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cenas

Fomos explorar o mundo das borbulhas com pus

Somos todos feitos de merda.

Rebentar uma borbulha com pus é uma tarefa vergonhosa feita em segredo. A excitação de assistir ao pus a espirrar para o espelho dura apenas alguns segundos e depois ainda temos de limpar todas as provas, resignando-nos à dor constante…

Mas mesmo parecendo que não, rebentar uma borbulha assemelha-se

bastante

 a um orgasmo. Considerando que exibir uma borbulha viscosa se encontra entre tabus sociais como comer o teu próprio ranho ou gargarejar esperma, porque é que há tantos vídeos de pessoal a rebentar borbulhas que são autênticos hits no YouTube?

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Problemas psicológicos como a

dermatotilexomania – uma vontade irresistível de puxar a própria pele – justificam algum do sucesso do rebentamento de borbulhas. Na cultura de auto-ajuda dos dias de hoje, em que a cura para todos os problemas reside num livro do Malcolm Gladwell, é fácil perceber porque é que o pessoal que sofre de uma desordem obsessivo-compulsiva que os faz atirarem-se às suas imperfeições físicas encontra refúgio nos vídeos com explosões épicas de borbulhas, é a mesma técnica que a malta metida nas drogas usa quando vê o Trainspotting.

Mas os doentes mentais são apenas uma pequena porção do universo das borbulhas, um cosmo gigantesco que inclui ainda algumas celebridades. Como o

Vikram Yadav

, um médico de Nova Deli, que, com os seus olhos dóceis e uma cabeça cheia de caracóis perfeitos, parece o nosso vizinho do lado. O Dr. Yadav não parece o tipo de pessoa responsável por um dos vídeos mais nojentos e grotestos de toda a internet.

Ainda assim, se alguma vez assistiram a um vídeo com rebentamentos extremos de borbulhas — tipo aquelas com poros entupidos há 25 anos e em que é necessária uma agulha para sacar uma quantidade nojenta de esterco branco — as probabilidades são altas de já terem visto algum deles no canal do Vikram Yadev.

Basicamente, o Dr. Yadev é a estrela do rebentamento de borbulhas. A listagem de extracções de pontos negros, abcessos e quistos já conquistou mais de 18 milhões de visitas e 105 mil subscritores. O vídeo mais popular do canal, poeticamente chamado de “

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Mina de Ouro dos Pontos Negros num Nariz

”, já foi visto mais de 12 milhões de vezes. Nas comunidades que partilham este tipo de vídeos, como o

Zitmeister.com

, o culto chama-lhe afectuosamente “Doutor Y”.

O ímpeto do Doutor Y parece ser um fascínio médico com os problemas de pele mais horríveis dos quais uma pessoa pode sofrer. Os seus vídeos, que publica duas vezes por semana sem falha, mostram condições tão horrendas que poderiam facilmente aparecer na versão B de um filme de terror baseado em nojices. Do tipo

Videodrome: O Quisto Gigante

. Os fãs do rebentamento de borbulhas passam em massa pelo canal do Doutor Y para assistir ao grotesto, um fenómeno que o Dr. Allen Feldman, professor associado da Universidade de Nova Iorque, vê como uma versão moderna de uma prática comum do século XIX: a corrida aos

freak show

, em que o público acorria a exposições de senhoras com barba, gémeos siameses, anões e pessoas com outro tipo de malformações. Quem sabe? Se o

Bakhtin

 andasse por cá talvez fosse um fã do Doutor Y.

O nosso desejo colectivo de espreitarmos pessoal esquisito junta-se ao rol de motivos que tornam estes vídeos uma prática social. O Dr. Feldman traça um paralelo entre expelir uma borbulha nojenta e a circuncisão, identificando ambas as práticas como formas de “expiação pública”, em que “pessoas cuja aparência não se enquadra nas normais sociais olham para si mesmas como fracassadas, vendo estas deformidades como um emblema da sua imperfeição e falhanço cultural”. Para estas pessoas, livrarem-se de uma parte do corpo contaminada permite o seu retorno à comunidade. “Mas estas práticas com o acne não têm paralelo directo com rituais de passagem (como a circuncisão)”, acrescenta o Dr. Feldman, “porque não há uma comunidade real a que se possam juntar depois da mutilação, não há uma iniciação colectiva”. Apenas o consumo em massa de cenas grotescas como o

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Jackass

 ou

Mondo Cane

.

Para Russ Hamstring, o fundador e admnistrador do Zitmeister.com, o sentimento indirecto de limpeza é o que o leva a rebuscar a net à procura destes vídeos. “Pessoalmente, só quero deitar fora as impurezas. A satisfação é grande quando vejo a explosão final. E é ainda melhor quando há som”.

O Russ também admite que para alguns dos utilizadores do seu site, o rebentamento de borbulhas é um fetiche que roça o sexual. “Tive uma mulher que se ofereceu para apanhar um avião e vir ter comigo só para me rebentar as borbulhas. Prometeu que me enchia de presentes e que me levava para hotéis caros”, afirma. “Mas não fico assim tão maluco com as borbulhas. Um casamento temático com borbulhas não me parece uma coisa muito atractiva. (O Russ acrescenta ainda que 35% dos utilizadores do Zitmeister.com são mulheres entre os 40 e os 50 anos.)

Ainda assim, a estrutura de um vídeo de borbulhas realmente satisfatório reside no clímax final. Um dos utilizadores do subreddit /r/popping explica que a estrutura narrativa de um bom vídeo deve ter um início, meio e fim. “Quanto maior o quisto, mais pus de lá sai e mais rapidamente se dá a acção. Um ponto negro do tamanho de uma unha, enterrado há 25 anos, tem um enredo atroz enquanto os rebentadores tentam tirar a porcaria, que no fim sai gloriosamente”, explica-nos. Claro que isto só acontece quando a pessoa a segurar a câmara tem estômago para aguentar aquilo. “Não aguento quando a pessoa que está a gravar resolve filmar o chão enquanto o pus sai de um quisto perfeito”, queixa-se outro Redditor.

Mas nem todos os voyeurs das borbulhas o fazem pelo amor à porcaria. Alguns – nos quais eu me incluo – ficam simultaneamente enojados e empolgados com estes vídeos, o que resulta de um interesse mórbido em relação a fenómenos do corpo humano sujeitos a situações extremas. O Dr. Harris B. Stratyner, professor associado no departamento de psiquiatria de Mount Sinai, demonstra claramente a sua repulsa: “Vi alguns vídeos e senti-me mal. As pessoas andam a fazer coisas que são simplesmente nojentas. Já trabalhei em emergências de hospitais… E nem tudo me deixa enojado. Mas tenho de admitir que isto me deixou mal. Isto é simplesmente repugnante.”

De onde vem esta repulsa do Dr. Stratyner em relação a estes vídeos nojentos? Bem, a teoria da morte de Freud pode ser a chave. Segundo os seus escritos, “se subires ao topo do Empire State Building e olhares para baixo, há sempre uma parte de ti que gostaria de saltar. Não porque queres morrer, mas porque há um forte impulso para o conceito desconhecido da morte — que nós não compreendemos”. De igual forma, somos instintivamente atraídos em relação ao mistério daquilo que vive dentro de nós. O que é que estamos a extrair? O que é este corpo estranho por debaixo da nossa pele? Como o meu comentário preferido do Reddit tão eloquentemente conclui, estes vídeos lembram-nos de que, no final de tudo, somos todos feitos de merda.