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análise

As "fake news" venceram

Políticos e a mídia mainstream nos EUA estão lutando contra boatos e mentiras das notícias falsas, mas não está dando certo.

Esta matéria foi originalmente publicada na VICE US .

"Essas histórias são falsas, mas as consequências são reais", disse Scott Pelley, do 60 Minutes da CBS, durante uma reportagem sobre notícias falsas que foi ao ar recentemente. O segmento foi tema de uma investigação de rede televisiva vintage com tudo que tinha direito. Foi o tipo de coisa que seu pai pensa quando vê a palavra notícias. O principal tema, e alvo, entrevistado por Pelley era um cara que se tornou famoso ao vender mentiras e fingir que elas são notícias do nível do 60 Minutes: o raivoso blogueiro e vlogueiro pró-Trump Michael Cernovich.

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A coisa não foi bonita — principalmente para Pelley.

O repórter listou várias das afirmativas mal pesquisadas e deturpadas de Cernovich e pediu que ele defendesse seu nonsense. Cernovich fez a única coisa que você precisa para ganhar na paisagem da mídia atual: bateu o pé. Cernovich chamou suas histórias de "100% verdade" e insistiu: "Não digo nada em que não acredito". Talvez você ache Cernovich um puta babaca, mas fica a dúvida se a entrevista realmente ajudou a convencer quem estava em cima do muro sobre o vlogueiro. Tanto que depois, Cernovich se gabou de como tinha se saindo bem no programa.

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Não ajudou o fato de Pelley continuar com um exposé atrapalhado sobre seguidores falsos nas redes sociais. "Alguns compartilhadores de notícias falsas usam software de computador chamado 'bots'", ele disse, ao som de gargalhadas de qualquer um com menos de 50 anos.

Depois do programa, o Comitê de Inteligência do Senado norte-americano realizou sua primeira audiência sobre o Russiagate — ou seja lá como você queira chamar essa zona — e notícias falsas que tomaram o centro do palco por um momento em Capitol Hill. Quando o ex-agente do FBI, e atualmente pesquisador de política estrangeira para uma think tank, Clint Watts respondeu uma pergunta sobre por que a Rússia tinha sido tão audaciosa com sua propagada durante a eleição de 2016, a resposta exasperada de Watts explicou muita coisa.

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Watts deu grandes ideias. "Precisamos de um Departamento de Estado, de um site do Departamento de Segurança Interna que refute imediatamente quando boatos são colocados no ar", sugeriu. Ele também disse que as organizações de mídia precisam ir com calma na publicação de informações vazadas, e considerar que agenda está se beneficiando. "E se elas [as redes de notícias] boicotassem o Wikileaks coletivamente?", ele disse. (Considerando o incentivo que a indústria da mídia tem para fazer isso, essa proposta provavelmente não vai passar do "e se".)

No processo, Watts foi bem convincente mostrando que os propagandistas russos incentivaram a criação de notícias falsas porque a equipe de Trump continuava as impulsionando durante a campanha. Por isso, ele acredita, a propaganda funcionou.

"[O chefe da campanha de Trump] Paul Manifort citou a história falsa da [Base Aérea] Incirlik como um ataque terrorista real na CNN, e usou isso como um ponto do diálogo", disse Watts, referindo-se aos relatórios russos falsos de uma tentativa de atentado terrorista na Turquia. Ele também apontou aquela vez em outubro quando Trump citou uma notícia falsa da rede de propaganda russa Sputnik News. Watts também sugeriu que Trump facilitou a vida dos propagandistas russos repetindo histórias sobre as eleições serem manipuladas e negando inicialmente os relatórios da inteligência norte-americana sobre a interferência russa.

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Se presidenciáveis estão dispostos a explorar notícias falsas para seus próprios fins, que chance qualquer um tem de descreditá-las — especialmente quando a maioria dos republicanos confia mais em Trump que na mídia?

No geral, Watts estava bastante resignado com a situação toda: "Vou sair daqui hoje. Vou ser atacado na internet. Vou ser descreditado por trolls", ele disse aos senadores de olhar preocupado, que pareciam realmente estar ouvindo.

Do outro lado do oceano, a BBC exibiu uma propaganda dizendo que "sempre defendeu a verdade". No anúncio, a repórter da BBC Katty Kay caminha discursando, usando seu melhor tom de apresentadora de jornal, para assegurar os espectadores que a BBC "nunca tomou um lado em nenhuma guerra, revolução ou eleição", então pode se chamar de "a marca de maior confiança em notícias". Quando um titã venerado da mídia como a BBC precisa assegurar às pessoas de seu objetivo mais básico, você sabe que perdemos a fé nas nossas instituições.

E segundo a BBC, não podemos nem confiar em trabalhos científicos. A rede exibiu uma investigação brutal sobre como o mundo das pesquisas científicas está sendo soterrado por trabalhos que são de alguma forma fraudulentos. Aparentemente foram 319 relatórios mal conduzidos entre 2011 e 2016 de pesquisadores do Reino Unido. Ivan Oransky, do blog de ciência Retraction Watch, disse à BBC que ninguém sabe quanta ciência equivocada anda por aí: "Universidades, agências de financiamento e corpos de supervisão não estão informando nem uma fração razoável do número de casos que encontram".

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A matéria da BBC sobre notícias falsas foi um lembrete de que: como o Buzzfeed apontou, e a VICE destacou três anos atrás, não é só Trump e a Rússia — a internet está enchendo nossos cérebros de histórias falsas sobre tudo, e a mídia de verdade não está conseguido fazer as pessoas perceberem o que é e o que não é verdade.

Então lembrem-se, crianças: Não acredite em nada que você lê na internet, ou em qualquer lugar! Só na gente.

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Tradução: Marina Schnoor.

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