou três anos, comecei a pegar o jeito".

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Tradução: Fernanda Botta