Um ano depois do lançamento, game de 'Sexta feira 13' está vivão e vivendo
Imagens: IllFonic/Divulgação.

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Um ano depois do lançamento, game de 'Sexta feira 13' está vivão e vivendo

Como a comunidade de terror se uniu pra ajudar a resolver os problemas do jogo mais morbidamente divertido do Jason.

Desculpe o bom humor, mas não poderia haver um dia melhor do que esta sexta-feira (13) para fazer um postmortem de Friday 13th: The Game, o jogo inspirado nos clássicos filmes da série Sexta-feira 13. Depois de um lançamento com servidores quebrados e um game que só quem já era fã da série gostava, o projeto passou por vários ajustes e finalmente fez jus ao gore de Jason e sua família.

Para tentar entender como o jogo, o estúdio IllFonic e a pequena publisher Gun Media sobreviveram ao lançamento desastroso, tive que trocar uma palavrinha não só com um dos cabeças do projeto, Wes Keltner, mas também com membros da comunidade do game, para ter uma noção dos corpos que ficaram no rastro do desenvolvimento desse jogo.

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E não foram poucos.

Concebido como "Slasher Vol. 1: Summer Camp" por volta de 2015, o jogo se apoiava em um universo genérico de filmes de terror e não chamava tanta atenção.

“Começamos o projeto porque queríamos algo no estilo de Sexta-Feira 13”, explica Keltner, diretor do game e fã inveterado de terror, de Chamas da Vingança a giallos (um gênero de gore italiano) clássicos, como Mansão da Morte, do mestre Mario Bava (e caso você esteja se perguntando, seu preferido da franquia é Parte 6: Jason Vive). “Sabíamos que, se a gente queria jogar algo assim, tinha que haver uma audiência interessada também. E aí tudo mudou quando recebemos uma ligação.”

Imagino que o diretor tenha ficado tão pálido quanto as vítimas decapitadas de Jason quando o criador de Sexta-feira 13 e cineasta Sean S. Cunningham entrou em contato com Keltner oferecendo uma ajudinha.

“Sean ligou pra gente uns quatro meses depois do projeto ter começado. Ele amou a ideia e conceito. Pô, vários membros do time dos sonhos da franquia já estavam do nosso lado, daí só faltavam duas coisas: Sean e a licença [da franquia], e ele trouxe essas duas coisas à mesa.”

A aposta no projeto estava ficando cada vez maior. O estúdio tinha em mãos um jogo de Sexta-Feira 13 multiplayer, assimétrico e que ainda por cima parecia divertido. Além disso, contavam com o envolvimento de Kane Hodder, o ator/dublê que mais interpretou Jason nos cinemas, e o mestre absoluto da maquiagem e efeitos práticos de terror, Tom Savini, criando um design próprio pro eterno monstro da lagoa. E o toque final: ninguém menos que Harry Manfredini, o maestro por trás da trilha de pânico constante em Crystal Lake, ofereceu seus acordes estridentes à obra.

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Como poderia dar errado?

Em lançamentos de games online, é normal até mesmo gigantes como Activision e Ubisoft terem problemas de conexão com o servidor, imagine então uma produtora indie como a IllFonic e a Gun Media.

Quando o jogo entrou no ar, os servidores não aguentaram e deram uma canseira nos jogadores e desenvolvedores por algumas semanas. Dependendo da gravidade, esse tipo de lançamento é o suficiente para enterrar de vez um game, mas segundo Keltner, “A comunidade de Sexta-Feira 13 é enorme e bastante solidária”.

Esse não foi o único problema que os desenvolvedores tinham que matar. “Também era um esforço balancear nosso jogo", conta o diretor. "O jogo é sobre isso. Jason precisa ser poderoso de propósito e os outros jogadores devem correr dele, ter medo dele”. A genialidade do game está no seu multiplayer assimétrico: um jogador assume o papel do grandalhão assassino enquanto todo o resto, mais fraco, tem que fugir e trabalhar junto para sobreviver. Quem ficar de pé, Jason ou pelo menos um dos conselheiros do acampamento de férias, vence.

Eu estava lá durante o lançamento tumultuado do jogo. Vi muita gente tentando jogar e ajudar como podia. Mas talvez tenha sido por conta dos problemas que uma comunidade se formou tão rapidamente em torno do jogo.

Depois de dezenas e dezenas de noites mal dormidas em Crystal Lake, posso afirmar que fiz amizades decapitando cabeças, destroncando colunas e desmembrando apêndices. E também sendo devida e equidosamente eviscerado no processo. Eu não fui o único.

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“Aguardei o lançamento como se estivesse esperando uma chuva de sangue, e ela veio!” clama Ric, mais conhecido como Von Vampiro666, o primeiro brasileiro — e um dos primeiros do mundo – a conseguir quase todas as conquistas no game na Xbox LIVE. Entre uma facada amiga e outra, Ric se tornou um grande amigo, que conheci nos campos ensanguentados do acampamento de férias. O mesmo rolou com Matheus “sH Homer HyperX” Nahra. “Apesar da jogabilidade ser um looping (matar e morrer) e de algumas pequenas falhas hediondas, há uma diversão estúpida [no jogo] que é o que todos os filmes oferecem”, me conta.

O futuro de Jason e da franquia Sexta-Feira 13 é bastante nebuloso nos cinemas, mas com Friday the 13th: The Game parece mais claro nos videogames.

“Estamos trabalhando em Über Jason e em vários desafios. Todos vão receber as atualizações de graça quando estiver pronto”, revela Keltner, que no mesmo papo jogou um balde de água fria num desejo antigo da comunidade: “Não temos planos para Pamela Sue Voorhees [a mãe de Jason e verdadeira assassina do primeiro filme] como personagem jogável”.

Parece que vamos ter que esperar mais um tanto para poder jogar com a mãe mais coruja e decapitada de todos os acampamentos de férias malditos dos filmes de terror.

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