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Editorial

Editorial: o Jair Bolsonaro é presidente do Brasil

O político de extrema-direita traz riscos pra democracia. A história se encarregará do veredito.
Jair Bolsonaro em reza coletiva durante live do Facebook após o anúncio dos resultados eleitorais.
Jair Bolsonaro em reza coletiva durante live do Facebook após o anúncio dos resultados eleitorais. 

O Mano Brown; o Papa; a socióloga Esther Solano; a The Economist; 1094 juristas brasileiros; o The New York Times; a Djamilla Ribeiro; o ex-presidente uruguaio José Pepe Mujica; o Roger Waters; muitas mulheres brasileiras de todas as vertentes políticas; o Caetano Veloso; o movimento negro; um professor de ciência política de Harvard; dezenas de escritores e editores brasileiros; o filósofo Francis Fukuyama; o Nuno Ramos; o linguista Noam Chomski; o Joaquim Barbosa; Amelinha Teles; Thomas Piketty; a Monja Cohen; o ex-presidente francês François Hollande; Chico Buarque; a Cher; os economistas ganhadores do Nobel Eric Maskin, George Akerlof e Robert Schiller; Gilberto Gil; John Oliver, Ciro Gomes, o autor da Lei de Godwin; a Marina Silva, o FHC; Drauzio Varella, 40 acadêmicos alemães, Marcelo D2; a prefeita de Paris, Anne Hidalgo; Lilia Schwarcz; o senador norte-americano Bernie Sanders, os economistas Bernard Appy e Octavio de Barros; Juca Kfouri; a filósofa Judith Butler; os cineastas Walter Salles e Kléber Mendonça Filho; Madonna; muitos artistas brasileiros de diferentes vertentes; 69 torcidas organizadas de futebol; muitos e muitos rappers unidos; o ex-presidente do PSDB; os romancistas Milton Hatoum e Luiz Ruffato; entidades de psicanalistas; atores e cantores internacionais; Rodrigo Janot; entidades religiosas; mais de 3 mil entidades da sociedade civil; um estudioso de política na Universidade de Copenhague, membros do Congresso dos EUA e pesquisadores do MIT avisaram, mas o Brasil elegeu o candidato de extrema-direita Jair Bolsonaro (PSL) como presidente da República.

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A campanha do eleito foi sanguínea, metafórica e literalmente. Teve atentados, facada, mortes, bravatas e chamados ao assassínio. Também foi uma campanha contestada em sua legitimidade, principalmente pelo uso escuso de redes sociais e divulgação de mentiras. O então candidato se negou a dar entrevistas — a não ser para quem ele considera “parceiro”, algo que ficou nítido na entrevista chapa branca que deu para a RecordTV enquanto candidatos participavam de sabatina na Globo — e se recusou a ir aos debates.

Parte dessa ausência pode ser justificada pelo seu fascínio por autoritarismo e pelo seu plano de governo estéril. Os projetos do “nosso Duterte” são, no mínimo, problemáticos em quase todas as áreas possíveis: meio ambiente, segurança pública, sistema prisional, liberdades individuais e de imprensa, drogas, direitos das mulheres, LGBTs e indígenas. Representam risco para economia e até pra democracia. Tudo já está documentado, e a história se encarregará do veredito. A vitória foi mais apertada do que o candidato do PSL imaginava, sobretudo se contarmos aqueles que não votaram em ninguém. De acordo com o TSE, 8,6 milhões de pessoas anularam (7,4% do total, um recorde desde 1989), 2,4 milhões votaram em branco (2,1% do total) e 31,3% (21,3% do total) não compareceram à votação. Ao todo, 42 milhões de pessoas não votaram em nenhum dos candidatos do segundo turno. Se somarmos os 47 milhões de votos de Haddad (44%), temos 89 milhões pessoas que não endossaram Bolsonaro, dono de 57,7 milhões de votos. A grande maioria da população, portanto, não votou no novo presidente de extrema-direita.

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