Henrique Meirelles: o banqueiro das decisões difíceis que aposta na linguagem jovem

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Quem quer ser presidente

Henrique Meirelles: o banqueiro das decisões difíceis que aposta na linguagem jovem

Na série de apresentação dos presidenciáveis para 2018, a VICE conta a trajetória de Henrique Meirelles, candidato do MDB.

Milionário, banqueiro bem-sucedido, solucionador de problemas e, acima de tudo, sem medo de passar vergonha. É assim que Henrique Meirelles tem se apresentado em sua candidatura à Presidência — que o digam os memes lacradores e os programas eleitorais com cara de vídeo no YouTube que tentam passar jovialidade a uma figura ligada sempre a termos impopulares como “ajuste fiscal” e “corte de gastos”. E que tem a difícil missão de se apresentar como candidato de um governo com péssima avaliação popular.

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Desafios não são novidades na vida de Meirelles, um goiano de Anápolis que deixou sua terra aos 19 anos para estudar engenharia na Poli, a Escola Politécnica da USP. A universidade foi um berço de vários políticos, como os ex-governadores de São Paulo Mário Covas e Paulo Maluf, que iniciaram sua rivalidade política nos corredores do Diretório Acadêmico. Mas o jovem Henrique, que havia sido líder estudantil em Goiás e até ajudado a fundar a associação estadual dos estudantes, não estava interessado nisso, pelo menos não naquele tempo — e nem em projetar pontes e prédios. Seu negócio era ganhar dinheiro: da faculdade saiu direto para uma pós em Administração na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro); de lá para um emprego no então chamado Banco de Boston.

Meirelles mostrou-se um prodígio em gestão: em apenas quatro anos, já era o vice-presidente das operações do banco aqui no Brasil — na época, voltado a atender clientes de alta renda. Em 1984, antes mesmo de completar 40 anos, já era o presidente do banco no Brasil, e 12 anos depois assumiu o comando mundial da empresa, tornando-se o primeiro não-americano a comandar um banco do país — a essa altura já chamado pelo nome atual, BankBoston. Anos depois, a instituição foi comprada e incorporada pelo Itaú.

A essa altura da vida, Meirelles já pensava de novo — e muito — em política. Em 2001, já milionário, anunciou que estava se aposentando do banco e se filiou ao PSDB em Goiás, depois de ser disputado por partidos como o PFL, o PTB e até o PSB, como registrou matéria de O Globo de 8 de outubro daquele ano. Candidatou-se a deputado federal em 2002 e conseguiu a eleição com sobras, como o deputado goiano mais votado da história: 183.046 votos. E então foi protagonista da notícia que mais surpreendeu o país no momento da euforia petista após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva na eleição presidencial: foi anunciado como futuro presidente do Banco Central.

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Em 2002, o Brasil vivia um momento econômico complicado. A inflação ameaçava voltar, e a liderança de Lula nas pesquisas fez a alegria dos especuladores no mercado financeiro, derrubando a Bolsa de Valores e levando o dólar pela primeira vez acima dos R$ 4. Sem reservas, o governo foi obrigado a recorrer ao FMI (Fundo Monetário Internacional) e, no dia 19 de agosto, uma segunda-feira, o presidente Fernando Henrique Cardoso reuniu-se separadamente com os quatro melhores colocados nas pesquisas — Lula, José Serra (PSDB), Ciro Gomes (PPS) e Anthony Garotinho (PSB) — para obter deles garantias de que o acordo com a banca seria cumprido. Em junho, Lula já havia soltado a polêmica Carta aos Brasileiros, basicamente prometendo que não ia implantar unilateralmente uma revolução comunista no país.

Nesse contexto, a escolha de um banqueiro tucano para comandar o Banco Central nem deveria ser tão chocante, até para respaldar diante do tal do “mercado” a posição de que não haveria grandes sobressaltos na política econômica — ainda que tenha gerado óbvias reclamações em setores da esquerda. Meirelles renunciou ao cargo de deputado, desfiliou-se do PSDB e comandou o BC nos oito anos do governo Lula. Aliado do primeiro ministro da Fazenda, Antonio Palocci, defendia uma gestão cuidadosa das contas públicas, buscando segurar a inflação a partir de uma taxa de juros relativamente alta. Ouviu durante boa parte do tempo críticas da ala desenvolvimentista, encabeçada pelo vice-presidente José Alencar e pelos ministros do Planejamento, Guido Mantega — que depois ocuparia a presidência do BNDES e em seguida a Fazenda, após a queda de Palocci —, e da Casa Civil, Dilma Rousseff, ungida por Lula como sua sucessora.

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Quase sempre Meirelles triunfou, contando sempre com a confiança do presidente para manter a inflação sob controle. Foi derrotado de certa forma em 2008, na crise que derreteu os mercados internacionais, quando o governo optou por ampliar o acesso ao crédito em vez de adotar medidas mais restritivas ao sabor dos liberais, mas o próprio Lula já disse que sua presença no BC ajudou a manter a calma dos investidores e evitar maiores problemas.

Na reta final do governo, Meirelles filiou-se ao PMDB, e ouviu do presidente a sugestão de se candidatar a governador de Goiás, mas a ideia não foi em frente e, após a eleição de Dilma, o ministro deixou o governo. Chegou a filiar-se ao PSD, partido criado pelo então prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, que não seria “nem de centro, nem de direita e nem de esquerda”, e foi cogitado para uma candidatura à prefeitura paulistana, mas optou por voltar a trabalhar na iniciativa privada. Foi conselheiro de diversas empresas e assumiu cargos de gestão no grupo J&S, dos irmãos Wesley e Joesley Batista, onde ficou até 2016, quando foi chamado pelo presidente Michel Temer, após o afastamento de Dilma, para comandar um “Dream Team da economia”, à frente do Ministério da Fazenda.

Como se sabe, não deu lá muito certo. Meirelles, porém, insistiu no sonho de ser presidente, voltou ao MDB e decidiu bancar a própria candidatura — literalmente, já que o partido avisou que não colocaria um centavo de sua verba na campanha, priorizando as eleições legislativas. Restou ao ex-ministro defender o legado do governo Temer, tentando convencer o povo das vantagens de medidas como a PEC (Proposta de Emenda Constitucional) que congelou os gastos públicos e a reforma trabalhista.

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Meirelles aposta no tempo de TV e nas redes sociais para rejuvenescer seu discurso, apelando para vídeos com edição rápida e GIFs como o “Meirelles geek”. Também tentou colar sua imagem à do ex-presidente Lula, dizendo que não pretende dividir o país entre seus fãs e seus detratores. Aposta na figura de “resolvedor de problemas”, com vídeos em que mostra elogios de Lula e críticas à política econômica de “outros governos anteriores que erraram”, texto ilustrado por imagens de Dilma. No Ibope divulgado na última quarta-feira, aparece em oitavo lugar, com 2% das intenções de voto.

Henrique de Campos Meirelles
Formação: Engenheiro Civil pela USP (Universidade de São Paulo)
Idade: 73
Patrimônio: R$ 377.496.700,70
Trajetória (partidos): PSDB-PMDB-PSD-MDB
Vice: Germano Rigotto (MDB)

Acompanhe as trajetórias de todos os presidenciáveis na série Quem quer ser presidente. Novos perfis toda segunda, quarta e sexta.

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