O que aprendi após terminar uma relação muito longa

Este artigo foi originalmente publicado na VICE UK.

Há muita informação na Internet sobre como superar uma ruptura, o problema é que 95 por cento é lixo condescendente e o resto é publicidade pornográfica disfarçada (eu sei porque já o vi). Mesmo que as coisas possam até ser úteis, até agora não encontrei nada que fale sobre a experiência horrível de sentir-me como se me tivessem arrancado metade do meu ser.

Nestes casos seria de bradar aos céus se houvesse um conselho verdadeiramente útil para superar a ruptura. Infelizmente, não existe tal coisa e, na verdade, acho que ninguém sabe bem como fazê-lo. Na realidade, o processo consiste em estar de mau humor por um tempo, até que masturbar-se continuamente já não seja tão divertido e decidas sair de casa em busca do teu próximo, ou próxima, ex.

Dito isto, não é fácil terminar uma relação duradoura, mesmo na altura em que entras na idade adulta e continuas com a ideia de que o que viveste na tua juventude deveria servir para aprender qualquer coisa. Em seguida, partilho algumas lições arbitrárias que aprendi quando fiquei solteiro aos vinte e poucos anos.

Continuam vivos? De certeza que os teus amigos te enviaram milhares de carinhas tristes e os teus pais ligam-te com mais frequência, mas, no geral, ouvir-te falar do desastre que é a tua vida amorosa é tão interessante para qualquer pessoa feliz como seria se alguém abrisse a conta da luz de outra pessoa.

Isto deve-se a que, aos vinte e poucos anos, toda a gente - top models, carecas, gordos - já sofreu um desgosto amoroso, pelo menos uma vez na vida. Ninguém vai querer passar uma noite a ouvir os teus lamentos sobre o quão diferente era a tua relação em comparação com as restantes, documentadas em poemas ou canções. E se alguém está disposto a fazê-lo, provavelmente é porque está a pensar atirar-se à tua ex.

Numa crua manhã de Domingo, enquanto configuras a tua conta do Tinder, apercebes-te de que nunca sais bem em nenhuma fotografia, desde há muito tempo. Por isso, começas a pensar que a câmara não tem culpa. É provável que a tua aparência seja muito diferente daquilo que pensas que é. E mais, nem sequer tens ideia do aspecto que tens. Porra, mas que aspecto tens?

Esta negligência fotográfica tem uma razão de ser. No meu caso, durante a minha relação, passei praticamente de ser um Mercutio citadino, amante da diversão, para um gajo branco, de meia idade, que fala de jardinagem. O meu armário é composto por pantufas e calças de fazenda castanhas. Às vezes julgo as pessoas apenas pelo jornal que lêem no metro. Utilizo a palavra "problemático" em conversas casuais. Sou bastante aborrecido e sinto-me muito, muito sozinho.

Hollywood criou o mito que diz que os homens dormiriam com uma mulher diferente todas as noites se não fosse pela existência inoportuna da sua cara metade. Os solteiros, nos filmes, são sempre muito mais fixes, estão sempre em lugares da moda e fazem muito mais sexo do que os homens que estão presos a uma relação.

Mas sabes que mais: esse é o paraíso dos terroristas. Se depois de estares cinco anos com uma rapariga, ainda pensas que as mulheres não são mais que orifícios de prazer ambulantes, então és um perfeito idiota que não merece ser feliz.

Não é que ninguém queira ter sexo contigo quando terminas uma relação longa com outra pessoa. É outra coisa. teu aspecto e a forma de agir, isso sim, parecem de alguém que acabou de regressar de uma batalha campal, bastante sangrenta, mas de qualquer forma é provável que nem sequer queiras dar umas quecas. Nos teus momentos ociosos (e, acredita em mim, são muitos), pareces um cão endiabrado que recebeu tantas patadas entre as pernas que quer esquecer que não tem órgãos reprodutores.

E assim continuarás até ao dia em que te apercebes que as únicas mensagens que recebes são do teu dentista a avisar-te de novas promoções e descontos, e que, realmente, ninguém se preocupa contigo. Nesse dia decides levantar a cabeça e refazer a tua vida. Não podes ficar aí sentado para sempre, a masturbares-te para afogares as mágoas.

No dia em que conheci a minha ex tinha vomitado em cima da sua cabeça, desde o andar de cima, durante uma festa numa residência de estudantes (como num filme de adolescentes). Por isso, se pensam que não é a melhor rapariga do mundo, por favor, reconsiderem. Quando somos jovens, este tipo de comportamento é muito normal. Vomitar uns em cima dos outros, a partir do ano 2000: normal. Era uma forma de engate de principiante. Mas essa época já acabou. Agora isso já não está na moda. Se hoje em dia vomito em cima de alguém, duvido muito que iremos almoçar juntos no dia seguinte. De certeza que chamaria a polícia.

A sério. O que é? Para mim é como conversar, mas de uma forma um pouco mais… sexy? Meu Deus, estou fodido, não estou?

Já vos disse quantos pares de calças de fazenda tenho no meu armário?

Ok, vou sair. A sério, vou mesmo. Mas quando estou na noite não falo com ninguém. Em vez disso, fico em pé, num canto do bar, com um whisky-cola na mão, alternando o olhar entre as luzes no tecto e o telemóvel, com a esperança de que alguém repare em mim.

Houve uma vez, há muito tempo, em que adoraria conhecer esse grupo de gajos e miúdas de vinte e tal anos, todos tão cool, que bebiam álcool num bar sem quase terem idade para tal. Agora que os vejo, penso: "Que imbecis. Uns imbecis ébrios, que acham que os bloggers e os youtubers são celebridades e comunicam uns com os outros através do Whatsapp, com emojis. Estas pessoas não entram no meu universo e jamais conseguiria dormir com elas".

Tenho meia dúzia de amigos que continuam a ser os meus melhores amigos, apesar de uma vez um deles ter vomitado a sua bílis na boca de outro enquanto dançavam. A sério. Procurem amigos. São um espetáculo. São quem te tira desse abismo. Ainda por cima, a sua terapia consiste basicamente em deixar sons de peidos gravados no teu telemóvel.

Tens vinte e poucos anos. Estás solteiro. Agora os duches são opcionais. O teu programa ideal é estar sozinho, no sofá, a jogar Super Smash Bros. As camisolas de cavas ficam-te demasiado justas. As calças de ganga ficam-te largas. As pessoas dizem que envelhecer é horrível, mas não é nada de novo, nem sequer é mau.

Uma relação agradável é o ambiente ideal para desenvolver estas características confortáveis e estranhas - basicamente é o ambiente perfeito para envelhecer -, e quando essa relação termina, só te resta a saudade. Agora estás num mundo no qual importas cada vez menos. Se és um tarado de 21 anos, a única esperança é deixar de o ser, algum dia. Se és um tarado de 26 anos, as pessoas assumem que esse é o teu estado natural e que jamais irás mudar.

As relações são espectaculares, mas destroem partes de ti que são necessárias para funcionares no mundo dos solteiros. O melhor conselho que posso dar-te é: reconstrói essas partes, se queres ter esperança em reafirmar o teu estatuto como pessoa não imbecil neste mundo.

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