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VICE Sports

A-Z das Olimpíadas Rio 2016

"F de festa no postinho" e outras tretas: eis o dicionário que guardaremos das Olimpíadas 2016.

Quando a Rio 2016 estava para começar, presenciamos uma série de trágicos bolões por bares, repartições e cantinas do Brasil. Pessimistas por natureza, muitos brasileiros apostavam que seríamos vítimas de atentados terroristas, que os gringos sofreriam arrastões colossais e que Neymar, nosso anti-Messias de cabelos esculpidos, conduziria a seleção masculina de futebol ao seu segundo maior vexame da história, um possível 6 a 1.

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Para a surpresa geral, não rolou nenhuma tragédia. Na verdade, as Olimpíadas foram bem alto astral e, mesmo quando rolaram fatos meio escabrosos, nossa torcida conseguiu lidar com muito humor.

A gente não vai fazer uma retrospectiva galvanesca, com lágrimas nos olhos, porque, sei lá, o Rio de Janeiro, ao contrário do que muitos dizem, não tá tão lindo assim. Tem muita coisa errada por lá. Ainda assim, por curtimos muito os povos celebrando esse mundo caótico no nosso país, fazemos um abecedário sobre as loucuras da Rio 2016 que já deixaram uma puta saudade. Curtam aí:

Foto: Felipe Larozza/ VICE

A / Águas estranhas

Ecobarreiras, mutirão, equipe reforçada: nada parece resolver o problema da Baía de Guanabara com seus 8 mil litros de esgoto por segundo. O mesmo valeu para as águas turvas próximas à Marina da Glória e da Lagoa Rodrigo de Freitas. O H²0 foi um problemão para os atletas na Rio 2016. Nas piscinas deu ruim também. No Centro Aquático Maria Lenk as águas acordaram esverdeadas no sexto dia de competição. A razão para a estranha cor foi a proliferação inesperada de algas por ali, o que nos faz questionar como uma coisa dessas pode ser uma surpresa, mas tudo bem. A prova do salto acrobático ficou assim: você tinha que subir a escada, dar altas piruetas no ar e mergulhar num lodão esquisito torcendo para não ser infectado por alguma coisa. A solução foi trocar a água num processo que durou 11 horas. Nosso jeitinho deu certo. Até onde sabemos, todos passam bem.

B / Bolt onipresente

Podemos dizer que o raio jamaicano não perdeu tempo no Rio de Janeiro. Faturou mais três medalhas de ouro — já são nove no total —, fez chifrinho no repórter da ESPN Brasil, curtiu a comemoração do Neymar na final do futebol masculino, colou na baladinha TOP e ainda caiu na selfie com morena misteriosa. Ela, aliás, chamada Jady Duarte, uma estudante de 20 anos, disse ao Extra que a noite "não foi nada demais". Pelo menos isso, né.

Foto: Pinterest

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C / Crimes, crimes, crimes

A Vila Olímpica teve média de um crime por dia durante os Jogos Olimpícos e o principal alvo foram as camareiras. Antes mesmo da abertura, o boxeador Hassan Saada foi preso por abusar sexualmente de uma funcionária. O último caso foi registrado na quinta-feira (18) e envolvia três atletas de Fiji, do rúgbi de 7. Sem contar, claro, o fatídico Dia de Maldade dos nadadores americanos que merece uma letra por si só – a F, de Festa no Postinho.

D / Dor

O ginasta francês Samir Ait Said sofreu dupla (isso mesmo, dupla) fratura exposta. A holandesa Annemiek Van Vleuten errou o tempo da curva no ciclismo de estrada feminino e caiu com a cabeça na guia. O armeno Andranik Karapetyan do levantamento de peso quebrou o braço esquerdo ao tentar erguer 195 quilos. E não bastasse as cenas horríveis causadas pelo esporte, uma câmera, que ficava suspensa em cabos de aço, despencou e feriu sete pessoas no Parque Olímpico. Muita gente se fodeu, inclusive colegas nossos que tentavam, bêbados, subir as ladeiras cariocas. Se existe algo democrático nas Olimpíadas, algo que não discrimina sexo, religião e índices sociais, esse algo se chama ferimentos. Que venha Tóquio.

Foto: Reprodução Instagram

E / Eeeee, Eduardo Paes

O prefeitão do Rio de Janeiro é famoso pelas oportunidades que perde de ficar calado. O show de aforismos começou antes da abertura. Quando os australianos reclamaram de suas instalações na Vila Olímpica Eduardo Paes soltou a pérola: "Natural que você tenha algum tipo de ajuste a fazer, mas vamos fazer os australianos se sentirem em casa aqui. Estou quase botando um canguru para pular na frente deles". Na cermônia de encerramento, seguiu a recomendação pública e ficou em silêncio. Pena que não adiantou muito: foi vaiado por boa parte dos espectadores. Talvez por causa do chapeuzinho, vai saber.

Foto: via

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F / Festa no postinho

Os nadadores americanos Ryan Lochte, James Feigen, Gunnar Bentz e Jack Conger ficaram doidões bem de rua num postinho da Barra e, no dia seguinte, quando bateu aquela ressaca, meteram o louco e alegaram terem sido assaltados. Tem muita coisa mal explicada na história e provavelmente ouviremos mais versões dos fatos nas próximas semanas. De qualquer forma, esperamos que a lição de nossa terra como para-raio de malandragem tenha sido global. Afinal, em terra de grávida de Taubaté e Chupacabra, um papo furado desse jamais colaria. Assumam seus BOs.

G / Guga comentarista de aleatoriedades

O Gustavo Kuerten é tão bonachão que chega a irritar. O maior tenista brasileiro da história engrossou o caldo dos comentaristas da TV Globo e, quando você menos esperava, ele tava lá comentando um lance qualquer com sorriso no rosto. Esgrima? Chama o Guga. Luta greco-romana? Ô, Guga, tá livre aí? A única coisa capaz de fazer o Labrador Humano rosnar foi a atuação da seleção masculina de futebol contra o Iraque. Um 0 x 0 de foder. Parece que já tá rolando uma petição para que Guga vire comentarista de política no lugar do William Waack. (A CIA também está de olho nele.)

Foto:Reprodução Instagram

H / Homofobia nos estádios

Parece que muita gente ainda não entendeu que um grito homofóbico não faz parte do pacote torcedor civilizado. Os gritos de "bicha" procriaram feito ratos nas arquibancadas dos jogos de futebol e deixaram um gosto amargo. Ainda não evoluímos da 5ª série quando o assunto é sexualidade e isso comprova mais uma vez o quanto o futebol é homofóbico no Brasil.

Foto: Bruna Prado

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I / Isaquias, O Grande

O baiano de Ubaitaba foi a grande surpresa nos Jogos Rio 2016. Isaquías Queiroz é o primeiro brasileiro a conquistar três medalhas em uma única edição das Olimpíadas e, aos 22 anos, fez muita gente descobrir que a canoagem existe e que tinha um fenômeno no esporte com penteado mais louco que o do Neymar.

J / Jovens sendo jovens

Teve pegação na Vila Olímpica? É óbvio que teve. Imagina só juntar um monte de gente gostosa, saudável e jovem num mesmo ambiente. O que você espera? Cânticos religiosos e coral gospel? Rolou muita coisa e, como já era esperado, no Brasil, a terra safada mais moralista que se tem notícia, uma trepada virou notícia polemiquinha para gerar buzz, likes e aquela coisa toda.

Foto: Reprodução/ Instagram

K / King Phelps

O cara é bichão memo: 23 medalhas de ouro, três de prata e duas de bronze na natação. É o maior medalhista da história dos jogos olímpicos.

L / Leilão de medalha

Parece legal ter uma medalha pendurada no quarto, mas lustrá-la deve dar um trabalhão. Na Rio 2016 teve gente achando novos meios para lidar com suas peças de metal sem precisar limpá-las. Foi o caso do polonês Piotr Malachowsk, segundo lugar no arremesso de disco. Ele botou sua medalha de prata em leilão para ajudar no tratamento de um menino de cinco anos com câncer no olho. O leilão vai até o dia 26 de agosto e o maior lance já passou dos R$ 60 mil.

O Polonês sangue bom. Foto: Slawek

M / Mario Japa

Enquanto o presidente interino do Brasil encurta o protocolo na abertura e o prefeito do Rio de Janeiro é vaiado no encerramento, o primeiro-ministro japonês anunciou os Jogos de Tóquio, em 2020 ao sair de um cano verde vestido de Super Mario Bros. Ele parecia meio constrangido, mas foi um grande momento para a geração de gamers do mundo todo. Aguardamos agora o informe de que batalhas de Pokémon serão modalidade olímpica. Vão se preparando.

Foto: Reprodução Instagram

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N / Neymedalha

Sob os olhos atentos do Neypai, a seleção faturou o neyouro pela primeira vez com um neygol de falta no ângulo. Foi neyemocionante, mas, ainda na neycomemoração, o neycraque deu neychilique e neyxingou um torcedor que o havia criticado. O Neymar não fez mais do que sua neyobrigação.

Foto: Bruna Prado

O / Outra vez USA

Apesar dos esforços, projeções, expectativas, "efeito casa", o ranking olímpico permaneceu na maior obviedade: Estados Unidos em primeiro com 46 ouros, 37 pratas e 38 bronzes. A Grã-Bretanha ficou em segundo lugar e a China caiu uma posição com modestas 70 medalhinas. O Brasil, a duras penas, faturou 19 pódios e ficou na 13ª posição. Um feito inédito, mas abaixo da meta. Não que houvesse meta. Mas quando teve, não conseguimos dobrar.

Foto: Bruna Prado

P / País do vôlei

Foi muito bonito ver o ouro da seleção masculina de vôlei. Foi ainda mais emocionante ver o choro de Serginho que, na maior humildade, disse que ele era apenas um cara de Pirituba. Foi sua quarta final olímpica e seu segundo ouro. As 40 anos, o líbero brasileiro dá aula de comprometimento ao colocar sua camisa 10 à disposição. Todos os jogadores se abaixaram para beijá-la. O Brasil todo se curvou diante da grandiosidade de Serginho neste momento. Foi foda. Nosso país também representou muito no vôlei de praia: ouro com Alisson e Bruno Schmidt e prata com Ágatha e Bárbara.

Foto: Bruna Prado

Q / Quase

O futebol feminino ficou de novo no quase. Perdemos a disputa pelo bronze para as canadenses, que, coincidência ou não, têm uma liga profissional organizada que vai até a quarta divisão. Durante a competição, a euforia com Marta e companhia era proporcional ao ódio em relação à seleção masculina. E numa dessas ironias que o mundo nos apresenta, o ouro veio aos homens enquanto as mulheres amargaram um quarto lugar. A camisa 10 da seleção fez um apelo para que os torcedores apoiem as mulheres no futebol, mas, pelo andar da carruagem, seguiremos com nosso machismo ludopédico e elas continuarão sem uma liga, sem patrocínio e até sem campeonato para disputar. Já há até a discussão sobre o fim permanente da seleção das meninas. Triste.

Foto: Bruna Prado

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R / Rafaela Silva

Ela é só mais uma Silva da Cidade de Deus. Rafaela superou muita coisa desde a sua eliminação precoce em Londres. Superou o racismo, superou uma depressão, superou suas adversárias e está agora com um ouro entalado na garganta de todo racista e homofóbico, uns inclusive jornalistas que se atreveram a falar merda. O primeiro ouro do Brasil veio de uma mulher pobre, negra e lésbica. Foi um dia difícil pra muita gente.

Foto: Fábio Teixeira

S / Sem terror

Rolaram umas simulações antiterroristas meio cômicas nas vésperas dos Jogos Olímpicos, a Polícia Federal prendeu 10 suspeitos dias antes da abertura e, para a nossa alegria, nem uma biriba foi jogada durante as atividades.

Foto: Marina Estarque

T / Torcida Inigualável

Torcemos pro juiz brasileiro numa luta entre gringos; cantamos "Pelados em Santos" para um boxeador chamado Mina que tinha um cabelo realmente daora; transformamos o ping pong num espetáculo dramático; o DJ da arena do vôlei de praia tocou "Dança do Ventre", do É o Tchan, e "Faraó (Divindade do Egito), da Margareth Menezes para a dupla egípcia Doaa Elgobashy e Nada Meawad; demos aquela zoada na emissora argentina; atacamos com beijos o repórter no link ao vivo. Foi astral.

U / Último sincerão

Nós descobrimos um novo estilo de espírito olímpico com o atleta Richson Simeon, das Ilhas Marshall. Pior velocista dos Jogos Olímpicos do Rio, fez uma importante confissão depois de sua colocação no ranking. "Descobri que odeio correr. Odeio fazer isso", disse, sincero. "Mas estar aqui é incrível. Não tenho palavras para descrever". Sem dúvida um ídolo, um trabalhador como eu e você, um homem lúcido e que curte a vida sem ambições ridículas. Uma inspiração.

Foto: Reprodução Youtube

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V / Vara na Vara

O Brasil faturou ouro no salto com vara com Thiago Braz com a torcida aloprando o francês Renaud Lavillenie, mas o mais impressionante desta modalidade foi o pulo do japonês Hiroki Ogita, que, por questões de centímetros, bateu a piroca na trave e foi desclassificado.

W / Wallace

O brasileiro Wallace, de 29 anos, foi eleito o melhor oposto nas Olimpíadas do Rio, mas antes deste título, ele já vinha com o troféu de homão da porra, hipster favelinho do rolê e Gonzaguinha cover. Com suas porradas, seu sorriso e seu 1,98m, o jogador conquistou corações e ainda o título de Drake brasileiro.

Wallace com a namors e a caranga:"meus dois amores". Foto: Reprodução/ Instagram

X / Xiu, Neto!

O Craque Neto é um cara engraçado. Sem ironia. É um dos poucos da TV que fala a língua do futebol – que é, convenhamos, uma coisa pouco racional. O problema é que, quando todos ao redor autorizam seus acessos de fúria, pode ter certeza que virá merda. Isqueirou o cara, fodeu. E foi o que rolou no começo das Olimpíadas quando ele resolveu cornetar a seleção masculina de futebol. Todos começaram a rir, Neto pegou a bola, fez embaixadinhas, falou que todo mundo era perna-de-pau e o vídeo viralizou. Ruim ou não, a piada parece ter motivado os jogadores. Logo depois do término da partida, os jogadores postaram emojis de medalhas de ouro no perfil do comentarista. Inaugurou-se o Medalhaço.

Foto: Reprodução

Y / Yakissoba

A mesma torcida que aplaude até juíz também dá seus vacilers. Foi comum a torcida "apoiar" os atletas chineses gritando "yakissoba" ou "China in Box". Não é por nada não, mas tal postura revela um preconceito bem babaca, né?

Z / ZIKA Zero

Talvez você não se lembre, mas no longínquo verão de 2016 o Brasil foi infectado pelo zika, pela chikungunya e contou ainda com a volta da dengue. Tal surto foi motivo para não encontrarmos no Rio de Janeiro astros do basquete como LeBron James ou Stephen Curry, que alegaram motivos pessoais. Os golfistas Rory McIlroy, da Grã-Bretanha, e o australiano Jason Day foram mais diretos. A epidemia virou até piada da goleira Hope Solo, dos Estados Unidos. Resultado: aparentemente ninguém se contaminou e a jogadora americana, que tomou o maior frango, sofreu o maior bullying da torcida brasileira. Ôôô, zika!