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Música

Artistas do Ano de 2014 | No. 2 | FKA Twigs

Como FKA Twigs está mudando o jogo com sua visão sobre um novo erotismo feminino.
O THUMP está celebrando o ano de 2014 com músicas, discos, artistas, eventos e momentos com nosso primeiro anuário, o #YRBK14 (Yearbook é aquele livritcho de fim de ano dos colégios americanos). Nossa lista de Artistas do Ano inclui gente bem conhecida e talentosas novidades. Mas nenhum outro artista recente conseguiu capturar nossos corações, mentes e partes baixas tanto quanto FKA Twigs – ex-dançarina de apoio e atual indicada ao Mercury prize. A editora do THUMP, Michelle Lhooq, explica por que FKA Twigs representa um novo tipo de erotismo que é mais obscuro, mais esquisito, e no fim das contas, muito mais autêntico que o feminismo pop com qual nos acostumamos. Já era hora.

A coisa mais assustadora que vi no último Halloween não foi através de uma tela de cinema, passeio em casa mal-assombrada ou uma triste criatura estirada na calçada na manhã seguinte. Foi o último clipe da FKA Twigs, "Video Girl."

O vídeo em preto e branco foi lançado no final de outubro e é centrado em um procedimento de execução de arrepiar. A artista jamaico-britânica – nascida Tahliah Debrett Barnett – lança seu olhar através de uma câmara de injeção letal. Um homem se debatendo, possivelmente seu amante, está preso a uma cadeira. O veneno entra nas veias deste homem. Sua pele enegrece. Barnett vira seus olhos para baixo, sua voz tremula como pétalas de rosas que caem, enquanto canta "I love another, and thus I hate myself" [Eu amo outro, e logo me odeio]. Este trecho, retirado de um poema de Sir Thomas Wyatt, também é o tema implícito em seu disco de estreia, LP1.

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Aí a coisa desenrola. Barnett aparece na sala de execução, envolta em uma roupa esquisita, de outro mundo. Seu corpo esguio se debate; seus olhos escuros parecem possuídos por uma intensidade demoníaca. Ela sobe em cima do morto. Sobre seu corpo, ela faz uma lap dance – sim, lap dance – enquanto murmura sob um microfone acima da mesa de execução.

Ao assistir essa dança erotica de morte, fiquei mesmerizada, entristecida, assustada, e talvez levemente excitada – um apanhado de emoções conflitantes que revelam o poder de "Video Girl" enquanto obra de arte. Mas o que me pegou mesmo é como o retrato de FKA Twigs, do desejo erótico feminino, é muito mais complicado do que qualquer narrativa geralmente empregada pela máquina da cultura pop.

Estamos acostumados a ver divas como Beyoncé, Lady Gaga e Katy Perry exibirem suas libidos, carregadas de feminismo e pop art, declarando suas perfeições – "Eu acordei assim!" – enquanto atiram fogos de artifício dos peitos. Do outro lado do espectro, também estamos acostumados com cantoras que adoram um bafão como Miley Cyrus, Nicki Minaj e Madonna, que vendem o sexo como um ato de transgressão titilante. FKA Twigs escolhe um caminho mais obscuro e profundo. De fato, seu desejo erótico em "Video Girl" parte de uma série de dicotomias: amante frágil e deusa da morte, humano e alienígena, força e vulnerabilidade, atração e repulsão. Este tipo de ambiguidade conflituosa finda por soar muito mais autêntico para qualquer mulher que se já se viu em guerra com seus próprios sentimentos de amor e luxúria.

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Muitos críticos se referiam ao LP1 como o disco mais sensual do ano. Ironicamente o apelo erótico de FKA Twigs vem do fato de ela tentar não ser sensual. Suas canções vem de um lugar tão íntimo e voltado para si, que parece que você está ouvindo-a às escondidas enquanto geme frases como "If you want to touch me, you can do it with the lights on" [Se você quer me tocar, pode ser com a luz acesa]. Suas produções são fortes e minimalistas, dependendo mais de espaço negativo do que um maximalismo na cara. Quando ela se apresenta, ao invés de vender seu corpo para o prazer do público, Twigs saboreia cada movimento como um tipo de expressão artística – algo que vem da sua época de dançarina. Molly Beauchemin da Pitchfork até mesmo elevou FKA Twigs ao status de representante de um novo movimento feminista (de dança), elogiando sua poderosa afirmação de que é o suficiente para as mulheres serem apenas elas mesmas no palco, finalmente.

"Nunca há sequer a sugestão de que ela busca a aprovação do público – ela nunca está vendendo nada", escreve Beauchemin. "Sua manipulação hábil e atlética do próprio corpo se desassocia da ideia de ser nossa fantasia; é expressão pura".

Nisha Kunte, uma crítica de cultura pop com um PhD em Estudos Americanos da Universidade do Sul da Califórnia, também a coreografia bizarra de FKA Twigs como uma espécie de crítica. "Há subversão em sua performance. Na repetição [de sua coreografia] ela chama nossa atenção para as maneiras que gênero e sexualidade podem ficar presos a um erotismo limitado", disse Kunte ao THUMP. "Ao distorcer estes conceitos limitados, sua performance da feminilidade critica o erotismo limitado de grande parte do pop".

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Seja por cavalgar em um defunto, sacudir as juntas como se fossem feitas de ossos quebrados e controlar seu corpo com o máximo de precisão, FKA Twigs vira a ideia de performance sexual de ponta-cabeça – libertando-a de nossos olhares puritanos, indo mais fundo e relevando algo mais aberrante, ambíguo e inteligente do que qualquer um de nós esperava.

Finalmente uma estrela pop que não só entende, mas manda ver.

Michelle Lhooq é a Editora do THUMP US - @MichelleLhooq

Tradução: Thiago "Índio" Silva.

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3. Clean Bandits
2. FKA Twigs
1. Porter Robinson