Esportes

Champions. A garra dos predestinados

A Final entre Liverpool e Tottenham promete ser épica, como foram as meias-finais que deixaram de fora os onze “João Félix” da Holanda e o Deus Messi. Os milagres existem.
Jurgen Klopp e Pochettino
Jürgen Klopp (Liverpool) e Mauricio Pochettino (Tottenham). Um dos treinadores está à beira de ficar para eternidade da prova.

Fabulosos. Inacreditáveis. “Não deixem de respirar”, como afirmava um dos comentadores da Eleven Sports para quem assistia na televisão. Os dois encontros que antecederam a Final da Liga dos Campeões são o espelho do que se passa por estes dias no desporto-rei. A beleza da alta intensidade do futebol inglês dá baile a qualquer liga europeia.

Nem a Alemanha, que revelou o Bayern com pouca parra; nem a Espanha com o Barcelona a pedalar em ritmo morno; ou a Itália, em que a Juventus não tem quem lhe faça mossa; mostraram condições de competir com a Premier League, que acolheu esta época uma revelação chamada Wolverhampton onde mora um alargado contingente português. Em França, os milhões do Paris Saint-Germain chegaram apenas para o campeonato local. Muito fraquinho…

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“E a Liga NOS?”, perguntas tu. Como diria um amigo meu, vamos jantar ou vamos comer hambúrgueres. A competição lusa é um “fast food” que, simplesmente, não conta para o totobola. O tempo gasto em “casos e casinhos”, com a justiça civil e desportiva a ser continuamente cobarde para com as práticas pouco claras dos três grandes, é revelador das várias “congestões” que se podem apanhar se estivermos por dentro do que se vai passando.

Deixa ver se tenho ali algo para acalmar o estômago…

A melhor e mais excitante Liga Milionária deste milénio?

Depois do que se viu nas primeiras mãos, a maior parte dos analistas apostava no apuramento de holandeses (que venceram em Londres o Tottenham por 0-1) e catalães (3-0 em casa ante o Liverpool). O mais curioso é que, em ambos os intervalos no segundo jogo, a convicção manteve-se. Puro engano. No futebol, o inesperado é mesmo possível. Ao menos, a nação que anda imersa na “Brexitrapalhada” vai dando lições noutros relvados.

Em Anfield Road, sem Salah e Firmino, o Liverpool partiu para uma "remontada" incrível, após 45 minutos em que o Barça e o Deus Messi podiam ter resolvido (estava 1-0). Não aconteceu e emergiu um herói que vai sendo cada vez menos improvável: o belga Origi, com o quarto e decisivo golo proveniente de um canto cheio de “ratice” marcado por Alexander-Arnold. Para quem acompanha os reds, o avançado já tinha sido “Éder” num dos últimos lances frente ao Everton de Marco Silva ou, no passado fim-de-semana, quando deu os três pontos em Newcastle. Absolutamente notável o comeback da formação de “You'll Never Walk Alone” (vitória por 4-0; ver os golos no vídeo acima).

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Na Arena de Amesterdão, ao estar em vantagem por duas bolas, os onze “João Félix” (rótulo que dei ao banalizaram a Juventus do Galáctico Ronaldo, em Turim) regressaram dos balneários sem gás e convencidos que o bilhete para Madrid estava garantido. Fez lembrar o comportamento do jovem atleta português quando desliga a ficha da concentração. Por outro lado, com mais de uma hora e meia disputada na eliminatória sem “violar” a rede adversária, a equipa do Tottenham (com o ausente Harry Kane) voou até ao último segundo para marcar três vezes sem resposta.

Autor do hat-trick? O brasileiro Lucas Moura que facturou o último no dramático minuto 96. O entusiasmo foi tanto que o colega Christian Erikssen pediu uma estátua para o craque proscrito no Paris Saint Germain. Que grande cavalgada dos Spurs, que atingem o ponto mais alto da sua vida desportiva.

Diga-se em abono da verdade que o Ajax, depois de ver o resultado empatado a dois, podia ter matado a aspiração londrina num dos vários contra-ataques. Apesar da derrota por 2-3 (ver resumo acima), ninguém esquece o seu desempenho desde Julho do ano passado, altura em que disputou as pré-eliminatórias que davam acesso à Fase de Grupos. O tri-campeão Real Madrid - que teve, aqui e acolá, supostamente o “colinho dos árbitros” nos recentes títulos - foi uma das “vítimas” que deixou pelo caminho. Impressionante.

Olhando para o historial da Champions, penso que a edição 2018-2019 é a melhor e mais excitante deste milénio. É verdade que não há outsiders na Final que venham de fora do âmbito das cinco ligas mais prestigiantes. Nesse aspecto, nos últimos dezoito anos, só o FC Porto conseguiu furar o “muro” dos poderosos e ganhar a prova, em 2003-2004, com José Mourinho.

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Ainda assim, não têm faltado encontros sensacionais, caso do Manchester City vs Tottenham (4-3), nos quartos, como garante de uma competição que podia levar a termos a atitude de um certo estudo que culpa a Netflix (e outros serviços streaming) de fazer com que as pessoas deixem de priorizar a prática de sexo… As fenomenais partidas das segundas mãos, das meias-finais, foram uma boa razão para o mesmo.

Falemos no Dia D. Como vai ser a 1 de Junho, no Estádio Wanda Metropolitano do Atlético de Madrid? Lembro o que se passou em Istambul, em 2005. O Liverpool perdia por 3-0 ao intervalo com o AC Milan, empata na segunda metade e leva o troféu ao ser mais eficaz nos penalties. A coisa promete, seja qual for o vencedor.

Outra certeza. A táctica (e o carisma) dos treinadores, é uma das enormes atracções deste confronto britânico. O alemão Jürgen Klopp (Liverpool; 51 anos; por duas vezes finalista vencido na Champions) e o argentino Mauricio Pochettino (Tottenham; 47; pela primeira vez numa Final), são dois predestinados na garra pelo futebol ofensivo e os rostos da excelente ligação que deve existir entre timoneiro e os respectivos plantéis.

The big winner is coming.

NOTA FINAL

A época nas Ligas europeias está a findar. Estas são as minhas vinte e cinco estrelas favoritas entre Julho 2018 e Maio 2019.

Onze tipo (1-4-3-3): Alisson (Liverpool); Alexander-Arnold (Liverpool), De Light (Ajax), Van Dijk (Liverpool), Laporte (Manchester City); Henderson (Liverpool), Wijnaldum (Liverpool), Bernardo Silva (Manchester City); Messi (Barcelona), Sterling (Manchester City) e Salah (Liverpool).

Opções (14): Ter Stegen (Barcelona), Lloris (Tottenham); Éder Militão (FC Porto), Robertson (Liverpool), De Jong (Ajax), Milner (Liverpool), Bruno Fernandes (Sporting), Van Beek (Ajax), Rafa (Benfica), Sancho (Borussia Dortmund), Son Heung-min (Tottenham), Tadic (Ajax), Ronaldo (Juventus) e Mané (Liverpool).


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