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Fui sóbria a um festival de música (e isto foi o que aprendi)

Uma oportunidade para estabeleceres uma nova relação com a música e com o teu ser interior. Vê bem que passar um fim-de-semana saudável até pode ser bom.
Foto principal por Ágata Xavier

Este artigo foi originalmente publicado na nossa plataforma THUMP.

Estar sóbrio num festival de música não é uma experiência inovadora. Estou certa que para montes de gente é algo bastante normal. No entanto, eu nunca fui uma dessas pessoas. Como alguém que costumava olhar para um fim-de-semana festivaleiro na perspectiva de "aquela altura do ano em que te atiras de cabeça a tudo o que te apareça à frente", a sobriedade era tão apelativa como andar de saltos altos durante três dias nesse mesmo festival.

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Contudo, no início do ano, um "encontro" menos agradável com as forças da lei não me deixou outra hipótese senão a de eliminar todo e qualquer contacto com substâncias ilícitas. Festivais, concertos, festanças familiares, enfim, em toda e qualquer situação não podia meter nada cá dentro. E, se a ideia de me manter sóbria num festival de música era assustadora, a alternativa era bastante pior.

Apesar de, na globalidade, a experiência não ter sido de todo desagradável, teve os seus momentos de desconforto e frustração. Durante um fim-de-semana inteiro sem tocar em álcool e drogas aprendi uma série de lições e algumas até foram bastante positivas.

Foto por jpavulso

A boa música não precisa de ser "melhorada"

Pode parecer uma parvoíce, mas estava genuinamente preocupada com a possibilidade de não desfrutar tanto da música sem alguma espécie de cena a correr-me nas veias. Fiquei agradavelmente surpreendida com o facto de isto se ter revelado algo bastante distante da realidade.

E, de facto, foi óptimo perceber que quando me senti tocada pela música, isso ficou a dever-se a um prazer genuíno e não adulterado. Por outro lado, as actuações mais fracas deixaram de ter aquele filtro por trás do qual se esconderem e via-as, efectivamente, como eram: fracas.

Na generalidade, as pessoas apoiam-te

Na maior parte das vezes, a minha declaração de sobriedade foi recebida com palavras de encorajamento e a oferta de refrigerantes ou garrafas de água. Os meus amigos seguiram a sua vida e as suas actividades extracurriculares habituais - mas fora do meu campo de visão - e elogiaram-me ao longo de todo o fim-de-semana.

Claro que houve uns sacanas que quiseram fazer parecer que eu estava a perder alguma coisa por não os poder acompanhar nas suas mocas, mas, claro, não são pessoas que sejam mesmo minhas amigas e que mereçam que perca um mínimo de tempo com elas.

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As pessoas vão assumir que estás com a moca

Apesar de o festival acabar na segunda-feira à noite, eu ainda não estava farta de dançar. Por isso, na terça de manhã, fui com um amigo em busca daquela última cena. Por causa disso, muita gente tem dito que era impossível ter aguentado tanto sem estar sob efeito de alguma coisa.

Aparentemente, algumas pessoas têm dificuldade em acreditar que alguém possa estar tão entusiasmado durante tanto tempo, a seco. Ah, e esfregares o nariz durante uma festa é sempre suspeito, qualquer que seja a situação.

A noite não é a melhor conselheira

Durante o dia foi fácil manter a boa disposição - com o sol a aquecer tanto a minha cara, como o asfalto por baixo dos meus pés, dançar não exigia qualquer esforço. Mas, às três da manhã, numa pista de dança à pinha, apercebi-me de forma terrível da minha condição de sobriedade e as coisas já não foram assim tão simples. Foi a pior provação pela qual passei em todo o fim-de-semana.

Vais estar à altura da situação

Terão ocorrido poucas situações na minha vida em que me mostrei tão decidida, como neste constante recusar de tudo e mais alguma coisa que me foram colocando à disposição. Teria sido fácil ceder à tentação, mas dizer não foi, afinal, muito mais recompensador. deu-me até uma sensação de poder. E à medida que o festival foi avançando, mais em paz fui ficando com as minhas restrições.

Adrenalina e café podem fazer maravilhas

Sabendo de antemão que a cafeína seria a única coisa que podia ingerir para me ajudar quimicamente ao longo da maratona festivaleira, levei comigo uma quantidade decente de Yerba Mate. Em conjunto com os meus já de si excessivos níveis de adrenalina e excitação, foi o suficiente para conseguir acompanhar os melhores. Bónus: nada de depressão pós-festa induzida pela dopamina!

Vais sentir-te uma pessoa melhor

É claro que pode ser divertido "melhorar" a experiência e ter um fim-de-semana patrocinado (com limites de segurança, atenção) pelas letras C, E, K e LSD, mas se ir a um festival sem elas pode, à partida, parecer algo sem sentido, se calhar não faz mal nenhum dar um passo atrás.

Enfrentar um fim-de-semana festivaleiro totalmente sóbria foi uma oportunidade para tornar a minha ligação à música mais saudável e, mais importante, tornar a minha relação comigo própria também mais saudável.


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