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Música

Vodafone Paredes de Coura: o courense que nunca falhou uma edição do festival

Há sempre coisas bonitas para fazer em Coura.

Fotografia por Rui Luís. Todos os Verões cumpre-se o ritual: Manuel Viana vê entrar nas piscinas municipais de Paredes de Coura, onde trabalha, centenas de festivaleiros ávidos por um banho quente. É possível que Manuel, de 51 anos, seja o fã número um do festival com o nome da terra. Afinal, este natural de Vila Nova de Cerveira, feito courense há 40 anos, não falhou nenhuma das 20 edições do festival. Os filhos — uma com 20, o outro com 14 — acompanham-no sempre, desde bebés. “As piscinas nesses dias trabalham e de que maneira. O pessoal procura-as para tomar um duche de água quente. Um ou outro vai nadar, mas a grande maioria vai tomar um duche de água quente”, conta. Tanta afluência é uma dor de cabeça para uma piscina habituada à calma: “Chega-se a uma certa hora e a água começa a ficar fria.” As portas abrem às 15h e até às 17h é só “chuveiros ininterruptamente ligados” (este ano, cada duche custará um euro, conta-nos). “Sou de Cerveira, mas estou aqui há 40 anos. Praticamente, sou courense. Vim para aqui com pouca idade, fui aqui criado, é aqui que vivo, que tenho os meus laços, que fiz a escola, a minha vida”, explica Manuel. Como courense, lida com os festivaleiros, mas é também um deles — um dos mais indefectíveis. “Lembro-me perfeitamente do primeiro festival e tenho boas recordações. Já era na praia fluvial do Taboão, mas o palco principal estava onde era o Jazz na Relva. Era tudo bandas nacionais. Eu e a minha esposa levámos a minha filha. Por volta das dez, dez e meia, deu-lhe uma vontade de ir dormir e fui levá-la a casa”, recorda. Não imaginava que aquele primeiro festival, em 1993, com Ecos da Cave, Gangrena, Cosmic City Blues, Boucabaca e Purple Lips, se transformaria no que Paredes de Coura é hoje. Lembra-se das movimentações que dariam origem ao festival, levadas a cabo por um grupo de jovens locais. “Sou grande amigo deles todos”, garante. “Fui dando algumas dicas, nem sempre foram sendo aproveitadas. Cheguei a falar dos Queens of the Stone Age, que depois vieram. Foi uma das bandas de que mais gostei.” Outros momentos para a memória: os concertos da Rollins Band, em 1997, dos Mr. Bungle, três anos depois, e as passagens dos Coldplay (pouco conhecidos naquele ano de 2000) e dos Arcade Fire, em 2005 (“Uma grande surpresa, nunca imaginei. Todos os elementos se revezavam a tocar. Foi espectacular”). Este ano, Manuel está ansioso pelos Palma Violets, Hot Chip, The Horrors e pelos DJ da terra The Filthy Pigs, que lhe dão a conhecer muitas novidades musicais. Quer também rever Echo and the Bunnymen, que viu em 1982. Para esta pacata vila minhota, “é o melhor evento” do ano — “Paredes de Coura tornou-se famosa devido ao festival”. “O comércio local está sempre à espera por esses dias para amealhar aquilo que não consegue durante o ano”, explica. “Nos primeiros tempos, as pessoas de uma certa idade colocavam umas certas reticências. Hoje não, está tudo muito bem organizado. O pessoal que vem [ao festival] é de um grande civismo.” DOS BOLOS AOS JORNAIS
Paulo Silva, da Pastelaria Conselheiro, não se queixa. “[O festival] É muito bom. Trabalha-se, não se descansa. Quase não há tempo para dormir. É passar duas horinhas pelas brasas e está a andar”, revela. Pela madrugada fora, estarão os festivaleiros nas últimas cervejas ou em sono profundo, Paulo andará de volta dos fornos a fazer bolos — entre os quais o típico courense, uma espécie de travesseiro composto por “massa folhada feita de maneira diferente, chila e amêndoa”. No restaurante homónimo, a uns passos dali, pode-se provar outra delícia local, os formigos de Coura. No Café Courense, Sílvia Gomes já se habituou ao corrupio dos dias de festival. “É um esforço extra. Temos de ter um bocadinho de paciência”, diz a funcionária. “É diferente, é animado, é bom.” Os locais elogiam os croissants do Courense, bem como as suas sandes americanas. Ali perto (tudo é perto em Paredes de Coura), Natália Cerqueira, da Papelaria Nova Coura, vende jornais e tabaco ao povo do rock. “Os festivaleiros fazem fila”, descreve Natália, que nunca foi ao festival. “Trabalhamos muito mais, mas eu prefiro assim. Não vemos as horas passar.” SEGREDOS
Pedi à Natália que partilhasse um segredo courense. Mandou-nos para os arredores, para Insalde, freguesia do concelho de Paredes de Coura. É lá que está o restaurante Casa do Xisto (não provámos e já adoramos: nas especialidades há "arroz das matanças", acompanhado por rojões de bísaro ou costelinhas de javali). O espaço “tem umas lagoas, dá para pescar”, diz. Outra dica de Natália, para quem tiver automóvel: rumar à paisagem protegida do Corno de Bico. Sílvia Gomes puxa a brasa à sua sardinha. “Para quem tem carro, nas aldeias há sítios bonitos. Eu gosto da minha aldeia, que é Padornelo”, aponta. Há lá “um grande santuário”. “No ano passado, tivemos um grupo de rapazes que tinham uma rulote e foram aí pelo concelho. É uma ideia. Há sempre coisas bonitas para fazer.”