​Por dentro da mais celebrada academia de muay thai de Bangkok
Todas as fotos por Lindsey Newhall/VICE

FYI.

This story is over 5 years old.

VICE Sports

​Por dentro da mais celebrada academia de muay thai de Bangkok

Sitsongpeenong é, acredite se quiser, um lugar agradável.

Minha primeira impressão ao colocar os pés da academia Sitsongpeenong, em Bangkog, é a de lugar agradável. Não é o típico lugar cheio de frescura destinado a turistas estrangeiros. A academia é conhecida por seus lutadores de muay thai de elite e pelo treino pesado. Mas, diferentemente de muitas outras academias de Bangkok especializadas em muay thai, Sitsongpeenong é, de fato, agradável. O complexo aconchegante, com sua mesa à beira da piscina, é brilhante e limpo. Um rápido passeio por suas instalações deixa claro que o local foi muito bem planejado.

Publicidade

Alunos estrangeiros podem viver no local, bem como os locais. O número de estrangeiros varia ao longo do ano, mas raramente passa dos 15. "Temos 10 quartos e quando está cheio, está cheio", diz Tim, o dono do Sitsongpeenong. E é assim que ele quer manter o lugar para não afetar a qualidade do treinamento.

Crédito: Lindsey Newhall/VICE

Crédito: Lindsey Newhall/VICE

Em oito curtos anos desde sua fundação, Sitsongpeenong (que significa "alunos de dois irmãos", referência aos dois filhos de Tim) construiu um nome sólido nacional e internacionalmente com o sucesso de seus lutadores. A academia é também o cenário de Muay Thai Fighter, livro de memórias do autor irlandês Paul Garrigan.

Alunos estrangeiros são uma presença constante na academia, mas poucos ficam mais do que algumas semanas ou meses. Eles de fato contribuem para o lucro da instituição, mas, diferentemente de outras academias que se mantêm quase com os lucros provindos de alunos estrangeiros, a Sitsongpeenong sobrevive graças a seus alunos tailandeses, como os grandes nomes Sittichai e Kem Sitsongpeenong, que lutam com regularidade.

Crédito: Lindsey Newhall/VICE

Crédito: Lindsey Newhall/VICE

Kem, que possui uma academia nas montanhas de Khai Yai com sua esposa e sua família, trabalha com a Sitsongpeenong desde o começo da academia. Quando o dono, Tim, fundou-a em 2008, começou a procurar pelo "melhor treinador e o melhor lutador". O melhor lutador era Kem, cujo contrato foi firmado em 1,2 milhões de bates (aproximadamente US$ 35.000).

Após algumas negociações, Tim comprou o contrato de Kem por 850.000 bates. "Por Kem ser quem é, foi barato", diz Tim. Kem se provou um dos investimentos mais valiosos de Sitsongpeenong, ao manter um bom nome e uma boa reputação, comandando altos investimentos tanto na Tailândia quanto no exterior.

Publicidade

Crédito: Lindsey Newhall/VICE

Crédito: Lindsey Newhall/VICE

O próximo passo para Tim construir a academia perfeita era encontrar o melhor treinador. Desde os 15 anos de idade, Tim viajava anualmente da Tailândia para a Austrália a fim de treinar na Fairtex Gym. Quando chegou o momento de encontrar o primeiro treinador de seu novo empreendimento, sua primeira opção foi um homem mais velho chamado Monlit, que havia treinado Tim desde sua incursão no muay thai 30 anos antes na Fairtex.

Monlit, treinador premiado, era "de nível internacional, um dos maiores treinadores da Tailândia", descreve Tim. Mas Monlit havia há muito deixado o esporte, e não seria fácil convencê-lo de voltar novamente para o muay thai. Quando Tim entrou em contato com o treinador para convidá-lo para a nova academia, Monlit já estava fora da indústria havia 10 anos. Tinha começado um pequeno negócio de venda de galinhas.

Crédito: Lindsey Newhall/VICE

Crédito: Lindsey Newhall/VICE

Para a sorte da Sitsongpeenong, o negócio das galinhas não ia tão bem. "Ele me ligou do nada", lembra Tim. "Disse que estava indo mal com as galinhas." Monlit perguntou a seu antigo aluno se ele poderia ajudá-lo a encontrar algum trabalho fora. Qualquer trabalho, em qualquer lugar. "Eu disse: 'não sei que trabalho você pode fazer. Por que você não faz o trabalho que você nasceu para fazer? O trabalho que você faz bem?'" A princípio, Monlit estava hesitante em voltar para o muay thai, mas Tim insistiu e levou seu antigo treinador para assistir a lutas, lentamente reacendendo nele o amor pelo esporte que havia deixado.

Publicidade

Em dado momento, Monlit concordou. Com um treinador e um lutador de elite, Tim estava pronto e comprometido. "Aluguei uma casa na cidade, uma academia que não estava sendo utilizada, e recrutei alguns lutadores. Foi assim que começamos", diz Tim. Um ano depois, em 2009, Sitsongpeenong foi transferida para seu local atual em Bangkok.

Crédito: Lindsey Newhall/VICE

Crédito: Lindsey Newhall/VICE

O começo não foi fácil. Nos primeiros dois anos, nenhum lucro foi gerado. Na verdade, a academia estava perdendo dinheiro a cada mês, mas Tim e a equipe mantiveram uma atitude otimista e a situação mudou lentamente. Tim investiu mais na academia, contratando mais lutadores e construindo uma boa reputação relacionada a um treino de qualidade. Os lutadores da academia frequentemente venciam lutas em estádios locais, e logo surgiram oportunidades para que seus nomes mais conhecidos, como Kem e Sittichai, competissem fora, fortalecendo sua reputação também internacionalmente.

Mas minha pergunta quando visitei Sitsongpeenong foi: por que esse lugar é tão agradável? Era uma academia de Bangkok famosa por seus grandes lutadores de muay thai, e não local destinado a turistas. E lá estava o seu design de interiores agradável e uma mesa de sinuca. Quantas academias de verdade em Bangkok têm uma mesa de sinuca?

"Eu sabia que não conseguiríamos nos manter exclusivamente com os lutadores, por isso a academia foi construída levando os estrangeiros em consideração", explica Tim. "Queríamos algo agradável."

Publicidade

Se Sitsongpeenong não se mantém apenas com seus lutadores, seria possível para a academia sobreviver exclusivamente do lucro trazido por alunos estrangeiros, então?

Crédito: Lindsey Newhall/VICE

Tim acredita que não. Um negócio baseado em clientes estrangeiros pode funcionar em uma economia diferente, como em Phuket, no sul, ou em Pai, no norte, mas não em Bangkok. Na capital, "o que atrai [os alunos estrangeiros] é poder treinar com os melhores lutadores em um lugar agradável", diz Tim.

"Se não tivéssemos esses lutadores – e os mais novos, que estão construindo um nome nos estádios daqui, porque você precisa construir uma reputação tanto fora quanto na Tailândia –, quem viria treinar aqui? Se não fizéssemos o que fazemos, quem viria treinar aqui? Não estamos em Phuket, onde há praias ao longo da estrada. As pessoas não vêm para cá porque querem ir à praia e sair na noite.

Tim tem uma mente de negócios. A equipe de gerenciamento está constantemente fazendo melhorias: novas vitrines para expor o número cada vez maior de cinturões e troféus, outra ala para acomodar mais lutadores e mudanças menores nos quartos já existentes como novos chuveiros e torneiras. Também há pessoas novas no time, com os lutadores recentemente contratados Petchnongkhai, Yodpayak e Petchwanlop. Tudo para manter o padrão alto pelo qual a Sitsongpeenong é conhecida desde sua fundação.

Siga a VICE Brasil no Facebook, Twitter e Instagram.