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Saúde

Visitei uma fazenda de cannabis para descobrir como óleo de CDB é feito

O THC é retirado dessas plantas para que elas produzam o extrato que é a tendência canábica de bem-estar.
Hand holding leaves of cannabis plant
Rajul Punjabi.

Algumas semanas atrás, visitei uma fazenda de cannabis no Kentucky, nos EUA, para descobrir como exatamente eles fazem óleo de CBD.

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Não vou dizer que acariciar as moitas verdejantes com brotos cheirosos e pegajosos não foi uma experiência etérea. Foi. Mas não havia quase nenhum THC (o composto da cannabis que dá barato) nessas plantas, conhecidas formalmente como cânhamo.

Um esclarecimento: a planta cannabis sativa pode ser classificada como cânhamo ou a o que nos referimos tradicionalmente como cannabis ou maconha. Se uma planta em particular contém menos de 0,3% de THC, ela é tecnicamente “cânhamo”. Se contém mais de 0,3% de THC, é “maconha”, diz Brenda Gannon, cientista e diretora do Steep Hill Arkansas, uma instalação de testes especializada em analisar produtos de cannabis e cânhamo.

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Então minha vontade de pegar um monte de brotos, enfiar na mochila e voltar pra casa em Nova York seria, nas palavras de um dos fazendeiros, “a razão mais idiota para ser detida no aeroporto”.

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O THC é tirado propositalmente dessas plantas para que elas possam produzir óleo CBD – a tendência canábica de bem-estar que está bombando agora. Todo lugar, da Amazon até o mercadinho familiar da esquina, está vendendo o óleo. As garrafinhas vêm em todo tamanho e modelo, e dizem tratar várias condições como ansiedade, dor nas juntas e inflamação.

Embora tudo isso pareça mágico, especialistas estão hesitantes em pular no bonde sem pesquisas suficientes apoiando essas afirmações. “CBD parece ser mais promissor no tratamento de convulsões associadas com formas raras e severas de epilepsia em pacientes pediátricos”, diz Gannon.

Mesmo assim, muita gente jura que CBD ajuda com vários problemas sem relação com epilepsia, mesmo não sabendo direito o que é CBD, de onde ele vem, e como isso é diferente de mastigar o óleo da maconha que você comprou do seu fornecedor local.

Foi assim que acabei num campo dos sonhos de cânhamo com Lee Hysinger, um dos proprietários da fazenda (e da Evercure, sua marca própria de óleo de CBD), e Michael Bumgarner, fundador da Cannuka, uma linha de produtos para a pele contendo CBD e mel de manuka. Bumgarner compra o óleo de CBD para seus produtos – que incluem cremes, sabonetes e pomadas – da fazenda de Hysinger.

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Então, para pessoas interessadas na mais recente obsessão de bem-estar (além de quem não faz ideia de como o CBD acaba num potinho ou sabonete), aqui vai como eles produzem óleo de CBD, segundo Hysinger e sua equipe da fazenda:

O processo começa com um clone – uma muda de uma planta de cannabis que eles conseguem de uma estufa. Usar clones em vez de sementes pode facilitar ter uma plantação inteira com o tipo exato de planta que você quer (nesse caso: com alto teor de CBD e THC bem baixo). Depois que os clones são entregues, eles esperam as mudas se aclimatarem por uma semana depois as plantam.

Depois de plantadas à mão, elas são aguadas pelo sistema de irrigação durante a temporada, que vai de maio a outubro. Elas são cobertas de plástico para evitar ervas daninhas. Durante a temporada, elas são irrigadas dependendo da umidade do solo, e eles ficam de olho no pH também.

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A colheita é em outubro, assim que eles conseguem a permissão do Departamento de Agricultura do Kentucky (uma amostra de cada plantação é testada pelo estado). Como você pode imaginar, é preciso atender uma série de exigências para plantar cânhamo no sul dos EUA, mesmo que o CBD não seja mais considerado “altamente viciante” pelo DEA (ou seja: os fazendeiros do Kentucky só podem usar sementes e mudas fornecidas por uma instituição de pesquisa, e elas só podem conter rastros de THC em si). Quando as plantas estão maduras e recebem água suficiente, elas são colhidas.

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Depois da colheita, as plantas são colocadas num celeiro para serem curadas – ou seja, para secar. O lugar é mantido seco e bem ventilado para evitar mofo ou bolor. As plantas ficam lá por três a quatro semanas, e são secas de cabeça para baixo. Eles usam redes de treliça que a indústria de estufas usa para cultivar trepadeiras. Fica parecendo uma grande cortina, não a cortina da casa da sua mãe, mas uma cortina de brotos.

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Depois de secas, as plantas têm as flores separadas. Essas flores são transportadas e processadas numa instalação em Paris, KY. Nesse ponto, o processador moi as flores até uma consistência de café em grão. Aí eles usam extração a frio com etanol, onde as flores são mergulhadas em etanol, passando por um processo que remove qualquer terpeno (o composto orgânico na planta conhecido por dar seu cheiro distinto) que eles não queiram. Aí elas passam por um processo de winterização, onde são sujeitas ao frio – isso extrai os ácidos graxos, lipídios e coisas do tipo (gorduras podem alterar a composição química do óleo).

Em seguida vem o processo de destilação, onde a mistura é transformada num banho morno e o que resta é um óleo cru. Eles passam esse óleo por outro processo de destilação para conseguir uma cor mais transparente e remover alguns contaminantes, enquanto deixa os terpenos que eles querem.

Nesse ponto, o óleo é testado para determinar qualidade e potência num laboratório (sem afiliação com a empresa), e engarrafado com outro óleo para torná-lo palatável, ou acrescentado em sabonetes, cremes, pomadas musculares e até gel de sobrancelha – tudo que você pode imaginar.

Agora, mesmo que você ainda não tenha certeza que produto vale a pena experimentar, pelo menos você sabe como eles fazem óleo de CBD. De nada.

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