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Milhões de Festa

Guia para ser musicalmente feliz no Milhões

Há pessoas que vão a Barcelos para curtir uma banda.

Sim, leram bem: musicalmente. Afinal, ainda há cerca de dez por cento de malta que vai ao Milhões para curtir uma banda ou outra. E se essas pessoas lerem este guia com o artigo do Tojó aberto na outra tab, vão sair de Barcelos de barriga cheia. A 17 de Julho de 2012, estava exactamente como estou hoje: de calções, sentado no sofá a olhar para o cartaz do Milhões e a pensar que há, mais coisa menos coisa, 365 dias que aguardo a oportunidade de me enfiar num carro a caminho de Barcelos. Olho para o Minho como a minha Fátima estival e organizo o meu ano em função do calendário do Milhões. Coincidência ou não, o Natal até se celebra a 25, mas entramos num novo (e amargurado) ano a 29. Tem sido mais ou menos assim nos últimos três anos, a entrar de ressaca e dores no corpo nos próximos meses de seca à espera do Milhões. Mas antes que me desvie ainda mais do assunto: já repararam no alto cartaz que a malta da Lovers alinhavou para a sexta edição do MdF? É coisa para ter mais de 70 bandas, por isso se tiverem cinco minutos para perder, talvez encontrem nas próximas linhas algo por onde se guiarem por terras de Festa. 25 DE JULHO
A Taina. No primeiro dia, a coisa é fácil. Tudo junto no palco Taina, o mais bonito de todos. Aconselho os amantes do pensamento livre e do ruído a reservarem lugar para os Canzana. O duo Bruno Silva e Pedro Sousa toca Santa Catana por volta das 19h40 e não se fica por aqui: 40 minutos depois junta-se aos Cangarra de Ricardo Martins e Cláudio Fernandes para um duelo sónico que não deixará sobreviventes (espero). Já depois da hora do Vitinho, os inigualáveis Holocausto Canibal (que prazer será vê-los em Barcelos) são o aquecimento perfeito para o destilar dos corpos capitaneado por um Sabre movido a batida contagiante — que é como quem diz "é para dançar". Já que lá vamos estar, é OBRIGATÓRIO ficar para ver os DJs da casa e dar um abraço a cada um deles. 26 DE JULHO
O primeiro dia a sério. Se sobreviverem ao primeiro dia, não acordem cedo. A cerveja não acaba no café e há donuts que cheguem para nos alimentar até ao fim do fim-de-semana. Se ainda assim quiserem muito ir passear, há escolhas difíceis a fazer: na piscina, os Adorno vão, com toda a certeza, espalhar apoteose por tudo o que é ser humano que se acerque deles. Não vão querer perder os JUBA e o seu sol tropical, sem esquecer que logo a seguir Yonatan (Monotonix) e Igor (Throes) vão estar a experimentar umas malhas com guitarra e bateria. Se preferirem ficar por terra, de volta ao palco Taina, a armada nacional arranca com os Quelle Dead Gazelle e só pára nos Mr. Miyagi, de regresso a terras secas depois de virarem a piscina do avesso em 2011. Pelo meio, cabe aos dUAS sEMIcOLCHEIAS iNVERTIDAS (espero ter escrito isto bem) mostrar a muita gente como é que se faz música. Depois do sol se pôr, de escaldão ou com marcas de um bronzeado tímido, é hora de rumar ao palco Milhões: os Papir, que alguém me garantiu fazer lembrar Causa Sui, são a banda ideal para viajar para outras paragens. Como já é hábito, o palco VICE entra em acção logo a seguir e vale a pena ouvir o que Mikal Cronin tem para cantar entre guitarras e psicadelias vocais. De um lado para o outro, parem por cinco minutos para espreitar Jacco Gardner e preparar a mente e o corpo para a junção entre Black Bombaim e La La La Ressonance (será que eles cabem todos num palco?), com a promessa de uma bofetada de insanidade musical, daquelas que marca. No final, agradeçam a coça. Em melhores ou piores condições, importante mesmo é que fiquem para outros dois pontos altos: a arte teutónica dos Camera (palco VICE) e o arrastar altivo dos Ufommamut (palco Milhões). 27 DE JULHO
Sobrevive! Sabendo que ao terceiro dia já ninguém se levanta a 100 por cento, aproveitem para comprar um folhado misto e (mais) um donut. Vão precisar da energia para viajar ao lado dos 10.000 Russos e dos Dreamweapon, uma das melhores surpresas do ano que, quando dermos por isso, já está a acabar. Se ainda tiverem tempo, corram até à piscina para assistir ao purgar da Besta. Depois, é regressar ao recinto para três de seguida: o ritual intenso dos HHY & The Macumbas, a bofetada de mão aberta dos Process of Guilt e a festa psicadélica dos Loosers. Quando recuperarem, percam a cabeça e partam para a festa com os ZA! aos ombros. Se as pernas aguentarem, vai valer a pena assistir de perto ao regresso dos Eyehategod, sem esquecer que a seguir Octapush e DJ Marfox botam sonoro até o sol raiar. 28 DE JULHO
O último suspiro… Arrependidos de alguma coisa? Claro que não. Mas, pelo sim pelo não (e para fugir ao calor, caso o tempo esteja bom), é hora de mergulhos e "chap chap" na piscina na companhia dos Torto. O trio portuense tem nas mãos um dos discos mais aguardados do ano e é o prato principal de uma tarde em que a sobremesa é etérea: os Evols actuam com o sol a cair no palco Taina e não há desculpas para não ir. Se a fome começar a apertar e as pernas ainda derem sinal de vida, escolham sabiamente entre a pizza com batatas do Cristo Rei e o panadão do Xispes. Enfim, qualquer um dos dois vai bem com o digestivo espacial servido pelos The Partisan Seed e Riding Pânico, ambos no palco Milhões. Pelo meio, os Dirty Beaches distribuem sujidade, escuridão e um mundo muito próprio, naquele que será, adivinho eu, um concerto com mais destaque do que aquele que o Alex deu há dois anos. Como este é o último dia, festejar é imperativo, logo há que fugir ao sono e ao cansaço. A partida é com os Orange Goblin, o checkpoint faz-se com os franceses Zombie Zombie e a chegada à meta é com o Óscar Silva em modo Jibóia Experience, a tomar conta do palco Milhões para uma festa pintada com cores deste e de outro mundo. Na meta final, Mykki Blanco e El G esperam por nós e ajudam a fechar mais um Milhões com chave de ouro. Metaforicamente, claro. As saudades começam a partir do momento em que a última nota deixar de soar em Barcelos, às primeiras horas de segunda-feira.