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O fogo na Amazônia não é natural. A culpa é dos humanos

Enquanto a Amazônia queima, é importante saber que esses incêndios não são naturais do ecossistema da maior floresta tropical do mundo – a culpa é das pessoas.
Uma imagem de satélite da fumaça dos incêndios na Amazônia e uma foto do presidente do Brasil, Jair Bolsonaro
Esquerda: Imagem de satélite via NASA, direita: Flickr/Palácio do Planalto.

A Amazônia está queimando há semanas, criando nuvens de fumaça tão intensas que deixaram São Paulo nas trevas no meio do dia esta semana. Dá pra ver o cobertor de fumaça sobre o país do espaço.

Florestas tropicais são um dos ecossistemas mais úmidos da Terra, então como a maior delas – a Amazônia – pegou fogo? Segundo especialistas, a resposta não está nos padrões de temperatura ou ventos na Amazônia. Em vez disso, a causa raiz das queimadas é a atividade humana.

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“Humanos estão criando esses incêndios, seja diretamente ou no sentido global com todas as mudanças do ecossistema”, disse Ruth DeFries, professora de ecologia da Universidade Columbia.

Fogo não é uma parte natural do ecossistema amazônico, como é em lugares como o oeste dos EUA. Segundo DeFries, a Amazônia, como qualquer floresta tropical, geralmente é úmida demais para sustentar queimadas por muito tempo. Mas os humanos mudaram completamente o ecossistema com desmatamento e colocando fogo deliberadamente na floresta, o que por sua vez tornou a região ainda mais suscetível a incêndios. É um círculo vicioso.

Queimadas são um dos maiores propulsores do desmatamento, disse DeFries, porque são o jeito mais barato, fácil e rápido de remover os detritos. Muitos fazendeiros ou proprietários usam fogo para limpar suas terras, mas esse fogo pode rapidamente sair do controle se as condições estiverem muito secas. O pico da temporada de queimadas da Amazônia vai de agosto até outubro, já que essa é a época mais seca do ano.

“Uma coisa importante para saber sobre a Amazônia é que poucos incêndios florestais ocorrem lá naturalmente”, disse Mikaela Weisse, que acompanha desmatamentos e queimadas como parte do Global Forest Watch do World Resources Institute. “Praticamente todo incêndio é começado por humanos.”

A equipe do Global Forest Watch está vendo incêndios chegarem a terras indígenas na Amazônia. Segundo Weisse, recentemente houve um aumento do desmatamento nas reservas Karipuna e Ituna Itata no Norte do Brasil – a última sendo lar de uma tribo não-contatada.

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Semana passada, mulheres indígenas protestaram contra as políticas do presidente Jair Bolsonaro apoiando o desmatamento, que ameaçam suas terras. A Amazon Watch, uma organização sem fins lucrativos que defende os direitos indígenas na Amazônia, disse numa declaração à imprensa que, sob a presidência dele, fazendeiros e rancheiros se sentiram incentivados a começar os incêndios para expandir suas terras na floresta tropical.

O jornal Folha de S. Paulo, reportou o recente “Dia do Fogo”, no qual fazendeiros coordenaram uma grande queimada de árvores para mostrar apoio à posição do presidente. Segundo uma publicação local do Pará, a queimada coletiva aconteceu em 10 de agosto.

Incêndios florestais e desmatamento são crises gêmeas, uma piorando a outra e ambas alimentando o aquecimento global. “Uma das maneiras como desmatamento e queimadas impactam todos nós é através de um feedback que colabora com as mudanças climáticas”, disse DeFries.

Árvores contêm muita água, por isso o ecossistema da Amazônia é tão úmido. Quanto mais árvores você perde, mais seca a floresta se torna, e essas condições secas abrem caminho para mais incêndios. Esse círculo vicioso tem um efeito mais amplo: liberar o carbono que é armazenado nessas árvores.

“A Amazônia é um grande banco de carbono, então quando as árvores são queimadas e o carbono é liberado na atmosfera, isso exacerba nosso aquecimento global”, disse DeFries.

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As mudanças climáticas tornaram as condições ainda mais secas, levando a mais incêndios e desmatamento. Alguns cientistas temem que a Amazônia esteja prestes a atingir um ponto sem volta, e pode se tornar um ecossistema muito mais seco e aberto no futuro.

Esse loop parece difícil de quebrar, mas o Brasil já fez isso antes. No começo dos anos 2000, o desmatamento era desenfreado no país, assim como incêndios intensos na Amazônia. Aí, depois de 2004, as taxas de desmatamento caíram rapidamente, em grande parte graças a políticas de conservação.

Desde que Bolsonaro assumiu, o desmatamento explodiu. Muitos culpam as políticas pró-agronegócio do presidente e o fracasso em impedir madeireiras de criar essa perda extrema de florestas. Recentemente ele também demitiu o chefe da agência que monitorava o desmatamento, que tinha alertado sobre o desmatamento rápido por ganho econômico.

Na quarta-feira, Bolsonaro culpou ONGs por começar os incêndios florestais para fazer sua administração ficar mal na foto. Ele não tinha nenhuma prova apoiando essas alegações.

“Ele pode negar o quanto quiser e culpar as ONGs, mas isso não vai impedir a fumaça de chegar a São Paulo”, disse DeFries.

Organizações estão trabalhando para rastrear essas queimadas, mas sem conter o desmatamento, o fogo pode causar um dano irreversível ao ecossistema brasileiro. Se perdermos a Amazônia – e toda a biodiversidade, produção de oxigênio e armazenamento de carbono que ela fornece – só podemos culpar os humanos.

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Tradução do inglês por Marina Schnoor.