É lógico que o 1º ato contra o aumento da tarifa de ônibus em SP terminou em porrada

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É lógico que o 1º ato contra o aumento da tarifa de ônibus em SP terminou em porrada

Voltamos à já manjada rotina de gás lacrimogêneo, pedrada, repressão e luta. Agora sim 2016 começou

Foto: Guilherme Santana/VICE

2016 começou arrepiando. Terminou em treta o primeiro ato contra o aumento da passagem do Movimento Passe Livre (MPL), que rolou nesta sexta (8). Em São Paulo, o aumento foi aprovado essa semana e a tarifa subirá de R$3,50 para R$3,80 a partir de amanhã (9). As cidades do Rio de Janeiro e Belo Horizonte também tiveram manifestações hoje por conta do aumento das tarifas. Assim como os paulistas, os cariocas também levaram porrada da polícia, mas em BH o ato aconteceu sem crise.

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A concentração em São Paulo começou às 17h em frente ao Teatro Municipal e foi bonita de se ver. Nem a Polícia Militar (PM) nem o MPL soltaram estimativas de quantas pessoas estavam presentes até o fechamento dessa matéria, mas eu chutaria baixo cerca de 2 mil pessoas. (ATUALIZAÇÃO 1h45: Para o G1, o MPL disse "cerca de 30 mil". Já a PM contou 3 mil). Mais cedo no mesmo dia, aconteceu um protesto mais tranquilo e modesto na região da Lapa. "As pessoas entenderam e os próprios funcionários do terminal da Lapa trocaram ideia com a gente. A adesão foi boa, bem positiva", contou o Vitor dos Santos, militante do MPL. "A expectativa de agora é fazer uma manifestação combativa, encher bastante o saco dos governantes e dar continuidade a uma jornada que não começou na Lapa, mas que vai durar até barrar o aumento da tarifa", completou.

Vitor dos Santos, militante do MPL. Foto: Guilherme Santana/VICE

No ato do fim do dia, além dos black blocs sempre presentes, e de um monte de robocop da PM, a molecada das ocupações contra a reorganização das escolas de 2015 também marcou presença para somar. "O estudante realmente é afetado por isso, qualquer pessoa que usa transporte público é afetada [pelo aumento], R$3,80 é muito alto, baixar a tarifa não afetaria o governo", diz a estudante Isabella, de 16 anos, que participou da ocupação da escola estadual Fernão Dias."Mesmo o aumento da passagem não atingindo os estudantes das escolas públicas, porque agora tem passe livre, a gente veio para apoiar, dar uma força para o ato", explica o estudante Danrlei, de 17 anos e é estudante de uma ETEC estadual.

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Membro do movimento antifascista, o historiador Ed foi ao protesto porque acha importante ações diretas contra o estado, mas que é importante mudar a cabeça do eleitorado. "Acho que tem que fazer barulho para a população abrir os olhos, porque não tem como derrubar um político democraticamente eleito, mas isso aqui é uma forma de educação para a população", diz.

Ed, do movimento antifascista. Foto: Guilherme Santana/VICE

A figura mais inusitada na concentração talvez tenha sido a presença de um membro do clero franciscano. Frei Augustino contou que esse não era seu primeiro protesto contra o aumento da tarifa e outro movimentos que considera legítimos. "O aumento desfavorece a classe mais pobre da nossa cidade, do nosso estado. O evangelho é pelos pobres, a Igreja é pelos pobres. Quem não se incomodar com esses tipos de abuso que os governos fazem, não está vivendo plenamente o que se pede", afirma o frei.

Frei Augustino. Foto: Guilherme Santana/VICE

Além dos jovens, os idosos também colaram metendo bronca: "É um direito das pessoas irem e virem, R$3,80 é um absurdo", afirma Carmen, professora aposentada de 76 anos. Alberico, de 69 anos e companheiro há 44 de Carmen, endossa a opinião dela: "Os aposentados, os velhos percebem que a tarifa zero permite uma mobilidade muito grande. Isso é bom para nós e deveria ser bom para todo mundo. Os jovens devem mesmo não precisar pagar tarifa na catraca, a forma de financiamento tem que ser outra."

O casal de aposentados Carmen e Aberico pede o passe livre para todos os jovens. Foto: Guilherme Santana/VICE

Até as 18h30, quando a galera começou a andar, parecia que seria um ato tranquilo. Como de costume, o MPL não divulga o itinerário, então só dava pra saber até onde ia na hora que você já estava indo mesmo.

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Foto: Guilherme Santana/VICE

Pode parecer que manter o sigilo seja uma tática inteligente para evitar a repressão, mas a primeira confusão já rolou no largo do Paissandu, quando o cordão de black blocs seguiu a esquerda e o cordão de segurança do ato seguiu a direita. Rolou um corre-corre, mas logo o problema foi resolvido e todo mundo desceu pro Viaduto do Chá. Ali, o espaço afunilou e o clima pesou.

Foto: Guilherme Santana/VICE

Foi fechado um dos sentidos da Avenida 23 de Maio para que o ato seguisse em frente, mas teve gente que achou que seria melhor fechar a via toda, nos dois sentidos, para além do cordão de robocops que se formara à esquerda. Uma galera se juntou com os black blocs e começou a driblar os PMs e parar os carros que vinham no sentido contrário. O resultado não podia ser outro: às 19h30 foi solta a primeira bomba pela PM e todo mundo começou a correr dos tiros de bala de bocharra e revidar com pedras. O ato durou 50 minutos.

Foto: Guilherme Santana/VICE

Foto: Guilherme Santana/VICE

De onde eu estava, vi todo mundo voltando pro Viaduto do Chá e outra parte das pessoas subindo o escadão para a estação Anhagabaú do Metrô. Tentei atravessar a nuvem de gás lacrimogênio que se formou na 23, mas não deu e acabei subindo as escadas para tentar enxergar alguma coisa que ficara para trás. Na Rua Xavier de Toledo, cerca de 20 militantes do MPL com uma faixa ainda tentavam reorganizar o que tinha sobrado dos manifestantes perto do Teatro, mas uma multidão chegou correndo, arrastando todo mundo que estava na rua para dentro do Metrô. Uma mulher desmaiou logo no pé da escada da estação e um homem entrou carregado por outros dois com um ferimento no rosto. Tentei sair e voltar para a rua, mas um cordão de PMs estava tomando a Xavier e ficou difícil tentar correr pra qualquer lado.

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Foto: Guilherme Santana/VICE

Quando a situação acalmou, o cenário parecia de guerra. Lixo incendiado no meio das ruas, agências de banco e ônibus quebradas, uma nuvem insistente de gás ainda fazia os olhos arder e ninguém mais sabia onde tinha ido parar o ato. Parte dos manifestantes conseguiu subir até a praça Roosevelt e acabou levando mais tiro. Na avenida Consolação, o bicho continuou pegando e cerca de 100 pessoas conseguiram chegar ao MASP, onde tomaram mais um cacete da polícia.

Até o fechamento dessa matéria, a assessoria de imprensa da PM não liberou informações específicas sobre o ato, mas a Secretaria de Segurança Pública (SSP) informou ao G1 que 17 pessoas foram detidas e três policiais ficaram feridos, além de três agências de bancos depredadas e orelhões e ônibus destruídos no meio das vias.

Foto: Guilherme Santana/VICE

Logo no início da manifestação, perguntei a um representante da PM qual seria a tática da polícia para manter a segurança do ato. "Estamos primeiro tentando dialogar com alguma liderança, mas ninguém se identificou como responsável até agora para a Polícia Militar", respondeu o Major Fedrizzi.

Foto: Guilherme Santana/VICE

Pelo andar da carruagem, o diálogo foi mesmo na base da bala. No Twitter, o governador Geraldo Alckmin afirmou que "A PM agiu e continuará agindo para garantir a liberdade de manifestação e o direito de ir e vir". Dito isso, espero que eu esteja errada, mas grandes chances de que o próximo ato, marcado para a próxima terça-feira (12) também possa dar ruim. É bom ficar esperto.

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Abaixo, mais fotos da manifestação.

Foto: Guilherme Santana/VICE

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