Como construir sua própria cápsula do tempo
Crédito: Lia Kantrowitz

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Tecnologia

Como construir sua própria cápsula do tempo

Com preparativos específicos, sua arca pro futuro pode dar certo.
Lia Kantrowitz
ilustração por Lia Kantrowitz
Madalena Maltez
Traduzido por Madalena Maltez

Muitas se perdem. Tantas outras são abertas prematuramente. Por dentro, nenhuma é igual. Mas há um ponto em comum entre todas as cápsulas do tempo já criadas: um desejo de se comunicar com o futuro.

É um comichão existencial dentro de uma era de obsolescência programada, links que se perdem, sonhos desvanecentes de arquivar toda a internet, trolls, desinformação, tuítes soltos sobre guerra nuclear feitos pelo presidente dos EUA e mudança climática.

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Para entender quem somos e para onde vamos, é chegada a hora de falar sobre cápsulas do tempo. Eu diria também que é hora de você começar a fazer a sua, seja como forma de expressar uma visão otimista dos dias de hoje ou já pedir desculpas pela sociedade por ter destruído o planeta e a nós mesmos.

Acredite: construir uma cápsula do tempo por conta própria não significa gastar uma grana brutal. Com alguns preparativos específicos para dados – e um pouquinho de biohacking – sua arca poderá transcender o tempo.

Abaixo, um breve guia que te indicará como deixar sua mensagem para o futuro.

Crédito: Lia Kantrowitz

ENCONTRE O LOCAL ADEQUADO

Um local tranquilo é onde você deve enterrar sua cápsula. Para garantir, consiga permissão do dono do lugar. Enterrar a cápsula aumenta as chances de infiltração ou perda da mesma, porém. Independentemente do local escolhido, em área externa ou interna, seria interessante marcar onde ela foi escondida. Falaremos mais sobre isso adiante.

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DEFINA UM PERÍODO DE TEMPO

Cinco anos? Vinte? Cinquenta? Talvez você viva pra ver a cápsula sendo aberta ou prefira que ela vá além de seus anos de vida. Quanto mais distante no tempo você quer enviar uma mensagem, maiores serão os cuidados não só na criação e tratamento de cápsula, mas também na escolha do que irá ali dentro para garantir sua durabilidade. Cem anos? Bem, sejamos realistas.

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CONTENHA-SE

Não existe uma cápsula ideal para todos. Aço inoxidável ou alumínio são ótimos materiais para a criação de uma cápsula que podem durar ao menos uma geração. Os modelos já prontos podem custar entre 30 e 2.000 dólares na internet. Uma lata de café, por exemplo, pode passar uma década ou mais enterrada e tudo bem.

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Crédito: Lia Kantrowitz

REÚNA MATERIAL

Que mensagem você quer mandar pro futuro? Você vê a possibilidade de um mundo melhor adiante? Você sente que deve aos humanos de amanhã um alerta ou um pedido de desculpas por tudo que fizemos até então? É hora de escolher utopia ou juízo final.

De qualquer maneira, é hora de considerar pouca ou nenhuma tecnologia, supondo que uma “era das trevas digital” poderia inutilizar qualquer material eletrônico utilizado na cápsula. Pense em coisas pequenas, simples, resistentes – nada que possa vazar, corroer ou quebrar ao longo do tempo, incluindo grampos, elásticos e clipes de papel. Coloque folhas de papel em envelopes de polietileno. Catalogue tudo para posteridade.

Nada disso está escrito em pedra, claro, o processo de construção de uma cápsula é tudo menos linear quando se fala de duração, tipo de invólucro, local e conteúdo. Talvez seja uma boa começar pela escolha do local onde será enterrada, ou quem sabe pela seleção de conteúdo, trabalhando de dentro pra fora, dependendo do que você realmente quer.

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SELE CORRETAMENTE

Não use solda ou nada do tipo, tendo em vista que o calor pode afetar o invólucro e os objetos ali contidos. Uma boa resina de époxi deve dar conta do recado, e quanto mais bem fechado, melhor. Talvez seja uma boa encher o interior da cápsula com gás de argônio para o máximo de conservação. Para protegê-la da água, envolva a cápsula em um saco de polietileno.

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Crédito: Lia Kantrowitz

AGORA É SÓ ENTERRAR

Coloque a cápsula a mais ou menos um metro no chão, fundo o suficiente para protegê-la de baques e afins. Deixe claro na cápsula quando esta deve ser aberta e deixe algum tipo de marcador físico próximo.

Dica de ouro: faça backup dos dados de localização. Uma ideia é codificar coordenadas de GPS no blockchain, espécie de livro-caixa público descentralizado que atua na operação de moedas digitais como Bitcoin e Ethereum, deixando tudo temporizado para a data de recuperação da cápsula. Quem sabe adicionar o hash de uma localização a uma transação em Bitcoin e revelar o significado daquilo em 20 anos, quem sabe. Outra opção seria entrar em contato com um desenvolvedor que manje de Solidity para criar um código temporizado na forma de um smart contract de Ethereum.

Uma alternativa seria colocar as coordenadas debaixo da sua pele por meio de implantes de RFID personalizados, que custam uns 100 dólares (mais o valor do procedimento). Tais chips contam com armazenamento o suficiente para realizar o upload de dados geográficos simples, quem sabe até um breve manifesto, mas não há garantia da integridade dos dados. Quer deixar a cápsula ali por mais de dez anos? É hora de pensar antes de resolver virar um ciborgue.

Se tudo der errado, mande a localização pra si mesmo e alguém de confiança por email.

Por fim, tenha pelo menos uma testemunha ao seu lado quando for enterrar o negócio. Ganha pontos de bônus se fizer da coisa toda um evento: um ritual com incenso e a porra toda, por que não?

Crédito: Lia Kantrowitz

ESPERE

Pode ser dureza imaginar como será a Terra quando sua cápsula for aberta, ou como estará a civilização humana até lá. Provavelmente teremos muita culpa no cartório até lá, então adicione este artigo aos seus favoritos – só pra garantir.

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